Em uma tradução livre do holandês, Melkstad significa algo como “cidade do leite”. Colonizado por imigrantes vindos dos Países Baixos, o município de Carambeí, na região paranaense dos Campos Gerais, pode se denominar assim.
Ali fica um dos principais centros de pecuária leiteira do País e algumas das propriedades rurais que são referência nacional na atividade. A Fazenda Melkstad é o destaque entre elas, uma verdadeira cidade do leite encravada em 1,4 mil hectares.
Há pouco mais de um mês, a propriedade comandada por jovens descendentes de holandeses registrou um marco para a atividade no Brasil. A Melkstad atingiu a produção de 100 mil litros de leite em um único dia.
Foi a maior litragem da empresa em 12 anos de história, que começou com 50 vacas em uma área arrendada e hoje figura entre as três maiores do País, ao lado da Fazenda Colorado, de Araras (SP), e o Grupo Sekita, de São Gotardo (MG), segundo levantamento do site especializado MilkPoint.
Diogo Vriesman, um dos cinco sócios, lembra com clareza do primeiro dia de operação, quando foram extraídos 800 litros.
"É o registro da nossa primeira entrega, em 8 de março de 2012", lembra, em conversa com o AgFeed.
Desde então, a Melkstad tem multiplicado anualmente a produção, ora através de aquisições, ora trabalhando na melhoria da gestão pecuária para incrementar a produção de leite por animal.
Logo no primeiro ano de trabalho, por exemplo, o plantel da empresa aumentou de tamanho em cinco vezes. "Em 2013, compramos um rebanho, arrendamos a propriedade da pessoa que nos vendeu e chegamos a 250 animais em lactação", conta Vriesman.
Os investimentos não pararam e, no ano seguinte, a Fazenda iniciou a construção da atual sede em um terreno adquirido por um de seus sócios. "Em 2015, nos mudamos para a nossa sede e já tínhamos 300 vacas em lactação. Na época, já produzíamos por dia uma média de 8,5 mil litros de leite", detalha um dos sócios.
"Fomos comprando animais, multiplicando o rebanho e encerramos a compra há cinco anos. A partir daí, o crescimento tem sido orgânico", observa.
Hoje, o rebanho é de 4,7 mil cabeças, com 2,6 mil vacas adultas, nas quais 2,2 mil delas estão em lactação. Entre bezerros e novilhas, a fazenda tem 2,1 mil cabeças.
A marca de 100 mil litros de leite, alcançada pontualmente em maio, não foi, assim, fruto apenas do tamanho de rebanho. Nos últimos cinco anos, o foco da gestão da Melkstad, que conta com uma equipe de 145 pessoas, entre eles médicos veterinários, agrônomos e zootecnistas, tem sido em aumentar o desempenho de cada animal.
Um dos focos tem sido a nutrição das vacas. Além da área de 18 hectares onde é produzido o leite, a fazenda conta com 1,4 mil hectares de lavoura arrendada de onde sai o "pulo do gado" da produtividade dos animais.
De acordo com o sócio da Melkstad, a produtividade média perto de 45 litros de leite por dia vem de uma boa alimentação e do bem-estar dos animais, que são 100% confinados, de bezerro à fase adulta.
"Na lavoura, produzimos a comida dos animais, sendo silagem de milho no verão e silagem de aveia durante o inverno. Temos uma área perene com alfafa e tifton e suplementamos a alimentação com ração", explica Vriesman.
A alimentação do rebanho também é responsável pelo maior custo do negócio, cerca de 60% dos gastos totais. Ele acrescenta que a fazenda adota a integração lavoura-pecuária, como também toda uma rotina para o melhor conforto do gado.
"Nos preocupamos com tudo, desde a cama dos animais, passando por um resfriamento da hora da ordenha. Mantemos em dia toda a parte de vacinação e a hora certa para cada atividade", diz.
O avanço da tecnologia nos últimos anos tem sua participação na boa produção de leite. A ordenha é robotizada e a tiragem diária é acompanhada de perto pela empresa, na palma da mão, por meio de sistemas automatizados e de aplicativos.
Toda a produção é entregue à Cooperativa Agroindustrial Frísia, uma das maiores do País. A Frísia faz parte da intercooperação de lácteos Unium, que ainda integra as cooperativas Castrolanda e Capal. Juntas, as três captaram 1,5 bilhão de litros de leite em 2023, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite).
Segundo o último levantamento do IBGE, em 2022, o Brasil produziu 34,6 bilhões de litros de leite. Minas Gerais e Paraná lideraram a produção, com o rebanho paranaense gerando quase 4,5 bilhões de litros naquele ano.
Crescimento anual
O pico de 100 mil litros diários foi uma conquista isolada, mas não está muito distante de se tornar rotina na MelkStad. Diogo Vriesman relata que a fazenda produziu em média 95 mil litros de leite em maio e 97 mil litros em junho, média que a colocaria na primeira posição do ranking nacional do setor.
A média diária de 100 mil litros, segundo ele, deve ficar para 2025. O pecuarista explica que, recentemente, a fazenda vendeu 80 vacas em um leilão, gerando um leve impacto na produção dos próximos meses.
"A nossa meta para o ano que vem é chegar novamente aos 100 mil litros e manter, que é o principal desafio. Não pensamos produzir muito acima disso porque essa é a nossa capacidade, trabalhar com até 5 mil animais", reforça o produtor.
Sem abrir cifras, o sócio da Melkstad calcula que o faturamento da empresa cresce de 10% a 15% ao ano.
Todo o trabalho com os animais gera um bônus na hora de receber o valor por litro. O preço pago atualmente na região é de R$ 2,60 por litro, variando conforme as condições de mercado.
Vriesman comenta que a Melkstad ganha acima disso pelo manejo com animais e pela ordenha ser direta no caminhão da cooperativa. "Temos esse adicional de preço na ordenha porque não armazenamos leite. Não temos esse custo", ressalta.
Sem planos de investimento financeiro, o sócio da Melkstad acrescenta que os planos da empresa é também manter o mesmo grupo de trabalho. "O nosso sucesso se deve às pessoas que trabalham aqui. Queremos vê-las felizes", pontua.