Na última quarta-feira, 26 de julho, o executivo Luiz Andrade, sócio da Condere, empresa especializada em assessorar processos de fusões e aquisições (M&As) estava em Sorriso, no Mato Grosso. Realizava “visitas técnicas” em empresas da região.

Sua presença lá é um claro indicador de uma tendência identificada pela empresa: mais do que nunca, o agro brasileiro está (e continuará estando) no foco de grandes players do segmento lá fora, em busca de bons negócios por aqui.

“O Brasil está preparado para ser um mar de oportunidades para fusões e aquisições”, diz Andrade, líder da área de Agro na empresa. “Os últimos 15 anos do agro brasileiro foram fundamentais para chegar até aqui”.

Na quarta-feira, o AgFeed conversou com Andrade e Paulo Cury, fundador e sócio-diretor da Condere. E eles revelaram que estão com a agenda repleta de contatos para fomentar transações no setor.

Um estudo da consultoria multinacional Kroll mostrou que, de janeiro até junho deste ano, o número M&As dentro do agro brasileiro mais que dobrou em comparação com o ano passado. Foram 25 transações, que somaram mais de R$ 1 bilhão.

Dentre as 661 transações ocorridas em diversos segmentos nesses seis meses, 3,8% eram negócios agro. “Nenhum estrangeiro que quer ser forte globalmente no agro pode ficar de fora do Brasil”, disse Cury.

A Condere é sócia-controladora da holding irlandesa Global M&A Partners. Desde 2021 Cury se tornou conselheiro da Global e virou o responsável pelos negócios da América Latina.

A Global M&As está presente em 35 países e conta com mais de 1,8 mil transações feitas desde 2010. Na Condere, já são mais de 150 transações desde a fundação, que somaram mais de R$ 3,7 bilhões, somando empresas tanto de dentro quanto de fora do agro.

Para Andrade, o ambiente mais favorável aos negócios no agro tem como base fatores como a profissionalização na gestão das propriedades, um avanço do mercado de capitais nesse universo e a especialização de alguns fundos de capital privado, que passaram a gerir fundos especializados no setor.

Segundo a Condere, para os próximos meses e anos, quatro setores estarão na mira de estrangeiros para possíveis fusões e aquisições. São eles: distribuidores de insumos, empresas que atuam com armazenagem, produtores de frutas e distribuidores de pecuária.

O setor de distribuição é o mais visado no momento, segundo os executivos. Segundo Andrade, diferentemente do mercado americano, que é dominado por gigantes como Nutrien e Helena-Agri, o setor aqui é mais pulverizado.

Recentemente, a Condere assessorou um negócio que resume bem o atual clima do setor. A Spaço Agrícola, que atua no mercado de distribuição de insumos no sul e sudoeste goiano, teve o controle adquirido pela mexicana Fertilizantes Tepeyac, dona de 60% do mercado em seu país de origem.

“Essa transação é um marco no segmento de revendas e distribuição de insumos no Brasil, pois representa a entrada da maior empresa mexicana no nosso país”, afirma Cury. O Tepeyac é um grupo familiar com 70 anos de mercado e conta com presença também na Colômbia.

“Outros estrangeiros que conversamos têm interesse em entrar no Brasil. Vamos continuar a puxar essa fila e trazer novos players para cá. Vamos até onde for para achar bons compradores e clientes”, diz.

Além das distribuidoras de insumos, o mercado estrangeiro também está de olho em oportunidades no segmento de armazenagens por aqui. Segundo Luiz Andrade, devem acontecer fusões e aquisições tanto para empresas de armazenagem em si quanto para aquelas que atuam no serviço pós-colheita, avaliando a qualidade do grão e seu valor.

“Esse ano, temos visto milho estocado no chão. Como o preço da soja caiu, os produtores guardaram a soja no silo e, com isso, milho no relento. A infraestrutura do agro na armazenagem vai ter demanda, uma condição inerente ao crescimento do mercado”, comenta o sócio.

O terceiro setor citado pela Condere é o de produtores de frutas, onde a assessoria já tem mandados de venda, ou seja, já busca compradores para companhias brasileiras que acionaram a Condere.

“Temos muitos produtores credenciados a exportar, e é um mercado que vemos que os players estão começando a ter uma participação mais longa na cadeia, indo até o supermercado”, diz Luiz.

Ele vê possibilidades de players que atuam em culturas diferentes se consolidarem. “Um produtor que está na cultura de inverno pode se juntar a um agricultor que produz no verão nordestino, por exemplo”.

Por fim, distribuidores de produtos para pecuária, que estão concentrados no norte do Mato Grosso e no sul do Pará, estão no radar de compradores gringos.

Uma vantagem, segundo Andrade, é que a liquidez desse tipo de produtor é diferente daquele que atua com grãos, já que seu produto, no caso o boi, não possui uma safra de colheita, e está sempre à disposição na propriedade para ser vendido.

Além do mandato para buscar um comprador para uma empresa de frutas, a Condere conta atualmente com mais cinco no segmento agro. Esses negócios devem ser fechados de seis a oito meses, nas projeções dos executivos.