O empresário Ricardo Faria tem seu nome associado a um dos maiores negócios avícolas do País. Agora, passa a integrar a lista dos maiores produtores de grão. Neste terça-feira 11 de dezembro, ele apresentou dados apontando que suas empresas agro devem somar, este ano, cerca de R$ 5 bilhões em faturamento, com crescimentos relevantes.
“230 mil maracanãs ou quase quatro vezes a área do município de São Paulo”. Essas foram as analogias usada por ele, por exemplo, para dar a dimensão da área que uma de suas empresas, a Insolo Agroindustrial, vai plantar na safra 2023/2024.
Além de impressionar por já colocar a companhia como uma das maiores do país em área de cultivo, os 230 mil hectares anunciados por Faria se destacam pela rapidez com que ele chegou lá. Ele começou a investir no negócio agrícola através da Terrus, do Grupo Granja Faria, apenas em 2019.
Se comparada apenas com a safra 2022/2023, em que foram cultivados 140 mil hectares, o crescimento foi superior a 60%. “Saímos lá dos 40 mil hectares em 2020 para os atuais 230 mil”, disse Faria em um encontro com jornalistas.
“Compramos empresas, mas aquisição da Insolo foi transformacional”, afirmou. A empresa era controlada pela IPA Investimentos e Participações Agrícolas, arrematada em novembro de 2020, por R$ 1,8 bilhão.
A IPA, por sua vez, fazia a gestão de recursos aplicados pela tradicional Universidade de Harvard. Somava, na época, cerca de 70 mil hectares de área cultivada. Segundo Faria, em 2021 os gestores da universidade decidiram retirar seus investimentos do país em função da instabilidade política e do posicionamento ambiental do governo Bolsonaro.
O empresário viu aí uma oportunidade imperdível. “Fechamos o negócio em três dias”, disse. “Sempre soubemos fazer M&As, já fiz mais de 80”, contou.
Os 230 mil hectares desta safra representam a soma de 150 mil hectares com soja, 50 mil com milho e 30 mil com sorgo, incluindo, assim, safra de verão e safrinha. Como muitas outras empresas agrícolas, o atraso no plantio da soja, que cresceu também mais de 60%, foi determinante para a decisão de reduzir a área de milho.
“O Brasil deve perder 20 milhões de toneladas de milho frente ao ano passado”, previu. “O mercado interno terá que pagar preços maiores pra competir com exportações”.
Com mais área plantada, Faria estima também faturamento maior, embora em uma proporção um pouco menor. Segundo ele, a Insolo deve ter receita de R$ 2 bilhões no ano safra 2023/2024, uma elevação de 40% frente ao período anterior.
Além do investimento na ampliação de cultivos, o grupo avalia aportar recursos na verticalização, para dar eficiência logística para suas operações. “A Insolo avalia possibilidades de ter seu próprio terminal, berço e ship loaded, uma Iniciativa só nossa, sem parceiro”, afirmou.
O financiamento poderia, segundo Faria, ser feito via clientes, “que têm interesse nisso”. A opção seria pelo porto de Itaqui, no Maranhão, mais próximo das áreas de produção da Insolo, em Tocantins e no Piauí.
“Acho que em 10 anos esse porto será o maior hub de exportação de grãos do Brasil”, disse.
Também é avaliado investimentos em transição energética, através da produção de etanol, biodiesel e biodiesel de segunda geração. “Por que usar petróleo se temos uma Arábia Saudita aqui dentro?”, indagou.
Segundo Faria, nessa área a empresa busca um sócio e já há duas conversas em estágio inicial. “Temos domínio da região e da produção, mas não temos do consumidor e da distribuição. Um sócio, nesse sentido, seria estratégico. Não seria um fundo, mas efetivamente seria para a construção de uma usina”.
Para Faria, esse movimento seria feito com olhos na “Insolo no futuro”. Ele lembrou que, há 15 anos, quando os americanos pegaram milho pra etanol, “os céticos diziam que a cana era mais competitiva”. Hoje, afirmou, descobriu-se que não.
“O etanol de milho é mais competitivo que o de cana, pois gera GGDS, base da alimentação bovina. Assim, fechou a cadeia. Se a frota americana de aviões migrar 70% pra SAFs (sigla em inglês para combustível sustentável de aviação), nós precisamos de uma safra brasileira inteira”.
Recorde na Granja Faria
No negócio que deu origem ao grupo, a Granja Faria, o empresário comemorou aquele que, segundo disse, foi o “maior ano de crescimento”. Com duas aquisições estratégicas - a BL Ovos e a Granja Katayama -, a empresa reforçou posições e conquistou lideranças em mercados como Espirito Santo e Bahia, no caso da primeira, e São Paulo, na segunda.
A empresa também concluiu uma etapa de crescimento orgânico dentro das plantas já existentes, que passaram a somar 1 milhão de aves. “Foi um ano importante, nos consolidamos como a maior empresa do setor no Brasil. No balanço não há mais dúvida”.
Segundo Faria, ao final de 15 aquisições, o Grupo Granja Faria atingiu o objetivo de ter 10% do mercado brasileiro de ovos. “E com oportunidades de crescimento pela frente, por meio de aquisições. Tem que ser, pois a curva de aprendizagem numa granja é cara”. O plano de Faria é chegar a 25% em dez anos.
O faturamento da empresa deve chegar perto de R$ 3 bilhões em 2023, dobrando em relação ao ano passado. A produção bateu em 16 milhões de ovos por dia.
Hoje, essa receita é oriunda de quatro verticais, que vão dos ovos e seus derivados, a fertilizantes orgânicos. Listada na B3, a Granja Faria não negocia ações. A presença na bolsa foi feita, segundo o empresário, para melhorar a governança.
“É algo importante pra nós, para os clientes e os bancos. Hoje tem mais banco batendo na nossa porta interessado na negociação de ações do que nós na deles. Aliás, batemos zero”, afirmou.
No futuro, disse, espera manter-se fiel ao DNA de fusões e aquisições, sempre utilizando o recurso de troca de ações, em que os donos das empresas incorporadas passam a ser acionistas da Granja Faria e suas marcas continuam existindo.
“Se olharmos pela perspectiva de vaidade, deveríamos unificar as marcas nacionalmente. Pela perspectiva de fluxo de caixa e percepção do consumidor de ter o mesmo produto há 80 anos, as marcas devem continuar independentes. É o que faremos”, disse.
E 2024, será tão bom quanto 2023? Ele afirmou que projeta para o próximo ano um período de custos mais altos, se comparados aos do segundo semestre de 2023, que foi, segundo disse, de margens históricas.
Para Faria, ainda assim o viés positivo continua, mas “com menos emoções”. “Não se acha uma BL e uma Katayama por aí, mas a procura continua”.