O pior ficou para trás para o mercado de máquinas agrícolas? Depois de dois anos com o freio de mão puxado,a expectativa do setor é a de que 2025 deve ser, pelo menos no Brasil, estável para as vendas do setor.
A percepção é feita em coro pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e por grandes empresas do setor, como Case IH e John Deere.
A Abimaq projeta um faturamento de R$ 56 bilhões ao final de 2024, uma queda frente aos quase R$ 75 bilhões vistos em 2023. Em 2022, o faturamento foi de R$ 100 milhões.
"Não vai ser um ano maravilhoso, mas não vai ser uma catástrofe", definiu Pedro Estevão, presidente da comissão da Abimaq, ao AgFeed há algumas semanas.
O fundo desse poço já começou a dar alguns sinais de luz na Agrishow deste ano. Principal feira agrícola do País, e com foco em máquinas, o evento registrou R$ 13,6 bilhões em intenções de negócio, um singelo crescimento de 2% em relação ao visto em 2023.
O recuo em 2024 já era esperado pelo mercado. Em dezembro de 2023, Antonio Carrere, então presidente da John Deere no Brasil, foi um dos primeiros a projetar, com exclusividade para o AgFeed, que o momento era crítico e que os números de 2024 teriam “uma pequena queda”.
Estevão, da Abimaq, atribui a queda no preço de baixa de commodities como soja e milho, vista ao longo de 2023, como principal fator para o setor continuar a derrapar em 2024.
"A seca também foi um forte agravante nessa safra [2023/2024], diminuindo a produtividade e a rentabilidade. Com isso, o produtor não faz o investimento", afirmou.
À frente, a perspectiva, assim como de uma estabilidade maior no preço dos grãos, é que as máquinas acompanhem o movimento.
Duas das maiores empresas do mercado também ancoram a expectativa de um 2025 estável.
Carrere, agora como VP de vendas e marketing da John Deere no Brasil, disse ao AgFeed que “a indústria no Brasil deve estar similar em 2025 ao que foi em 2024".
Outros mercados, contudo, devem sofrer mais em sua avaliação. "Deve haver um recuo grande, de dois dígitos nos Estados Unidos, por exemplo, e na Europa."
Ele evitou, porém, fazer comentários sobre números de vendas e faturamento da John Deere e se limitou a dizer que a perspectiva global da empresa é de que os resultados sigam enfraquecidos ao redor do mundo.
"Nós já projetamos que os resultados de 2025, de forma absoluta, vão ser piores que os de 2024", afirmou ele.
No balanço referente ao ano fiscal de 2024 da John Deere, que corresponde ao período entre novembro de 2023 e outubro de 2024, a empresa registrou uma queda de 30% nos ganhos líquidos (que ficaram em US$ 7,1 bilhões, contra US$ 10,1 bilhões de 2023). As vendas e receitas globais caíram 16% de um ano para cá, totalizando US$ 51,7 bilhões.
Para o ano fiscal de 2025, a John Deere projeta um lucro líquido entre US$ 5 bilhões e US$ 5,5 bilhões, prevendo "condições adversas nos mercados globais". Se confirmado, o número virá 30% menor que em 2024 e 50% menor comparado a 2023.
Já de acordo com Denny Perez, diretor comercial da Case IH no Brasil, o mercado ainda é grande no País, mesmo com as quedas recentes e projeção de estabilidade.
"Apesar de o mercado estar retraído em relação ao ano passado e patamares pré-pandemia, ainda é um mercado de 48 mil tratores por ano. Não é um mercado ruim e nós vamos passar por ele continuando a investir", afirmou Perez.
Avaliando o mercado deste ano, Perez, da Case, avalia que os tratores de menor potência foram os que se mostraram mais resilientes. "Foi um mercado que não caiu e ajudou com que o mercado total de tratores caísse menos do que o de colheitadeiras", diz.
Do mercado atual brasileiro, Perez afirma que a Case tem um share de mais ou menos 10%. Porém, quando levado em consideração grandes clientes, a participação no mercado sobe para 25%. É justamente nessa fatia, que a companhia atua por meio do programa Ag Leaders, que a Case atua.
Segundo Perez, ali estão 280 clientes com mais de 30 mil hectares cada. "Cerca de 18% do faturamento da companhia é originado desses clientes", conta.
"Somos muito focados em atender grandes clientes, até porque é um nicho de mercado que representa grande parte da produção brasileira", afirmou o diretor.