Uma grande empresa que tem mais de 70 anos, com capital aberto, que nos últimos cinco anos teve seu valor de mercado multiplicado por seis. Em uma frase, é assim que se resume a Mills, companhia que atua na locação de máquinas e equipamentos, com foco principalmente em construção civil, infraestrutura e mineração.
Desde o ano passado, porém, tem um novo capítulo nessa história. A empresa – conhecida sobretudo por expor sua marca em estruturas elevatórias para obras – percebeu que havia espaço para subir um patamar no campo. E resolveu colocar todo seu “peso” no agronegócio.
O CEO da Mills, Sergio Kariya, estabelece como marco de virada da participação do setor dentro do resultado da companhia a aquisição da Triengel, cujo foco está na locação de máquinas da chamada linhas amarela, sobretudo tratores e retroescavadeiras, realizada em setembro de 2022.
Assim, começou a atuar com equipamentos pesados voltados principalmente para abertura de estradas, transporte, preparação do solo, e depois na parte final da cadeia de exportação, nos portos.
O objetivo declarado foi reduzir a exposição à volatilidade urbana, buscando uma âncora na resiliência rural. Por isso, os investimentos em segmentos relacionados ao agro foram ampliados, chegando hoje a cerca de meio bilhão de reais.
“O tempo médio de contrato com nossos clientes, em todos os segmentos, é de nove meses”, diz Kariya. “Nós queríamos trazer mais robustez e aumentar a nossa exposição a setores mais resilientes do PIB brasileiro, com empresas que pudessem ter uma relação de longo prazo conosco”.
Em pouco tempo já foi possível mensurar resultados. A participação do agronegócio nas receitas da empresa saiu de 1% antes da aquisição da Triengel, pelo valor de R$ 134 milhões, para 10% ao final de junho deste ano. Atualmente, o setor fica atrás apenas de Construção Civil e Siderurgia-Metalurgia dentro do faturamento da Mills.
“Além da aquisição da Triengel, que tinha a maior parte dos seus contratos estabelecidos com clientes do agronegócio, investimos mais de R$ 350 milhões em equipamentos”, conta o CEO. “No total, aportamos quase R$ 500 milhões para aumentar nossa fatia no agronegócio”.
Se a estratégia está funcionando, a ordem é reforçá-la. Na semana passada, a Mills inaugurou uma filial em Paranaguá, cidade paranaense onde fica localizado o porto que escoa o maior volume de exportação de produtos agrícolas no país.
A estrutura montada lá tem 2,1 mil metros quadrados, com capacidade para armazenar 150 plataformas elevatórias.
Diretamente dentro do agronegócio, a Mills está posicionada principalmente no segmento de cana-de-açúcar. Segundo Kariya, a opção por priorizar esse ramo, que atua com culturas semi-perenes, com o período de safra se estendendo entre março e outubro, acontece justamente porque os contratos com a indústria sucroalcooleira são mais longos.
“A duração média dos contratos com os produtores de cana é de quatro anos. Em outras culturas, a utilização é muito mais pontual, por períodos entre quatro e seis meses. E a ideia é exatamente ter relações mais longas com nossos clientes”, diz o executivo.
Por conta das particularidades da produção de cana, os equipamentos alugados pela Mills têm funcionamento praticamente constante durante o ciclo, parando somente na entressafra, para manutenção.
O período de quatro anos também tem relação com o desempenho da máquina, segundo Kariya. “O cliente prefere esse período, porque depois a eficiência do equipamento começa a diminuir. A partir daí, ele prefere renovar com uma máquina nova”.
Em grãos, o executivo acredita que o caminho seja exatamente a atuação nos portos, já que produtos como soja e milho têm altos volumes de vendas para o exterior.
Outro segmento que tem alta demanda por equipamentos, tanto para a construção de unidades industriais quanto para a linha amarela, e tem chamado a atenção da Mills é o florestal. O setor de papel e celulose responde por 1% das receitas da empresa, mas Kariya vislumbra boas oportunidades com os projetos que estão em andamento.
“Nós estamos no Projeto Cerrado, da Suzano, no Mato Grosso do Sul, e no Puma II, da Klabin, no Paraná. Estamos conversando também com a Arauco, com o projeto que eles vão iniciar também no Mato Grosso do Sul”, conta o executivo.
Nesses projetos, a Mills atua principalmente com plataformas elevatórias. “Mas temos também alguns itens de linha amarela, para abertura de estradas e movimentação das toras”.
Assim como acontece com as locadoras de automóveis e veículos pesados, a Mills também faz a venda de máquinas após a utilização em locação.
“Ainda é uma fatia pequena do negócio. A venda de seminovos representa entre 12% e 14% do faturamento total. Mas com a linha amarela, pode ter um aumento nessa fatia, porque a vida útil é mais curta”, diz Kariya. O equipamento dessa linha tem utilização média de sete anos, segundo o executivo.
Potencial ainda é grande
O CEO da Mills acredita que essa nova estrada de máquinas e equipamentos tem um grande potencial para ser percorrido.
“Nós temos aproximadamente 250 mil máquinas de linha amarela no Brasil, para todos os mercados. Cerca de 75% está nas mãos do usuário final, e 25% estão em locação. No ano passado, foram R$ 40 bilhões em receita de locação só nessa linha”, explica.
Ele acredita que o Brasil tem evoluío neste sentido, seguindo caminhos de outros mercados. “Nos Estados Unidos, por exemplo, há 10 anos, só 20% dos equipamentos estavam com locadoras, e agora está em 50%. Na Inglaterra, as locadoras estão com 80% das máquinas e no Japão, são 85%”.
Mesmo quando se olha somente este mercado atual de R$ 40 bilhões, o CEO ressalta que ele ainda é bastante pulverizado, quando se fala de concorrência. “Ninguém tem mais de 3% ou 4% de market share”, diz Kariya. Em equipamentos mais leves, como plataformas, a Mills tem 30% de participação.
Segundo o executivo, a Mills já está entre as 15 maiores locadoras de equipamentos pesados do país, depois da aquisição da Triengel. “Temos apetite de crescimento. Vamos combinar a estratégia de aquisição com o investimento próprio. Mas em aquisição, precisa ser algo que agregue algo diferente. Não vemos nada transformacional”.
No segundo trimestre, a Mills teve receita líquida de R$ 338 milhões, crescimento de 36,5% em relação ao mesmo período de 2022. O lucro líquido da companhia fechou o período em R$ 64,1 milhões, bem próximo dos R$ 63,2 milhões de um ano antes.
Essa solidez nos resultados tem reflexo na ação ordinária da empresa, negociada na B3. O papel tem valorização de 27,5% em 2023 até a quarta-feira, 30 de agosto. Em cinco anos, a valorização é de quase 500%.
A companhia abriu capital em 2010, iniciou uma reestruturação em 2015, e em 2019 incorporou a Solaris, outra grande empresa de locação de equipamentos.