Nesta quarta-feira, 7 de agosto, cerca de 200 agricultores de Mato Grosso, Tocantins e Goiás cruzarão a porteira da Fazenda Conforto, em Nova Crixás (GO).

Ali funciona um dos maiores confinamentos do País, com capacidade para abrigar mais de 70 mil bovinos, mas eles estarão lá para ver algo além do impressionante rebanho.

A convite do CEO da Conforto, Sérgio Pellizzer, eles conhecerão, em primeira mão, as instalações e o processo de produção do novo negócio do grupo, que transformou a fazenda em um verdadeiro conglomerado com faturamento superior a R$ 1 bilhão.

A partir do evento desta quarta, a empresa lança oficialmente a Biofertilizantes Conforto, marca de adubos minerais produzidos ali mesmo, antes apenas para consumo próprio e agora também para clientes externos.

“A gente já produz esse adubo para a nossa operação há praticamente 15 anos”, afirma Pellizzer ao AgFeed. “Um grande diferencial da Conforto é a quantidade de nutrientes que tem no solo e a alta produtividade em função de tantos anos de uso desse material biológico”.

A empresa já produzia 100 mil toneladas por ano, consumidas nos mais de 5,5 mil hectares de milho plantados na propriedade ou trocado por grãos com produtores vizinhos – afinal, a demanda de grãos para a nutrição dos animais do confinamento fica em torno de 3 milhões de toneladas por ano.

Nos últimos meses, com investimento em várias frentes, a Conforto preparou sua indústria de fertilizantes, localizada ali mesmo na fazenda, para ampliar em até 50% a capacidade de produção. E, segundo Pellizer, para dar novos saltos assim que o mercado permitir.

“A gente está saindo de um viés de baixa na pecuária”, analisa. “Passando para um viés de alta, a gente tem capacidade de expansão do nosso confinamento e, com isso, teremos capacidade de ir além com a fábrica de fertilizantes”.

No conglomerado empresarial da Conforto – construído pelo empresário Alexandre Negrão, falecido em agosto do ano passado – a relação direta entre os diferentes negócios é a regra, criando um exemplo bem acabado de economia circular.

A base da indústria de fertilizantes são os resíduos da pecuária, que por sua vez se beneficia dos grãos produzidos na lavoura nutrida pelos mesmos fertilizantes.

Assim, investir em um negócio é, de certa forma, investir em todos. Por isso, Pellizzer afirma não ter ainda contabilizado os aportes feitos para o lançamento da nova marca.

Prefere, então, desfilar um conjunto de ações tomadas nos últimos anos que resultaram na possibilidade de criar uma nova frente de receita.

“Construímos uma nova área para operar acima de 200 mil animais por ano”. “Acabamos de construir três novos silos, ampliando nossa capacidade de armazenamento de grãos em 1 milhão de sacas de milho”. “Com R$ 5 milhões, reformamos nossa fábrica de ração, que foi projetada anos atrás para uma quantidade de animais, mas já teve de ser ampliada”.

Outros investimentos são mais diretamente relacionados à produção dos biofertilizantes. Cerca de R$ 30 milhões, por exemplo, foram para implementar nos currais de confinamento um piso de “solo cimento” – um terreno bastante compactado que permite a extração de um esterco mais limpo para enviar ao processo industrial, diferentemente do que acontece no solo de terra, que carrega um nível maior de outros componentes.

Desse total, cerca de R$ 8 milhões foram gastos nos dois últimos anos. “O investimento é alto, mas não é voltado apenas para a produção de adubo”, explica o executivo.

Na própria fábrica de fertilizantes, foram aplicados outros R$ 12 milhões em um novo equipamento de peneiração, aperfeiçoando um dos processos de produção.

“A gente fez elevados investimentos nos últimos dois anos, pensando em aumentar o confinamento e vislumbrando uma demanda da indústria e do mercado, que deve vir principalmente a partir do segundo semestre de 2025”, diz.

Nas palavras de Pellizzer, a capacidade estática do confinamento poderia até triplicar. “A Fazenda Conforto está pronta para crescer. O mercado dirá quando e quanto vai expandir. É muito rápido expandir nossa estrutura de currais”.

Em busca de diferenciais

A produção de fertilizantes organominerais a partir de esterco colhido nos currais é uma prática antiga nos principais confinamentos do País. Nos últimos anos, porém, transformar essa prática em negócio é uma tendência em alta no setor.

Assim como a Conforto, outro megaconfinamento, o do Grupo Campanelli, do interior paulista, anunciou no ano passado sua entrada nesse segmento, em uma parceria com grupos como Amaggi, Coopercitrus, Viola Participações e Souza e Lucas Participações, da mesma família que controla a empresa de fertilizantes AgroCP.

Juntos, eles formaram a Tello, empresa com ambição de faturar R$ 500 milhões até 2026.

O grupo Locks, do Mato Grosso, também fez investimentos nessa área e prevê, nos próximos anos, ampliar seu confinamento para também levar seus biofertilizantes ao mercado, numa possível parceria com a própria Tello.

“Temos uma preocupação ambiental muito forte com os resíduos provenientes dos confinamentos”, diz Pellizzer. “Estamos fazendo desse limão uma limonada. Por que não comercializar um produto assim tão rico?”

Embora esteja na mesma trilha dos demais, o CEO do Conforto busca apontar diferenciais no seu produto. Segundo ele, o processo utilizado começa a ganhar características únicas a partir da alimentação do gado, feita com uma dieta balanceada com o uso de milho floculado.

“Somos a única fazenda que tem quatro floculadores de milho no Brasil”, diz ele, explicando que esse detalhe ajuda a produzir um esterco com mais nutrientes.

O outro diferencial destacado por ele é justamente a capacidade de colher esse esterco praticamente sem terra misturada, graças ao uso do piso de solo cimento nos currais.

“Eu ainda tenho 16 mil animais em currais que não têm solo cimento. Eu não uso esse resíduo para a produção de adubo”, afirma.

Além disso, o processo de peneiração reduz o nível de impurezas, retirando da mistura alguns componentes indesejados. “O resultado final é semelhante a um pó de café super enriquecido”, compara.

Para formar a Biofertilizantes Conforto, Pellizzer buscou também uma parceria com uma empresa especializada justamente em enriquecer o adubo com bionutrientes.

A escolhida foi a IFB que, segundo ele, domina um processo de inoculação com uma enzima “guardada a sete chaves”. A empresa já atuava na produção dos fertilizantes utilizados na própria fazenda e, agora, passa a cooperar também na sua transformação em um produto voltado ao mercado.

“Essa parceria é muito em função da produção on farm que se começou aqui. Hoje eles atendem umas 200 fazendas, mas nenhuma com a qualidade que a gente tem”.

De olho nos jardins

A Biofertilizantes Conforto, por enquanto, é apenas uma marca, que deve ser transformada, em breve, em empresa – todo o grupo passa por um processo de migração do CPF de Negrão, o fundador, para CNPJ.

Mas já se estruturou comercialmente para iniciar vendas para agricultores nas regiões mais próximas – daí a ideia de levar um grupo de produtores para o lançamento.

A equipe comercial tem como missão fazer visitas às fazendas e apresentar os diferenciais do produto. A venda, por enquanto, é feita apenas de forma direta, sem a participação de distribuidores. E incluem também a possibilidade de barter, com a troca de fertilizante por milho.

“O produtor de milho que precisa usar esse produto e quer, inclusive, otimizar a frete, entrega milho e leva o fertilizante. É uma relação ganha-ganha também nesse sentido”.

Pellizer imagina, entretanto, um futuro em que os fertilizantes da Conforto vão além das fazendas, chegando ao varejo urbano para ser utilizado nos jardins das casas nas cidades.

“A gente tem condições de fazer diferentes formulações, atender a vários mercados, conseguindo ter um produto de alto valor agregado”, garante. “Esse é um sonho que, por mais que seja distante. A gente está focado em desempenhar isso cada vez mais”.