A pandemia de Covid-19 já pode ser considerada um marco na história da humanidade - e o agronegócio, em particular, ainda não deixou completamente para trás seus impactos econômicos.

Um dos segmentos que ainda lida com esses efeitos da Covid é a indústria de defensivos químicos. Os analistas do banco Rabobank elaboraram um relatório explicando porque a pandemia continua afetando as empresas e concluíram que a crise abriu uma brecha para uma mudança estrutural do mercado de insumos agrícolas.

A corrida para estocar matérias-primas, vindas principalmente da China, e o aumento dos estoques de insumos nas revendas não teve efeitos para a cadeia até o segundo semestre de 2022, com os preços dos grãos em patamares historicamente elevados.

A partir da segunda metade de 2022, os problemas começaram. O Rabobank destaca uma parte de seu relatório somente para o Brasil, apontado como um exemplo do desequilíbrio entre crescimento de área plantada de grãos e dos estoques de insumos entre 2022 e 2023.

“Com os preços da soja em patamares elevados, houve um aumento de confiança por parte das empresas, que resolveram aumentar seus estoques em cerca de 30% em 2022 na comparação com 2021. Somente em importação de insumos no Brasil, o aumento foi de 46%”, contam os analistas do banco.

Esse otimismo começou a cobrar seu preço no segundo semestre de 2022, com a forte queda nos preços internacionais da soja e do milho. A indústria e as revendas começaram a baixar suas margens para continuar vendendo.

Os analistas do Rabobank apontam que os problemas financeiros causados por esse desequilíbrio começaram a ser superados no primeiro trimestre de 2024, de acordo com os números apresentados por empresas do setor que têm capital aberto.

“Análises recentes e dados de mercado indicam que regiões mais relevantes do agronegócio estão trabalhando melhor seus níveis de estoques, com os números do primeiro trimestre de 2024 indicando melhoras nesse indicador”, diz o banco.

Por enquanto, o Rabobank não “disparou o alarme” para um possível exagero na recomposição de estoques para 2025.

“Os números de empresas agroquímicas e fabricantes de ingredientes ativos na China indicam que os estoques ainda estavam elevados até o final de 2023 e as vendas ainda não recuperaram sua trajetória média histórica”.

No entanto, o Rabobank faz uma análise mais profunda sobre o momento da indústria de insumos químicos, chamando atenção para outros riscos que se acentuaram por conta da crise dos últimos dois anos.

“O maior risco está no fato de que a indústria vai olhar para estes eventos como uma crise de liquidez já superada. Os últimos anos nos fizeram perceber que a agricultura está em evolução, com nichos de crescimento rápido em sistemas alternativos de produção”, diz o banco no relatório.

Os analistas afirmam que a crise expôs as fragilidades das indústrias de agroquímicos e a gama de novas tecnologias que rapidamente surgem a cada ano podem significar um risco para as empresas.

Mas por outro lado, o Rabobank lembra que os químicos ainda servem como pilar para muitos produtores no mundo. “A habilidade de enxergar a indústria com novas lentes pode trazer muitas oportunidades”.

Na conclusão de seu relatório, o Rabobank afirma que a crise serviu para mostrar que as grandes empresas do setor, como Bayer, Basf, Corteva, Syngenta e FMC, por exemplo, estão tão expostas a crises na cadeia de suprimentos quanto o restante das companhias e que a dependência da China como fornecedora de matéria-prima continua alta.

Neste contexto, a crise abriu uma espécie de “fenda estrutural” no setor, expondo os problemas de equilíbrio entre estoque e demanda e a concorrência dos novos sistemas de produção.

“Esses equívocos cometidos pela indústria de agroquímicos apontam para os desafios estruturais que deverão ser encarados nesta nova era da economia industrial”, afirma o Rabobank.