Há pouco mais de duas semanas, uma operação pequena, mas cheia de ambição, foi celebrada no moderno escritório da Timbro Trading em um edifício da Avenida Brigadeiro Faria Lima, epicentro do mercado de capitais em São Paulo.

A empresa, maior exportadora brasileira de açúcar não ligada a um grupo sucrorenergético, havia acabado de faturar a entrega do primeiro caminhão de etanol produzido em uma microdestilaria localizada na cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul.

A planta piloto, recém-licenciada pelas autoridades reguladoras do segmento de combustíveis, fazia assim sua estreia no mercado. E marcava também um passo relevante da Timbro para ampliar seu leque de negócios em um segmento que deve se tornar estratégico para o grupo nos próximos anos.

A empresa não revela o porte do investimento nem a capacidade instalada da destilaria, que começa a produzir etanol a partir do arroz, mas foi construída para ter flexibilidade e operar também com outras fontes de carboidratos, como resíduos de indústrias de alimentos.
Bruno Russo, fundador e vice-presidente da Timbro, não esconde, porém, aonde quer chegar quando fala de biocombustíveis. “Temos um plano muito grande de entrada nesse setor”, afirmou em entrevista ao AgFeed.

“Assim como a gente conseguiu trilhar muito sucesso nesses últimos anos no açúcar, queremos seguir o mesmo caminho no etanol”.

A trilha do açúcar começou a ser aberta logo após a criação da trading, em 2010, por Russo e o sócio Jorge Guinle, de uma tradicional família carioca de exportadores. O Brasil vivia um boom de importações e a dupla iniciou o negócio trazendo máquinas da China, mas já de olho em um modelo diversificado de portfólio para importação e exportação.

“Em seguida montamos uma mesa de metais e, logo depois, começamos a exportar açúcar. O Jorge já trazia bastante conhecimento do setor e adotamos a estratégia de fazer vendas diretamente ao cliente final, em um momento em que as tradings brasileiras negociavam preferencialmente com tradings internacionais. Isso nos possibilitou crescer bastante”.

Não se trata de retórica. Os balanços da empresa revelam uma taxa média anual de crescimento próxima de 70%, que colocam a Timbro entre os 200 maiores grupos nacionais em receita. Com menos de 15 anos, a Timbro é uma empresa de R$ 12 bilhões anuais.

Desses, cerca de um terço vem de operações no agronegócio, puxadas pelas vendas externas de açúcar – os outros dois terços são divididos, de maneira equilibrada, entre a área de metais e a de importações para terceiros.

Esse percentual tem ficado estável, já que, segundo Russo, as outras áreas também crescem em ritmo acelerado. “Uma das belezas do nosso negócio é que a geração de caixa é bem dividida, não tem concentração. Nenhum cliente nosso tem mais que 2 a 3 % da receita como um todo”.

No agronegócio, o açúcar ainda tem, porém, um protagonismo relevante. As negociações com o adoçante ultrapassaram, no ano passado, 1,3 milhões de toneladas.

“Somos a maior exportadora sem usina”, reforça Russo. “E a maior trading de capital brasileiro, nos colocando como alternativa ao ABCD, firmado por multinacionais gigantescas”.

“ABCD” é a maneira como o mercado se refere às quatro megatradings que dominam o mercado global de commodities agrícolas: ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus.

Russo deixa claro sua inspiração no modelo adotado por elas, que há décadas deixaram de fazer apenas as transações de compra e venda e passaram a verticalizar negócios para áreas industriais, como a produção de óleos, farelos e alimentos, agregando valor às commodities.

“O Brasil, apesar de ser o maior exportador de commodities agrícolas do mundo, até hoje não teve uma empresa que consegue operar em larga escala com múltiplas commodities”, diz.

A incursão no etanol demonstra que a estratégia está em curso. Ao longo dos últimos anos, o que tem diferenciado a empresa brasileira é a abordagem de mercados. A empresa cresceu atendendo diretamente mercados que as gigantes, por sua escala, nem sempre conseguiam ou tinha interesse.

“A gente oferece aos produtores e usinas acesso a diferentes mercados, com uma competitividade e um entendimento da cultura diferente”, afirma Russo.

Com filiais nos Estados Unidos, México, Portugal, Inglaterra, Suíça, China, Japão e Dubai (esta aberta recentemente), a companhia busca uma capilaridade capaz de capturar informações sobre potenciais mercados e, uma vez identificados, trabalhar para abrir e atendê-los.

De Portugal e Inglaterra, por exemplo, a empresa atende o mercado africano, que tem se mostrado um trunfo importante para a Timbro. Clientes daquele continente hoje são compradores de volumes importantes de açúcar brasileiro, inclusive o branco já ensacado.

“Eles veem bastante valor em comprar de uma empresa brasileira e com acesso direto às usinas e não são target para as grandes multinacionais”, diz.

Segundo Pietro Constantino, diretor da área Agro na Timbro, a trading hoje se relaciona diretamente com 30 diferentes usinas nas regiões Nordeste e Centro Sul do País. “Temos uma operação bem robusta de açúcar branco ensacado, tanto para o Oeste quanto para o Leste africano, com até 15% de share nessas regiões”, afirma.

Também na África a Timbro iniciou recentemente outra operação no sentido de verticalizar os negócios com investimento em agroindústria.

Através da criação da Timbro Foods, resultante de uma joint venture com a Dinda Foods, marca líder do mercado de alimentos em Angola e com presença em outros países africanos, a empresa pretende atender grandes indústrias, atacadistas e varejistas no continente.

“E depois na Ásia, Oriente Médio e outros mercados e com outros produtos”, afirma Russo. A Dinda deve ser, por exemplo, conectar à mesa de lácteos da Timbro, que origina produtos no Brasil, Uruguai, Argentina, Estados Unidos e Nova Zelândia e distribui para uma rede de clientes.

“Nossa estratégia é ir plugando as operações sinérgicas”, explica. “Assim, acabamos capturando vantagens em diferentes aspectos e aí a gente consegue, até pela nossa escala atual de logística, ser competitivo”.

A diversificação passa também pela atuação com outras commodities agrícolas. Em algodão, por exemplo, a empresa atua desde 2016 e exportou 70 mil toneladas em 2023, com volumes sempre crescentes.

No café, a entrada é mais recente e cuidadosa. A Timbro se aproximou do segmento em 2016, inicialmente levando a cooperativas operações financeiras de hedge, barter e carregamento de estoque. Em seguida, passou a fazer pequenas operações de exportação de cafés especiais, aproveitando demandas específicas.

Mais recentemente, conta Russo, o mercado ficou “invertido” – com preços futuros inferiores aos presentes – e a empresa tirou o pé. “Agora o mercado está voltando ao normal, faz sentido voltar a exportar. Temos essa flexibilidade”, diz o executivo.

Segundo Russo, o modelo da empresa é, primeiro buscar escala nos diferentes segmentos. “É o que a gente conseguiu com açúcar. Depois passa a olhar as oportunidades, que surgem com frequência. E a investir”.

Mão dupla

A relação com produtores, cooperativas e usinas gera, de fato, muito mais oportunidades de negócios para a Timbro do que a venda das commodities. A trading se posiciona junto a elas como uma plataforma de negócios.

Assim como os serviços financeiros, a exemplo do que levou ao mercado cafeeiro, a Timbro apresenta um cardápio que envolve também a possibilidade de utilização de sua expertise de importação para atender aos clientes do campo.

“Somos a única trading que, se o produtor precisar comprar uma aeronave executiva ou agrícola, a gente compra, traz, nacionaliza, entrega e recebe, em troca, o que ele produz, no sistema de barter”, diz Russo.

“Vemos a Timbro como uma facilitadora de negócios para usinas e produtores”, acrescenta Constantino. “Uma usina, por exemplo, vai poder hedgear açúcar conosco, mas se ela lá na frente quiser entregar etanol, será uma solução para ela também. E, em breve, poderá entregar até energia elétrica”.

Na mão da importação, as oportunidades surgem para o fornecimento, aos grupos agrícolas, de produtos que vão de insumos a tratores, feita através de distribuidores de algumas marcas, com operações de barter, ou até mesmo de chapas de metais para usinas de açúcar.

“A Timbro tem olhado para operações estratégicas que possibilitem esses ativos, que passam a ser um diferencial a mais para a companhia”, afirma Russo.

Constantino revela que, ainda para 2024, a Timbro deve estruturar duas novas mesas – que é como a empresa denomina suas áreas de operação – voltadas à transações com insumos, uma de fertilizantes e outra de combustíveis.

“Em breve vamos conseguir oferecer diesel para usinas e produtores e trocar por produtos. Está no planejamento para este ano, muito em linha com nosso braço forte de importação” afirma.