No mundo da gastronomia, quando um chef desenvolve uma receita que dá certo, outros cozinheiros tentam replicar ou ao menos atingir um resultado próximo. Essa fórmula parece se aplicar também à indústria alimentícia.
A Nestlé anunciou nesta quinta-feira, 20, investimentos de R$ 2,7 bilhões nas suas operações de chocolates e biscoitos no Brasil, recursos que serão aportados até 2026.
A sócia e analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes, indica que o alvo da gigante multinacional é o consumidor de marcas mais populares.
“A Nestlé tem algumas marcas mais premium, que em termos de posicionamento e repasse de preços são interessantes, têm margens melhores. Mas eles sinalizaram que querem atuar mais com marcas de custos mais baixos para o consumidor”, afirma Lopes.
Segundo a analista, este movimento estratégico da Nestlé tem influência da M. Dias Branco, dona de marcas como a Piraquê.
No primeiro trimestre deste ano, a M. Dias Branco apresentou um salto de quase 85% no lucro líquido, e superior a 30% nas receitas líquidas, em relação ao mesmo período do ano passado.
Para os números do segundo trimestre, a XP Investimentos projeta mais um ciclo de crescimento. Segundo os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, a expectativa é de avanço de 10% na receita líquida, e de 7% no lucro líquido, na comparação anual.
A XP destaca que a empresa tem conseguido manter um bom nível de repasse de preços neste primeiro semestre de 2023, com recuperação de margem por conta da menor cotação das commodities agrícolas.
“Além disso, vemos a manutenção dos repasses de preços, custos de insumos mais baixos e maior eficiência no capital de giro e nas despesas gerais como uma combinação poderosa, e esperamos um forte momento nos resultados à frente”, dizem os analistas da XP.
Lopes, da Nord Research, lembra que a M. Dias Branco, que aposta em linhas mais populares, foi na contramão da média do mercado como um todo. “Não houve crescimento quando olhamos para este segmento de chocolates e biscoitos nos últimos anos, e a M. Dias Branco tem conseguido crescer”.
Segundo a analista, esse cenário vai levar a Nestlé a atacar esta parte mais popular da indústria. “Acho que trará uma competição interessante, inclusive em preços. Não é algo que vai acontecer tão rapidamente. Mas no médio, longo prazo, poderemos ver impactos no resultado da M. Dias se eles não adotarem alguma nova estratégia”, projeta Lopes.
A Nestlé afirma que o montante anunciado é três vezes maior que o investido no Brasil nos últimos quatro anos. Segundo a companhia, a área de biscoitos e chocolates no país responde por uma fatia relevante nos negócios globais da multinacional.
Segundo Patricio Torres, vice-presidente de biscoitos e chocolates da Nestlé Brasil, o aporte é uma resposta ao crescimento do mercado. “Apenas nos últimos 12 meses, apresentamos um aumento de 24% na operação, com base na alta demanda no Brasil pelo portfólio de chocolates e biscoitos”.
A empresa pretende modernizar e ampliar as fábricas de Caçapava e Marília, em São Paulo, e em Vila Velha (ES). Esta última pertencia à Garoto, que recentemente teve a aquisição pela Nestlé aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade.