Para a fabricante de máquinas agrícolas John Deere, o ano fiscal de 2024 que se encerrou no dia 27 de outubro passado é daqueles para tentar esquecer. Como já se esperava, foi um período de quedas, nas receitas e no lucro.
Os números divulgados nesta quinta-feira, 21 de novembro, mostraram um recuo de 30% nos ganhos líquidos (que ficaram em US$ 7,1 bilhões, contra US$ 10,1 bilhões de 2023. As vendas e receitas globais caíram 16% de um ano para cá, totalizando US$ 51,7 bilhões.
Então, o que explica o fato de suas ações terem se valorizado mais de 7% nas primeiras horas de pregão em Nova York após o anúncio do balanço anual? O fato de que o mercado esperava uma queda ainda maior.
Somente no trimestre de agosto a outubro, o lucro líquido foi de US$ 1,2 bilhão, ou US$ 4,55 por ação, superando a estimativa dos analistas de US$ 3,89 por ação. A receita do trimestre chegou a US$ 11,1 bilhões, superando a estimativa de analistas de mercado dos EUA que projetavam US$ 9,23 bilhões.
Na comparação anual, o lucro e a receita recuam 47% e 28%, respectivamente. Ainda ssim, ao “bater” o pessimismo do mercado, a Deere levou seus papeis a um patamar que não atingia desde agosto de 2023.
Por segmento, as vendas de máquinas para agricultura e serviços de agricultura de precisão” recuaram 22% em um ano, atingindo US$ 20,8 bilhões.
Nas vendas para pequenos agricultores e equipamentos para gramados, as vendas recuaram o mesmo percentual, e encerraram o ano em US$ 10,9 bilhões. Por fim, a receita dos segmentos de construção e florestal recuaram 12% em um ano, para US$ 12 bilhões.
Mercado e Deere estão alinhados na expactiva em relação ao futuro – ambos concordam que os resultados em baixa devem continuar também em 2025. A John Deere projeta um lucro líquido entre US$ 5 bilhões e US$ 5,5 bilhões para o próximo ano fiscal, prevendo “condições adversas nos mercados globais”. Se confirmado, o número virá 30% menor que em 2024 e 50% menor comparado a 2023.
No segmento agrícola, a retração projetada é de 30% nos mercados dos EUA e Canadá, mas a companhia entende que deve haver uma estabilização na América do Sul.
Assim como foi no terceiro trimestre do ano fiscal, a John Deere tem mostrado que os remédios tomados (demissões e suspensões de atividades em unidades globais), têm ajudado nas contas da empresa.
“Em meio a desafios significativos de mercado neste ano, nós ajustamos proativamente nossas operações comerciais para melhor alinhamento com o ambiente atual”, disse John May, presidente e CEO da companhia, em nota.
“Juntamente com as melhorias estruturais feitas nos últimos anos, esses ajustes nos permitem atender nossos clientes de forma mais eficaz e alcançar resultados fortes em todo o ciclo comercial.”
A crise do setor de máquinas não é novidade e os maus resultados foram colhidos por praticamente todas as principais montadoras. As também gigantes CNH e AGCO registraram problemas semelhantes nos seus números. No último trimestre divulgado, a primeira viu seu lucro cair mais de 40% e a segunda, quase 90% na comparação com os mesmos trimestres de 2023.
Nos EUA, de acordo com a Associação de Fabricantes de Equipamentos, as vendas de tratores agrícolas continuaram em declínio em outubro, caindo cerca de 14% em relação ao ano anterior.
Por mais que as empresas vislumbrem um final desta crise iniciada com o declínio dos preços da commodities, que descapitalizou os produtores por agora, novos elementos entram na jogada global.
A eleição de Donald Trump, por exemplo, coloca um ponto de interrogação no cenário agro americano. O novo presidente já chegou a ameaçar com a imposição de tarifas sobre produtos que a John Deere, caso ela mantenha planos anunciados de transferir linhas de montagem de algumas de suas fábricas para o México.
Ao mesmo tempo, parte do mundo precifica uma guerra comercial entre os EUA e a China mexendo com os mercados agrícolas.
No Brasil, a John Deere tem se movimentado para atravessar a crise. Além de paralisações e demissões, em setembro, anunciou uma reorganização na sua diretoria.
Antonio Carrere, que era o líder da operação nacional e latina, agora tem mais dois pares no comando. Ele ocupa agora o cargo de vice-presidente de vendas e marketing da John Deere para a América Latina, enquanto Cristiano Correia passou a atuar como vice-presidente de sistemas de produção da companhia para a América Latina e Joaquín Fernández como vice-presidente de manufatura da John Deere na América do Sul.