Pela primeira vez em pouco mais de um ano de gestão, o CEO da Bayer, Bill Anderson, pode falar de resultados positivos. O executivo durão, que não mede palavras para expressar seu descontentamento, desta vez suavizou o discurso na divulgação dos resultados trimestrais da companhia alemã, nesta terça-feira, 6 de agosto.
Com os números vindo um pouco acima das estimativas dos analistas, o grupo atingiu 11,1 bilhões de euros de receita – na média, o mercado esperava algo em torno de 10,9 bilhões de euros.
O resultado é 3,1% superior ao obtido no segundo trimestre do ano passado, um crescimento modesto, mas crescimento. Os lucros vieram menores, com um Ebitda de 2,11 bilhões de euros, inferior em 16,5% ao ano anterior.
Mas suficiente para a empresa manter sua previsão de lucros de um ano com resultado positivo na linha final do balanço.
Um ponto destacado por Anderson no release divulgado pela Bayer foi o fato de a contribuição para a melhora dos resultados ter vindo das diversas frentes de negócios da companhia.
A maior margem veio da divisão farmacêutica, que obteve um impulso de vendas graças sobretudo à crescente demanda por alguns de novos medicamentos para câncer e para tratamento renal.
Mesmo com desempenho não tão expressivo, a divisão agrícola mereceu destaque no título (“Desempenho modesto em ambiente desafiador de mercado agrícola”) e nas primeiras aspas de Anderson citadas no documento (“Nosso negócio Crop Science quase compensou os ventos contrários em um ambiente desafiador de mercado agrícola”).
As receitas do segmento, de quase 5 bilhões de euros no trimestre (1,1% acima do mesmo período no ano passado), também vieram além das expectativas.
A surpresa maior decorreu do fato de que uma boa parte do desempenho ter sido sustentado por um produto visto como controverso: o herbicida Roundup, à base de glifosato.
O produto, que tem sido causa de uma série de processos com custos bilionários para a companhia, teve forte demanda de agricultores nos Estados Unidos, justamente o país que concentra a maioria dos embates jurídicos.
Com isso, a párea de herbicidas vendeu 8,7% a mais que no mesmo trimestre de 2023. Outra área com alta significativa de vendas foi a de sementes e tratamentos para soja (12,4%), também com participação importante dos agricultores norte-americanos.
Nos inseticidas, o crescimento foi de 6,9%, mas houve queda de 12,4% nas receitas com fungicidas e de 2,8% nas de sementes e tratamentos para milho.
Em ambos os casos, volumes e preços inferiores nas Américas do Norte e Latina foram as justicativas da empresa para esse resultado.
A tesoura continua afiada
O resultado animador deu confiança a Anderson para manter seu esforço para reconquistar a confiança dos acionistas e deixar mais distantes as pressões por uma eventual cisão das três áreas de negócios – além da farmacêutica e a agrícola, a Bayer possui uma divisão de Consumer Health.
Ele citou avanços obtidos desde a mais recente assembleia com acionistas, em março passado, para demonstrar que sua estratégia tem trazido resultados.
“Um dos compromissos centrais que assumimos no Capital Markets Day é que esta organização terá um desempenho consistente e, ao mesmo tempo, abordará os obstáculos de longo prazo que nos impedem”, afirmou. “Os 154 dias desde 5 de março foram uma boa evidência de que podemos fazer as duas coisas.”
Exemplo disso, segundo ele, é a introdução do modelo operacional batizado de Dynamic Shared Ownership (DSO), que reduziu níveis intermediários de gestão e ampliou as responsabilidades de trabalhadores de níveis inferiores.
Esse processo resultou, somente este ano, na demissão de 3.200 trabalhadores. “Em comparação com o mesmo período do ano passado, tivemos uma redução de cerca de 10% em funções de oficiais seniores. Isso é algo como as 300 principais pessoas”, disse Anderson em uma conferência telefônica com jornalistas.
“Isso continuará a reduzir ainda mais”, informou, mantendo o discurso sincero. A meta da Bayer é atingir uma economia de € 500 milhões neste ano e de € 2 bilhões até 2026 com a redução de custos.
Para Anderson, a empresa está no caminho certo. E o mercado concordou. Na manhã desta terça, as ações da empresa da Bolsa de Frankfurt eram negociadas em alta de até 1,4%. Não é muito, mas é um alívio para os investidores, que viram os papeis desvalorizarem 48% nos últimos 12 meses.