No segundo trimestre do ano safra 2023/24 do setor sucroenergético, período equivalente ao terceiro trimestre do ano calendário de 2023, o mix de produção de açúcar e etanol da Raízen, uma das maiores empresas sucroenergéticas do Brasil, ficou em 56%-44%.
A produção de açúcar da subsidiária da Cosan ficou em 2,9 milhões de toneladas, e a de etanol, de primeira e segunda geração, em 1,4 milhão.
A vantagem do primeiro frente o segundo mostra uma foto do momento, em que o preço mais alto favorece a produção do adoçante. A decisão recente da Índia, um dos maiores produtores globais de açúcar, em diminuir as exportações do produto diminuiu a oferta e aumentou os preços no mercado externo.
No trimestre, foram vendidas 3,2 milhões de toneladas de açúcar, sendo 1,5 milhão próprias e o restante de comercialização. O preço médio foi de R$ 2,4 mil por tonelada.
A receita com o açúcar foi de R$ 9,2 bilhões, 22% acima do visto no ano anterior. Já os renováveis, que incluem o etanol, tiveram receita de R$ 5,9 bilhões, 20% a menos que no ano passado.
As vendas do etanol ficaram em 1,4 milhões de metros cúbicos, sendo 913 milhões de m³ de produção própria e o restante de comercialização. O preço médio foi de R$ 2,9 mil por metro cúbico.
Para o futuro, a dinâmica de como será o mix ainda é incerta. Em coletiva para apresentar os resultados do balanço para jornalistas, o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, comentou que o setor sucroenergético vem aumentando sua capacidade de açúcar, e que se fosse possível, pelo preço atual, produziria ainda mais açúcar.
“É difícil aumentar com rapidez a capacidade [de produção]”, diz. A questão é que a empresa prefere não investir de forma robusta nessa parte do negócio, pois ainda não sabe o horizonte de preço do açúcar no longo prazo.
“A curva do preço do açúcar futuro é de queda. O mercado nos diz que quer açúcar no curto-prazo. Apesar disso, se os preços continuam em patamares muito elevados por mais tempo, a produção naturalmente aumenta”, comentou o CEO.
Ele ainda acrescentou que, para a próxima safra, ainda vê um mix mais favorável ao açúcar, e garantiu que a empresa tem feito investimentos na sua produção, mas pequenos em comparação ao restante. “Acreditamos que vamos continuar a aumentar o mix de açúcar nos próximos anos”.
Como estratégia, a empresa aumentou seu estoque do produto no terceiro trimestre. Ao final de setembro, o estoque de açúcar era de 2,4 milhões de toneladas, 62% acima do que era visto em setembro de 2022.
Segundo Mussa, a decisão não foi feita por problemas logísticos, e sim para privilegiar uma negociação de açúcar na entressafra, onde ele vê um preço melhor.
A questão é que do outro lado, o etanol tem um futuro promissor pela frente. Apesar de a foto do momento mostrar um preço mais desfavorável, a possibilidade de atuar com o etanol de segunda geração e com o produto sendo usado para combustível de aviação e sendo parte importante da transição energética coloca uma luz no combustível.
“O etanol também tem uma demanda crescente, com possibilidade do uso na SAF, químicos e uma penetração ainda maior no mercado local. O etanol de milho também veio para trazer mais volume, mas hoje o açúcar paga mais. O que pudermos fazer para maximizar os ganhos vamos fazer, mas sem deixar de atender o etanol”, comentou Mussa.
O etanol de segunda geração (E2G) envolve até o momento seis unidades de produção em construção em simultâneo na Raízen e, segundo o executivo, os investimentos têm sido feitos com cuidado, sem prejudicar o balanço da companhia.
“Temos mais demanda [de E2G] do que podemos atender e os prêmios são muito bons. Se não houvesse uma limitação de pessoal e de recurso, estaríamos construindo mais plantas. Olho esse negócio com boas margens e um bom futuro. Queremos fazer mais, mas precisamos de pé no chão”, completou o executivo.
O trimestre da Raízen
O lucro líquido ajustado da Raízen foi de R$ 181,3 milhões no segundo trimestre do ano safra 2023/24. No mesmo período em 2022, o resultado havia sido de R$ 1,1 milhão.
Sem ajustes, ou seja, numa leitura contábil, o lucro foi de R$ 28,4 milhões, revertendo prejuízo de R$ 933,5 milhões no ano passado.
"No período, temos o efeito da mudança de comportamento sazonal das margens, menor volatilidade do ativo biológico e a alta dos juros no período", explicou a Raízen em seu balanço.
A Raízen atribui o resultado à evolução do desempenho operacional e geração de margens. Na leitura contábil, o crescimento do lucro da companhia consolidado em um ano foi de R$ 28,4 milhões ante R$ 933,5 milhões negativos apurados, sem ajustes, no terceiro trimestre de 2022/23.
"No exercício, temos o efeito da mudança de comportamento sazonal das margens, menor volatilidade do ativo biológico e a já mencionada alta dos juros no período", justificou a empresa em nota.
Em relatório, o analista Leonardo Alencar, da XP, pontuou que o trimestre veio em linha com as expectativas da corretora. Segundo ele, a dinâmica de renováveis e açúcar permanece positiva, mesmo considerando os preços mais elevados de açúcar compensando as vendas mais baixas de açúcar e etanol.
“Em ambas as frentes, ainda vemos espaço para surpresas positivas no médio e longo prazo, o que deve se somar ao ramp-up da nova planta de etanol de segunda geração (E2G) e levar a um provável ponto de inflexão na queima de caixa da Raízen”, afirmou Alencar.
A receita líquida total da Raízen no período bateu R$ 59,5 bilhões no trimestre encerrado em setembro, 7% menor na comparação anual. O grande influenciador da arrecadação foi o segmento de Mobilidade, que envolve a operação dos postos Shell.
O faturamento operacional líquido dessa área foi de R$ 45 bilhões, 19% menor que no ano passado.
De acordo com Alencar, da XP, o segmento de Mobilidade apresentou uma recuperação forte. “A recuperação da margem é uma estratégia bem-vinda em Mobilidade, com uma recuperação sólida nos resultados devido a uma melhor condição de mercado de oferta e demanda”, disse.
Segundo ele, o foco da Raízen em fornecer combustíveis da Petrobras no segundo trimestre deste ano (primeiro do ano safra 2023/24) levou a empresa a apresentar desempenho inferior aos pares e reportar resultados ruins, avaliando que a companhia não foi capaz de originar combustível a preços competitivos.
“Porém, as condições de mercado mudaram e a estratégia da companhia de focar no fornecimento de Petrobrás vem se mostrando assertiva, o que trouxe uma margem de R$ 190/m³ no Brasil no trimestre”, acrescentou o analista. A margem no ano anterior era de R$ 51 por metro cúbico, e no último trimestre deste ano, de R$ 63 por m³.
No segmento de Mobilidade, uma das grandes estrelas é o Oxxo, fruto da joint venture da companhia com a Femsa, que também cuida das lojas Select. Atualmente são mais de 1,6 mil lojas, com 380 do Oxxo e o restante da Select, que ficam nos postos Shell.
O segmento está em “ritmo de expansão contínua”, segundo o CEO, que garantiu que a empresa estuda expandir as lojas de conveniência para o interior paulista e também para a baixada santista. “É quase uma nova loja por dia. O modelo se mostrou viável, e as lojas maturam antes do que prevíamos”, disse.
Essa estratégia de diversificação de negócios foi apontada como Mussa como um exemplo a ser seguido no futuro pela Raízen. Indagado sobre a possibilidade de renovar portfólio, ou seja, vender ou comprar ativos, ele sinalizou que a Raízen busca transações que aportam um novo conhecimento.