Em janeiro passado, a ADM (Archer Daniels Midland), gigante global do setor de alimentos, se viu em meio a um escândalo envolvendo inconsistências contábeis em seu balanço.

O então diretor financeiro, Vikram Luthar, foi afastado do cargo, os papeis da companhia chegaram a cair 20% em um só dia na Bolsa de Nova York e investidores entraram com causas contra a empresa na Justiça americana, que passou a investigá-la.

Passada a tormenta inicial, a ADM agora informou que vai revisar todos os relatórios da de 2023, após conversas com a SEC, órgão regulador americano similar à CVM no Brasil.

A companhia identificou inconsistências na forma de contabilizar vendas entre diferentes segmentos da empresa, mas disse que as diferenças de valores não chegam a impactar os resultados do ano passado.

Ainda assim, a companhia resolveu adiar sua teleconferência sobre os números do terceiro trimestre, agendada para esta terça-feira, 5 de novembro, para uma data ainda indefinida, até que revise todos os números.

"A ADM está trabalhando para concluir essas reformulações o mais rápido possível", informou a companhia, ao divulgar seus resultados preliminares do terceiro trimestre de 2024.

Os resultados preliminares do terceiro trimestre não foram bons. O lucro líquido foi de apenas US$ 18 milhões, enquanto que o lucro ajustado foi de US$ 530 milhões.

Com isso, o lucro por ação foi de US$ 0,04 e o lucro ajustado por ação foi de US$ 1,09, ambos abaixo do mesmo período do ano anterior.

O retorno médio sobre o capital investido (ROIC) atingiu 6,6% e retorno ajustado foi de 8,8%. O fluxo de caixa das operações acumulado até setembro foi de US$ 2,468 bilhões, ante US$ 3,804 bilhões no mesmo período do ano passado.

“Nossos resultados operacionais do terceiro trimestre foram mistos em um trimestre desafiador para os negócios”, disse o presidente do conselho e CEO da ADM, Juan Luciano.

Com as incertezas externas e desafios operacionais internos, a ADM agora espera ter um lucro por ação numa faixa entre US$ 4,50 e US$ 5.

A Bolsa de Nova York reagiu mal aos números e às informações de que os resultados anteriores serão revisados. Por volta das 13h20 (do Horário de Brasília), as ações da ADM na NYSE recuavam 7,78%, cotadas a US$ 51, ante US$ 55,75 no pregão anterior.

A ADM não trouxe um número fechado de lucro operacional, mas apenas por segmentos, que apresentaram queda generalizada.

O maior recuo veio do segmento AS&O (serviços agrícolas e oleaginosas), o de maior relevância, que recuou 43% no terceiro trimestre, atingindo US$ 480 milhões.

Dentro desse segmento, o pior resultado foi da área de produtos refinados e outros (RPO), que recuou 63% entre julho a setembro deste ano, impulsionado principalmente por resultados mais fracos na América do Norte, com margens de refino e biodiesel limitadas por maiores importações de óleo de cozinha usado e maior capacidade de pré-tratamento, segundo a companhia.

Na sequência, vem a sub-área de Serviços Agrícolas recuou 53%, devido aos custos logísticos mais altos na América do Sul, que apertaram as margens, segundo a ADM.

Já o sub-segmento de Esmagamento recuou 25%, com movimentos diferentes: as margens globais de esmagamento de soja foram maiores, mas os preços mais altos da semente de canola, devido à menor oferta na Europa, levaram a margens menores de esmagamento do grão.

O segmento de Nutrição, por sua vez, registrou lucro operacional de US$ 105 milhões, recuando 19% na comparação com julho a setembro do ano passado.

A área de Soluções de Carboidratos registrou lucro operacional de US$ 452 milhões, uma queda de 3% em relação ao mesmo período de 2023.

Já a divisão de Outros Negócios, que inclui seguros, registrou um prejuízo operacional de US$ 17 milhões, queda de US$ 63 milhões em relação ao ano anterior.