Não é exagero afirmar que 2023 tem sido o ano das picapes grandes no mercado brasileiro de automóveis. Maiores que os modelos médios tradicionais, esses modelos se tornaram o novo objeto de desejo dos fãs dos utilitários com caçamba.
Os números não mentem. Levando em consideração apenas os modelos de importação oficial, a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) aponta que, entre janeiro e agosto de 2023, foram emplacadas 6.879 picapes de grande porte no mercado brasileiro.
Três vezes mais do que no mesmo período de 2022, quando foram licenciadas 2.113 unidades. Isso sem encolhimento ou canibalização. Somadas as médias e as grandes, o mercado de picapes cresceu 23,2%, passando de 119.932 para 147.766 emplacamentos.
Boa parte dessas picapes grandes têm configurações que seriam impensáveis para um utilitário com caçamba anos atrás: motores V8 a gasolina e capacidade de carga de menos de uma tonelada. Por outro lado, entregam porte, força para reboque e um nível de sofisticação mais próximo dos SUVs de luxo que dos modelos do andar de baixo.
Presente de maneira oficial no Brasil desde 2005, a Ram, marca da Stellantis, é, de longe, a marca com a maior fatia desse mercado. Juntos, os quatro modelos grandes da marca oferecidos no mercado brasileiro (Classic, 1500, 2500 e 3500) somaram 6.135 emplacamentos no ano. Boa parte dessas vendas estão concentradas em regiões tradicionais do agronegócio.
Juliano Machado, diretor de Marketing de Produto da Ram para a América do Sul, explica que a marca notou essa virada no mercado e, em 2019, começou a mexer na sua estratégia para o mercado brasileiro. O primeiro passo foi a chegada da nova geração do modelo 2500.
"Imaginamos que havia essa demanda por um produto mais completo e confortável, mais próximo de um carro de luxo do que de um caminhão. Era um público que estava cansado das opções tradicionais e que tinha essa carência. Diferente do público urbano, que se inspira no luxo europeu, o do agro tem como referência o luxo americano".
Segundo Machado, além daqueles que saíram das picapes médias, um percentual significativo de clientes migrou de SUVs de luxo europeus para as picapes de grande porte da marca. Outra prova dessa demanda reprimida pelo mais imponente é que o modelo mais vendido da Ram no Brasil é a picape 3500, o maior produto da linha. Um mastodonte capaz de levar mais de 1.600 quilos de carga.
De olho nessa demanda crescente, a Ford iniciou as vendas, no início de 2023, da F-150. Picape que é parte da tradicional família Série-F, que há décadas lidera o mercado americano de automóveis e já foi uma das referências do segmento no Brasil. Mas estava longe do país desde 2012, quando se encerrou a produção local da F-250.
Uma das estratégias da marca do oval para dar impulso inicial para a F-150 foi literalmente “pegar no laço” os donos da média Ranger, e outros clientes da marca, que tiveram prioridade na pré-venda da gigante. Entre janeiro e agosto, foram emplacadas no Brasil 726 unidades da picape.
“A região Centro-Oeste, que é a principal do agronegócio no Brasil, teve 34% do total de emplacamentos da picape. O Sudeste, principalmente no interior, ocupa a segunda colocação com 22%", destacou Marcel Bueno, diretor de Marketing da Ford América do Sul.
Tanto a Ram quanto a Ford apontam que a proximidade com os clientes é peça fundamental na estratégia de vendas das marcas. Apesar de tecnológico e antenado com as tendências do mercado de luxo, o público do agro valoriza uma abordagem mais tradicionalista (e próxima) na família e nas relações interpessoais.
Por esse motivo, feiras como a Agrishow e a Expointer se tornaram praticamente obrigatórias. "É como se fosse o Natal. Ele [o empresário do agronegócio] deixa para comprar a picape na feira por vários motivos. Um deles é a projeção do sucesso profissional. Algo importante para um público que, em grande parcela, é formado por aquele migrante do Sul do Brasil que veio ao Centro-Oeste de ônibus para abrir fazenda", lembra Machado, da Stellantis.
Apesar desse foco na fazenda, as duas marcas destacam que a estratégia tem se mostrado eficiente para atrair não só a clientela dos grandes proprietários rurais, mas também dos profissionais de outras áreas profissionais em locais de forte atuação do agronegócio.
“O perfil de clientes da F-150, de maneira geral, é composto por homens com mais de 50 anos, empresários de classe alta e que normalmente já possuem mais de três carros na garagem. Do ponto de vista de utilização do veículo, sabemos que mais de 40% dos compradores de Ranger a utilizam para o trabalho, enquanto as F-150 são voltadas ao uso pessoal”, ressalta Bueno.
Independente do resultado até o momento, ainda há muita lenha para queimar nessa disputa entre marcas e picapes gigantes. Uma prova disso é a entrada recente de outro player nessa disputa: a Chevrolet Silverado. Que chegou em pré-venda na Expointer 2023 e esgotou o lote inicial de 500 unidades em apenas 1h30.
Quem é quem na disputa das picapes grandes?
Chevrolet Silverado High Country (R$ 519.990)
Motor: 5.3 V8, gasolina, 360 cv
Câmbio: automático, 10 marchas
Capacidade de reboque: 4.128 quilos
Ford F-150 (a partir de R$ 479.990)
Motor: 5.0 V8 a gasolina, 405 cv
Câmbio: automático, 10 marchas
Capacidade de reboque: 3.515 quilos
Ram Classic (a partir de R$ 357.990)
Motor: 5.7 V8 a gasolina, 400 cv
Câmbio: automático, 8 marchas
Capacidade de reboque: 3.534 quilos
Ram 1500 (a partir de R$ 469.990)
Motor: 5.7 V8 a gasolina, 400 cv
Câmbio: automático, 8 marchas
Capacidade de reboque: 5.062 quilos (versão Rebel)
Ram 2500 (R$ 459.990)
Motor: 6.7, seis cilindros, diesel, 377 cv
Câmbio: automático, 6 marchas
Capacidade de reboque: 7.861 quilos
Ram 3500 (a partir de R$ 489.990)
Motor: 6.7, seis cilindros, diesel, 377 cv
Câmbio: automático, 6 marchas
Capacidade de reboque: 9.021 quilos