O movimento de baixa no preço dos grãos no mercado internacional não têm deixado nenhum player do agro com o sono tranquilo. Até mesmo a Bunge, uma das maiores tradings do mundo, sofre os efeitos desse momento.
Em balanço referente ao primeiro trimestre de 2024 divulgado na manhã desta quarta, 24 de abril, a empresa apontou que somou um lucro líquido de US$ 244 milhões, uma baixa de mais de 60% frente ao lucro visto no mesmo período em 2023, de US$ 632 milhões.]
A queda ainda veio, entretanto, menor do que o esperado por analistas consultados pela Bloomberg. Em comunicado oficial divulgado junto aos resultados, o CEO da empresa, Greg Heckman, afirmou que mesmo com um início do ano que ele considerou forte, a visibilidade para os resultados futuros ainda é limitada, principalmente no segundo semestre.
Se em 2022 as tradings surfaram na alta dos preços dos grãos, principalmente por conta dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia no mercado, os preços mais baixos estão dando o tom dos resultados.
Os resultados do segmento de processamento tiveram um pequeno aumento em relação ao ano anterior, com mercados mais aquecidos na Europa e Ásia. O Ebit (lucro antes de juros e impostos) do segmento ficou em US$ 411 milhões.
A receita da Bunge nos três primeiros meses do ano recuou 12%, quando comparada ao período equivalente do ano anterior, e atingiu US$ 13,4 bilhões. Dentro desse resultado, US$ 9,7 bilhões foram originados da operação de agro da empresa, número 10% menor que no ano anterior.
Isso, apesar do aumento de volumes nas operações. Foram 20 milhões de toneladas comercializadas. No ano anterior, haviam sido 18,3 milhões.
O resultado da operação de Merchandising, que envolve o comércio e distribuição de grãos, recuou de US$ 108 milhões no ano passado para US$ 76 milhões no primeiro trimestre de 2024.
“Os resultados mais baixos foram impulsionados principalmente pelas nossas cadeias de valor globais de grãos e óleos, onde volumes mais elevados foram mais do que compensados por margens mais baixas”, comentou a Bunge em seu balanço.
A empresa projeta que os próximos meses tragam resultados similares aos vistos em 2023. “Isso se deve principalmente aos resultados mais baixos no segmento de processamento, onde as margens permanecem comprimidas na maioria das regiões”, pontuou a Bunge em seu balanço.
Ao mesmo tempo que divulga uma baixa nos números, a empresa ainda tm enfrentado um desafio jurídico para tirar do papel a proposta de fusão entre a Bunge e a Viterra. O acordo, se aprovado, criará uma super trading avaliada em US$ 34 bilhões.
Nesta semana, o Departamento de Concorrência do Canadá divulgou um documento onde afirma ter identificado “grandes preocupações com relação à concorrência em torno da proposta de fusão”.
O departamento afirmou que o acordo “provavelmente resultará em efeitos anticoncorrenciais substanciais e em uma perda significativa de rivalidade entre a Viterra e a Bunge nos mercados agrícolas do Canadá”.
Com isso, a transação pode prejudicar a concorrência do mercado de compra de grãos no oeste do país, afirmou o órgão.
O departamento ainda citou que a Bunge possui uma participação de 25% na G3 Global Holdings, uma joint venture com uma empresa saudita que opera instalações de grãos no Canadá e que é um concorrente local da Viterra.
Na visão do órgão, o acordo concretizado colocaria a Bunge numa posição de influência frente aos concorrentes.
Em resposta, a Bunge e a Viterra disseram em comunicado que as preocupações do órgão regulador são equivocadas e prometeram colaborar com as autoridades canadenses.