O investidor que parar para ler o balanço referente ao primeiro trimestre da Minerva vai se deparar com um bottom line negativo.

A empresa encerrou os três primeiros meses de 2024 com um prejuízo líquido de R$ 186,2 milhões, revertendo o lucro líquido de R$ 113,9 milhões anotado um ano antes.

A leitura completa do documento, divulgado ao mercado na noite de quarta-feira, 8 de maio, mostra, entretanto, um cenário operacional mais positivo do que o resultado líquido final do trimestre.

Aproveitando um ciclo bovino positivo no Brasil e na América do Sul, a empresa alcançou um número recorde de abates no País no trimestre. Ao todo, o abate da Minerva totalizou 1 milhão de cabeças no trimestre, aumento de 23% na comparação com o mesmo trimestre em 2023.

No período, a empresa vendeu 364 milhões de toneladas, 20% a mais do que no ano anterior. No final do trimestre, a receita líquida da companhia atingiu R$ 7,18 bilhões, mostrando um aumento de 12% frente ao mesmo trimestre em 2023.

Em teleconferência com analistas na manhã da quinta-feira 9, o CEO da Minerva, Fernando Queiroz, afirmou que o mercado global segue promissor pelo desequilíbrio entre oferta e demanda. O ciclo negativo nos EUA, que segundo ele, ainda deve durar pelo menos dois anos. “Além do abate recorde no Brasil, a disponibilidade segue firme e promissora”, disse.

A receita do trimestre veio acima do esperado por Leonardo Alencar, analista da XP. Em relatório, ele pontuou que o aumento nos abates foi fundamental para o avanço, mesmo com uma margem Ebitda de 8,8% em linha com o esperado.

Das 346 mil toneladas vendidas, 203 mil foram para o mercado externo e o restante ficou no Brasil. Os números vieram 14,8% e 22,9% acima do registrado um ano antes. De acordo com Queiroz, a Minerva é líder do mercado de exportação no continente, com 20% de todas as vendas para fora.

“O desempenho da Minerva no mercado externo foi sólido, mas o mercado interno ganhou os holofotes no trimestre, uma surpresa bem-vinda que deve explicar parcialmente a melhora do capital de giro”, afirmou Alencar, da XP, em relatório.

O prejuízo anotado no trimestre foi decorrente, de acordo com a empresa, por um “efeito não-caixa da variação cambial". A Minerva pontuou no seu balanço que, se esse efeito não fosse considerado, o resultado líquido no trimestre alcançaria aproximadamente R$ 79,8 milhões positivos.

Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos, afirmou que mesmo com a dinâmica positiva de abates e volumes, a questão cambial e a inflação pressionaram o lucro e o faturamento, pesando no resultado.

Além disso, ele destacou que a empresa aumentou suas despesas financeiras por conta de uma alta na dívida total.

Ao final do trimestre, a dívida líquida estava em R$ 8,9 bilhões, 16,7% acima do mesmo trimestre do ano anterior e levemente acima dos R$ 8,8 bilhões vistos no final de 2023.

“As margens ficaram em linha com nossas estimativas, reforçando o resultado neutro reportado”, afirmou Serra.

Mesmo diante dos bons resultados operacionais de curto-prazo, o grande ponto de incógnita quanto à Minerva segue sendo a aprovação ou não da compra dos ativos da Marfrig por parte do CADE.

Em agosto passado, a Minerva anunciou a compra de 16 plantas de abate e desossa da Marfrig na América do Sul e um centro de distribuição por R$ 7,5 bilhões. São 11 plantas no Brasil, três no Uruguai, uma na Argentina e uma no Chile. A expectativa é que a produção da empresa aumente em 50% com as plantas incorporadas.

Essa indefinição na área regulatória da concorrência deixa o mercado financeiro e os analistas que acompanham a empresa ainda receosos em projetar o futuro dos papéis da empresa.

“Apesar do bom desempenho operacional e das perspectivas positivas para o ciclo do gado, até que a agência antitruste brasileira aprove as aquisições das plantas da Marfrig, o mercado permanecerá indiferente aos resultados de curto prazo”, afirmou Leonardo Alencar, da XP, em relatório.

Nesta quinta, as ações da Minerva negociadas na B3 abriram o pregão em queda. Por volta das 10h30, o papel BEEF3 apresentava uma desvalorização de 2%, cotado a R$ 5,96. No ano, a ação da empresa recua mais de 18%.