As empresas de proteína animal têm apresentado um contraste entre os mercados brasileiro e internacional, principalmente quando se trata da margem de lucro. Este cenário aparece nos balanços de Marfrig e BRF referentes ao terceiro trimestre de 2023.

Mas pelas projeções feitas pelos executivos das duas empresas, que são conectadas por terem Marcos Molina como presidente do Conselho de Administração - é o principal acionista da Marfrig, que por sua vez tem a maior fatia das ações da BRF -, o cenário para a rentabilidade nas exportações começará a mudar já no começo de 2024.

O CEO da BRF, Miguel Gularte, revela que já neste final de 2023, os preços dos produtos vendidos nos principais mercado apresentam melhoras, e ele projeta uma retomada dos lucros para a BRF em 2024.

“Entre outubro e este início de novembro, os preços no Oriente Médio subiram entre US$ 150 e US$ 250 por tonelada. Em outros mercados, já percebemos um aumento entre US$ 80 a US$ 100 a tonelada”, conta o executivo.

Ao mesmo tempo em que admite um cenário ainda desafiador no mercado internacional, a BRF acredita que a retomada vai continuar. “Acreditamos que seja algo estrutural, e não pontual. Nossos indicadores apontam nesta direção”, afirma Fábio Mariano, vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da BRF.

No caso da Marfrig, que tem quase metade das suas exportações direcionadas para China e Hong Kong, Rui Mendonça Junior, diretor presidente das operações na América do Sul, fala em maior equilíbrio entre oferta e demanda que vai favorecer os preços.

“O Brasil deve exportar mais carne em 2024 e na China já começa uma movimentação de diminuição de estoques, com elevação das cotações no primeiro trimestre do ano que vem”, afirma Mendonça.

Outra aposta da companhia é na diminuição da “chinodependência”, como descreveu o presidente da Marfrig. China e Hong Kong responderam por 12% da receita líquida consolidada no terceiro trimestre de 2022. Neste ano, esta participação caiu para 7%.

O grande desafio da Marfrig está no principal mercado em termos de receitas, os Estados Unidos. A participação do país na receita líquida total subiu de 37% para 45% em um ano, enquanto o Brasil se manteve praticamente estável, passando de 25% para 26%.

O CEO da National Beef, Tim Klein, afirma que o mercado norte-americano de carnes vai continuar desafiador em termos de preço. E ainda por um bom tempo.

“A demanda tem se mostrado positiva, mas a oferta de gado só deve começar a cair no final de 2025 ou em 2026. Até lá, não devemos ver recuperação significativa nos preços”, afirma Klein.

Estas dificuldades aparecem nos números de margem Ebitda da Marfrig em sua operação na América do Norte. Em um ano, esta margem caiu de quase 12% para 4,4%. Isso enquanto a receita líquida subiu mais de 18% na mesma base de comparação.

Na América do Sul, o cenário é bem diferente. Enquanto a receita líquida apresentou queda de 27% em um ano, por conta das exportações, a margem Ebtida subiu de 9,5% para 11,6%.

Segundo a BRF, a melhora na margem se deve à estratégia de apostar em produtos com maior valor agregado, que resultaram inclusive na diminuição da participação das exportações no faturamento, de 65% para 50% em um ano.

A companhia apresentou prejuízo atribuído ao controlador de R$ 112 milhões entre julho e setembro, revertendo lucro de R$ 431 milhões do mesmo período do ano passado. O Ebitda recuou 32,5%, para R$ 2,5 bilhões.

A BRF já responde por quase 40% da receita líquida superior a R$ 35 bilhões da Marfrig. No Ebitda, a participação chega próxima de 50%.

O mercado internacional também impediu a BRF de ter um resultado melhor entre julho e setembro. Diferentemente da Marfrig, houve queda também na receita líquida, de quase 8% em um ano.

Mas a margem Ebitda do segmento internacional apresentou desempenho ainda pior, saindo de 12,1% para 4,2%. O preço por quilo caiu quase 19%.

No Brasil, as receitas também recuaram quase 4% em um ano. Mas a margem Ebitda ajustada teve comportamento bem diferente, saindo de 7% em 2022 para quase 12% no terceiro trimestre de 2023.

O preço por quilo no mercado nacional também caiu, mas em ritmo mais brando. O recuo em um ano ficou pouco acima de 4%.

Durante a coletiva de imprensa, Gularte destacou os resultados trazidos pelo programa de eficiência de custos da companhia, chamado de BRF+.

De acordo com o balanço, foram R$ 677 milhões capturados por meio de estratégias para diminuir custos com produção e logística.

Quando se olha os custos de produtos vendidos por quilo, a redução total foi de 5,4%. Novamente, o mercado brasileiro impulsionou o desempenho. A redução no Brasil foi de 11,3%, contra 9,7% no segmento internacional. O indicador geral só não foi melhor por conta do segmento pet, que teve aumento de 47,5% no custo por quilo.

Sobre a unidade para animais de estimação, a BRF comunicou na manhã desta segunda-feira, dia 13, que desistiu de vender o segmento, depois de um processo competitivo que começou em fevereiro.

A BRF fechou o terceiro trimestre com prejuízo líquido de R$ 262 milhões, após apresentar perdas superiores a R$ 1,2 bilhão no segundo trimestre. No mesmo período de 2022, as perdas foram de R$ 137 milhões.

O Ebitda ajustado somou R$ 1,2 bilhão, com queda de 13% em um ano. A receita líquida recuou quase 2%, para R$ 13,8 bilhões.