Com expectativa de faturar R$ 13,7 bilhões este ano, a Cocamar garante que a preocupação do momento não é o preço mais baixo das commodities e sim o limite da capacidade de armazenagem na agricultura brasileira, o que está demandando novos investimentos.
O resultado financeiro da cooperativa, uma das maiores do País, deve ficar acima da receita R$11,1 bilhões registrada em 2022.
Neste cenário, a Cocamar, que acabou de completar 60 anos, informou ao AgFeed que investirá R$ 600 milhões com recursos próprios para ampliar a capacidade de armazenagem oferecida aos cooperados.
"Nossa capacidade atual é de 2,3 milhões toneladas, vamos ampliar em 500 mil toneladas em 2023 e mais 500 mil no ano seguinte”, explicou o presidente da cooperativa, Luiz Lourenço.
Ele diz que, na safra que terminou, o déficit de armazenagem na cooperativa foi de 400 mil toneladas. Além de alugar todas as estruturas disponíveis em regiões próximas, Lourenço conta que “tivemos que guardar 150 mil toneladas de soja naquelas linguiças brancas”, referindo-se aos chamados silos bag.
O executivo afirma que o problema ocorreu com a soja e deve se repetir à medida que uma supersafra de milho de inverno está sendo colhida.
"Temos espaço ainda para 1,5 milhão de toneladas de milho, mas acho que de novo não será suficiente”, admite.
Para a safra 2023/2024, Luiz Lourenço afirma que as perspectivas são otimistas em função da ocorrência do fenômeno climático El Niño, que costuma ser favorável ao cultivo de grãos na região Sul, e também pela relação de troca mais favorável ao produtor, quando se compara o preço dos insumos e o valor de venda das commodities.
"Claro que já tivemos rentabilidades muito melhores, mas ainda assim é uma margem boa”, diz Lourenço.
Na região em que atua a Cocamar, especialmente no Paraná, Luiz Lourenço não espera grande avanço de área plantada. "Mas no Brasil certamente vamos manter o ritmo de crescimento, com acréscimo de 1,5 milhão de hectares em soja a cada safra", opinou.
A Cocamar tem sede em Maringá, mas conta 19 mil cooperados e 120 unidades, nos estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás.
Apesar do otimismo com o tamanho da produção, a cooperativa admite que segue preocupada com os gargalos logísticos para o próximo ciclo.
"Praticamente não tivemos venda antecipada de soja 2023/24 até agora", conta Lourenço. Segundo ele, historicamente, no Paraná já deveriam ter fechado negócios para o equivalente a 25% da produção.
O risco, segundo ele, é que se repitam os problemas de falta de armazéns e "congestionamento” nos portos, como foi visto este ano, o que colaborou para prêmios negativos, que derrubaram o preço pago ao produtor.
O presidente da Cocamar participou nesta segunda-feira, 7 de agosto, de um dos painéis do Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela B3 e pela Abag, em São Paulo. O tema era inovação nas cadeias produtivas.
Como Lourenço também preside a chamada Rede ILPF, grupo que fomenta a expansão do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, ele aproveitou para destacar as vantagens desta prática.
"Nosso trabalho é pegar os pastos degradados e transformar em terras produtivas”, explica. Segundo ele, a Cocamar já tem 40% da área, cerca de 1,5 mihão de hectares, com ILPF.
Na visão dele, o ganho não é apenas ambiental, mas principalmente econômico. "Enquanto com pasto você gera R$ 1 mil de faturamento por ano, fazendo a integração com a soja, supera R$ 9 mil”, afirmou.