Quando uma grande empresa tem apetite e caixa para comprar participação ou o controle de uma outra companhia, tenta aproveitar as oportunidades que surgem. Foi isso que a Marfrig fez para superar o patamar de 50% do capital da BRF em dezembro.

O ano de 2023 foi uma verdadeira montanha russa para a BRF. Em abril, a ação chegou a valer menos de R$ 6, depois de ter chegado perto dos R$ 17,50 em agosto de 2022.

Em maio, a Marfrig anunciou que tinha adquirido quase 25% do capital da empresa. A partir daí, a ação da BRF entrou em uma trajetória mais firme de alta, chegando a bater os R$ 15 no dia 30 de novembro do ano passado.

Mas em dezembro, o papel voltou a descer a ladeira, oscilando próximo dos R$ 13,70. Neste início de 2024, essa tendência continua, com a ação sendo negociada na B3 a R$ 12,70.

A queda em dezembro parece ter estimulado a Marfrig. Segundo o formulário mensal da BRF sobre negociações de ações por parte de administradores e pessoas ligadas à administração da companhia, o controlador comprou pouco mais de 20 milhões de ações no mês passado.

Foram várias compras no decorrer do mês, começando já no dia 1º de dezembro, e se estendendo até o dia 28, último dia de negociações na bolsa brasileira.

O maior lote, em valores, foi no dia 12, quando a Marfrig adquiriu mais de R$ 37 milhões em papéis da BRF. Esse dia marcou o pior fechamento do ativo em pouco menos de um mês.

No total, a Marfrig comprou R$ 286 milhões em ações da BRF somente em dezembro, atingindo, assim, a marca de 50,06% do capital da companhia em suas mãos.

Ainda não é possível saber se a Marfrig continuará a adquirir ações da sua controlada em janeiro. As empresas são obrigadas a comunicar quando um acionista atinge um patamar relevante de participação no capital, geralmente de 5%, ou quando um investidor que já tem uma fatia importante eleva significativamente o número de ações que possui, como fez a Marfrig em dezembro.

Desde o final de 2023, as ações da BRF têm reagido ao aumento da cotação do milho, que retomou o patamar de R$ 70 a saca de 60 kg, que não era atingido desde abril do ano passado, segundo o indicador Cepea/Esalq.

Isso interfere diretamente nos custos de produção da BRF, que é bastante focada em aves, e que tem o grão como principal ingrediente para a ração.

No final de 2023, diversos analistas já projetavam esse aumento na cotação do milho, já que se esperava uma produção menor na safra 23/24, causada pelas oscilações climáticas que atrasaram a plantação de soja. Esse atraso leva, em muitos casos, à perda da janela de plantio do milho.

Além disso, analistas apontam que a gripe aviária continua sendo um risco a ser monitorado em 2024. Apesar de não haver novidades há meses, o Brasil ainda corre o risco de ter um surto da doença entre aves comerciais, o que geraria vários problemas na exportação de carnes de aves.