A sazonalidade natural do agro brasileiro traz dinâmicas peculiares a algumas empresas. No caso da Boa Safra, o mercado já espera que os resultados até junho sejam mais tímidos, com os produtores ainda colhendo e vendendo seus grãos e começando a se preparar para a safra seguinte.
A empresa, que divulgou seu balanço operacional na noite de terça (14), informou um lucro líquido de R$ 8,1 milhões no primeiro trimestre de 2024. Mesmo revertendo um prejuízo anotado no mesmo período do ano anterior, o resultado vem bem abaixo dos R$ 145,9 milhões anotados de outubro a dezembro de 2023.
Apesar disso, a companhia já dá indícios de um ano promissor pela frente. Um deles vem da carteira de pedidos, que encerrou o trimestre em R$ 1,02 bilhão. O número, que é recorde para um primeiro trimestre, é 7% maior do que o visto no mesmo período em 2022.
Segundo apontou em seu balanço o volume de pedidos no primeiro trimestre corresponde a cerca de dois terços do total do ano anterior.
“Esse feito ressalta não apenas a eficiência operacional, mas também a capacidade de adaptação e resiliência da empresa em um ambiente desafiador. O ano de 2024 já se inicia com desafios climáticos apresentados em todo País e com mais intensidade na região Sul”, afirma a Boa Safra.
De janeiro a março deste ano, a receita líquida da Boa Safra atingiu R$ 69,1 milhões, queda de 40,3% frente aos R$ 115,8 milhões vistos no mesmo período em 2023.
Em relatório, o analista do BTG Henrique Brustolin considerou o indicador positivo, dado o cenário macro de atraso geral na comercialização de insumos agrícolas para a safra 2024/25.
A Boa Safra nasceu como uma empresa 100% dedicada ao mercado de sementes de soja e hoje, mais de 90% de seu faturamento está atrelado à oleaginosa. Como sazonalmente o plantio de soja se dá no final do ano e a colheita no primeiro trimestre, a empresa desacelera suas vendas naturalmente de janeiro a março.
Tanto que no último trimestre de 2023, período sazonalmente mais forte, o faturamento líquido da companhia bateu os R$ 842 milhões.
Para isso a empresa tem diversificado na venda de sementes de outras culturas como trigo, milho, forrageiras, sorgo e feijão. Os primeiros números dessa expansão começam a aparecer no balanço.
No primeiro trimestre, a receita com essas vendas atingiu R$ 29 milhões em receita bruta. Em todo ano de 2023, a categoria registrou R$ 18 milhões em vendas.
Henrique Brustolin relembrou que no primeiro trimestre, “não há muita coisa acontecendo para a Boa Safra”. Tanto o primeiro quanto o segundo trimestre, são marcados pela colheita e transporte da oleaginosa para unidades de processamento, onde o grão vira uma nova semente, ele afirma.
“A carteira de pedidos está sendo construída, mas as entregas efetivas e o reconhecimento de receitas ocorrem principalmente durante o segundo semestre. A receita líquida do trimestre ficou abaixo da nossa expectativa, mas isso não significa muito”, afirmou Brustolin.
O BTG espera que a Boa Safra encerre o ano de 2024 com uma receita líquida de R$ 2,6 bilhões. Em 2023, o faturamento líquido da empresa bateu R$ 2 bilhões.
Lucas Bonventi, analista da Genial, avaliou de forma positiva o balanço. Em relatório, projetou boas margens para a empresa a partir do segundo semestre à medida que o mercado para as outras sementes além da soja ganhem mais espaço na receita.
“Também vemos um avanço da sementes com tratamento, um crescimento do beneficiamento do milho e um avanço do uso de tecnologia pelos agricultores”, projetou.
O avanço na carteira surpreendeu Bonventi, que além de reiterar uma recomendação de compra da ação da Boa Safra para os investidores, aumentou sua projeção de preço-alvo para o papel de R$ 19 para R$ 21 num horizonte dos próximos 12 meses.
Na Bolsa, a ação SOJA3 abriu em uma leve alta, mas passou a oscilar entre perdas e ganhos durante a manhã na B3. O mercado acompanha uma queda de mais de 1% do Ibovespa, principal índice da Bolsa, por volta das 11h, que contamina grande parte dos papéis negociados.