Bem-estar animal, rastreabilidade, monitoramento. Esses termos são cada vez mais utilizados quando se fala de boas práticas na pecuária bovina, tanto de corte quanto de leite.
Delair Bolis, presidente da MSD Saúde Animal para Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia, cita frequentemente os três termos em entrevista exclusiva ao AgFeed. A empresa é mais conhecida por desenvolver vacinas e medicamentos para animais e, na pecuária, é muito forte no segmento de bovinos.
Mas o executivo revela que a empresa, unidade global para o mercado veterinário da multinacional farmacêutica alemã Merck & Co., tem registrado crescimento expressivo com serviços de tecnologias para monitoramento animal. E vê neste segmento, de trajetória recente na companhia, um grande potencial para ganhar mercado.
“Em 2023, tivemos um aumento de 93% nas vendas em monitoramento animal, além de 19% de crescimento em serviços de tecnologia como um todo. Em 2024, estamos com um avanço de 40% em monitoramento até agora, ante o ano passado”, conta Bolis.
Ele complementa contando que a central de atendimento da MSD registrou um aumento de vendas das soluções de identificação de 3,5 vezes entre os meses de janeiro e junho deste ano, sem contar aquelas realizadas pelo time que está no campo.
No ano passado, em entrevista ao AgFeed, Bolis ressaltou que os produtos de tecnologia da MSD já geravam R$ 100 milhões em receitas no Brasil, dentro de um total próximo de R$ 2 bilhões em faturamento no País.
Os novos números específicos para esta área devem ser divulgados em breve. Mas, a indicar pelos percentuais antecipados pelo executivo, devem se aproximar dos R$ 120 milhões.
Nesta terça, 30 de julho, a Merck & Co. divulgou seus resultados globais referentes ao segundo trimestre de 2024. Na unidade de Saúde Animal, que inclui animais de estimação e de criação, as vendas cresceram 2% em um ano, para quase US$ 1,5 bilhão.
Os produtos voltados para animais de criação, especialmente bovinos e aves, foram os grandes responsáveis por esse avanço na unidade de negócios. As vendas subiram 4% entre abril e junho de 2024, na comparação com o ano passado, para quase US$ 840 milhões.
Nos últimos anos, a MSD investiu US$ 4 bilhões em aquisições de empresas de tecnologia. Atualmente, em todo o mundo, possui 24 unidades para a produção de estruturas para monitoramento animal, atendendo mais de 100 países em todos os continentes. No Brasil, a companhia também oferece produtos para aquicultura e animais de estimação.
O avanço dos serviços de tecnologia é rápido e começa a mudar o balanço de receitas da empresa por aqui, além de posicionar a MSD para atender novas demandas do mercado da pecuária bovina por rastreabilidade e sustentabilidade .
O marco para a empresa no Brasil, dentro do segmento de pecuária de leite, foi a aquisição da Allflex, em 2019. “Nós tínhamos cerca de 30 mil vacas monitoradas naquele momento. A perspectiva é chegar a 140 mil animais até o final deste ano”, diz Bolis.
A Allflex é uma empresa que produz materiais para identificação de animais, inclusive por meio eletrônico, e também tecnologia de monitoramento que permite acompanhar a saúde, a reprodução e a alimentação dos animais.
Abrindo o foco para todos os segmentos pecuários, o executivo da MSD vislumbra um potencial de crescimento imenso. Bolis lembra que o Brasil tem cerca de 2 milhões de fazendas voltadas para a atividade, que abrigam cerca de 200 milhões de animais.
“Quando falamos em ruminantes, cerca de 30% das fazendas têm alta adoção de tecnologia”.
O que chama a atenção de Bolis é que deste total, cerca de 700 mil propriedades têm menos de 50 animais. A MSD já chega a muitas delas com seus produtos veterinários. Agora, quer incluí-las no ambiente tecnológico e, assim, ampliar sua participação de mercado.
Para isso, o foco é disseminar justamente as tecnologias relativas a monitoramento em programas para certificação de bem-estar animal.
“Nossa estratégia é continuar liderando o mercado de ruminantes, que representa mais de 50% de todo o setor pecuário brasileiro. Isso significa liderar todo o segmento de saúde animal”, afirma Bolis.
A companhia tem investido em novas soluções voltadas especialmente para a pecuária de leite. São tecnologias que permitem monitorar as bezerras e as novilhas em seus 12 primeiros meses de vida.
O objetivo é levantar dados sobre o comportamento e os hábitos dos animais para melhorar as decisões e tornar as vacas mais produtivas em sua fase de lactação, segundo o presidente da MSD.
De modo geral, os resultados da MSD na pecuária desaceleraram em 2024, ano em que os preços de leite e carne, comprimidos, afetaram os resultados dos produtores rurais. Ainda assim, a empresa registrou crescimento. “Conseguimos crescer 10% no primeiro semestre de 2024 em relação a 2023”, conta Bolis.
Ele espera que o segundo semestre da companhia seja mais forte no segmento. “Estamos percebendo melhorias nos preços da arroba do boi e do leite e esperamos pela recuperação do Rio Grande do Sul, que tem grande representatividade nas vendas para ruminantes”.