Em uma das gigantes da celulose no Brasil, e que agora está de novo (velho) dono, é hora de reforçar o caixa. A Eldorado Brasil anunciou, na noite desta terça-feira, 23 de setembro, que vai levantar R$ 1,5 bilhão por meio de uma emissão de debêntures.
A operação da empresa da holding J&F, da família Batista, terá a Vórtx como agente fiduciário e será feita em uma série única com vencimento em 10 anos, em outubro de 2035.
A remuneração aos investidores será paga semestralmente e ficará atrelada ao IPCA, acrescido de uma taxa definida futuramente no processo de bookbuilding, limitada a 0,05 ponto percentual acima do rendimento dos títulos públicos indexados ao IPCA com vencimento em 2035 ou 7,60% ao ano, o que for maior.
A empresa cita, no documento enviado à CVM nesta terça, que os recursos captados serão usados para reforçar a estrutura financeira da companhia, além de custear projetos de infraestrutura, que ela não detalha.
A Eldorado só registra esse “projeto de infraestrutura” está enquadrado na Lei 12.431/11, que rege as debêntures incentivadas de infraestrutura. Normalmente, nesses casos, o projeto costuma estar relacionado à expansão de capacidade produtiva, logística, energia ou melhorias ambientais ligadas à planta industrial da Eldorado.
Desde maio deste ano, a empresa vive uma nova fase. Oito anos depois, a família Batista fez um acordo estimado em R$ 2,7 bi para retomar 100% do controle da empresa, que tinha como sócia a Paper Excellence.
Mesmo antes do fim do imbróglio, os Batista já falavam em investir no negócio. Em 2024, a J&F anunciou um plano de investimentos de R$ 25 bilhões na empresa. O valor será alocado em uma segunda linha de produção da empresa em Três Lagoas (MS), onde a Eldorado já possui uma fábrica.
A produção de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano pode ir para 4,2 milhões de toneladas com o projeto, que ainda envolve a construção de uma ferrovia de 90 quilômetros para ligar a fábrica até Aparecida do Taboado. O montante também iria para investimentos em florestas.
Quando Joesley Batista fez esse anúncio no ano passado, chegou a dizer que a holding estava "segurando esse investimento", mas que naquele momento tinha uma "situação que os permitia levar para frente".
No último balanço da empresa, o primeiro com o “novo” comando, a companhia teve um lucro liquido de R$ 751 milhões, resultado 863% superior ao registrado no segundo trimestre de 2024, quando havia reportado lucro de apenas R$ 78 milhões.
A receita liquida, por sua vez, recuou 12%, passando de R$ 1,624 bilhão no segundo trimestre de 2024 para R$ 1,455 bilhão no mesmo período deste ano.
O montante mais baixo de receita, segundo a empresa, se explica pelos preços médios por tonelada mais baixos, que caíram 21%, passando de US$ 723 para US$ 568, e pelo volume mais baixo de vendas, que recuou 1% no período, indo de 435 mil toneladas para 430 mil toneladas.
Daqui em diante, o desafio dos Batista na Eldorado será reduzir drasticamente a dívida liquida, que alcançou R$ 14,94 bilhões ao final de junho deste ano, após a operação que possibilitou que o controle acionário fosse todo para as mãos da J&F.
Após os Batista assumirem 100% do controle da companhia, houve uma emissão de R$ 13 bilhões em notas comerciais escriturais em junho deste ano, justamente para financiar a aquisição das 49% de ações da Eldorado que estavam com a empresa canadense..
Dessa forma, a alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda em dólares, passou de 0,38x para 4,48x. A Eldorado informou que pretende diminuir sua alavancagem daqui em diante, buscando uma relação entre 2,5x e 3,5x.
Resumo
- A Eldorado anunciou emissão de debêntures de série única, com vencimento em 2035, atreladas ao IPCA + taxa definida via bookbuilding, com objetivo de reforçar caixa e custear projetos de infraestrutura vinculados à planta industrial
- Desde maio de 2025, a J&F retomou 100% do controle da empresa, com planos de expandir a produção de 1,8 milhão para 4,2 milhões de toneladas de celulose, incluindo construção de ferrovia e investimentos em florestas
- No último balanço, a companhia teve lucro líquido de R$ 751 milhões, receita de R$ 1,455 bilhão. Ao mesmo tempo, enfrenta dívida líquida de R$ 14,94 bilhões, com alavancagem elevada