Ipeúna (SP) - A Korin Alimentos é uma empresa diferente. Além do vínculo com a Igreja Messiânica, aposta no mercado de orgânicos, considerado ainda de nicho, como forma de crescer.

Segundo revelou o CEO da empresa, Luiz Demattê, a companhia deve lançar, até o final do mês um e-commerce próprio, para comercializar toda sua linha de produtos de forma online.

Nesse universo “orgânico sagrado”, os produtos mais vendidos pela Korin são carne de frango e ovos. A empresa produz também tilápia, mel, arroz, feijão e até milho de pipoca.

A ideia é ampliar a presença em mercados como o do estado de São Paulo, o mais forte para a empresa, e também ganhar terreno em regiões mais distantes.

“Percebemos que a venda dos nossos produtos cresce em e-commerces que não são nossos, mas de plataformas parcerias, como a rede Justo. Com o nosso crescimento como um todo, esse passo era quase que inevitável”, afirmou.

O objetivo é levar os produtos de forma mais acessível aos consumidores, e segundo o CEO, de maneira “mais direta”.

Luiz Demattê conversou com o AgFeed durante uma visita de jornalistas às instalações da empresa em Ipeúna, no interior de São Paulo. Ele contou que vê 2024 como um ano de expansão, após anos em que a Korin Alimentos corrigiu algumas rotas internas.

Com a pandemia de Covid-19 e, posteriormente, o conflito entre Rússia e Ucrânia na região do Mar Negro, a Korin viu suas margens apertadas por custos maiores, o que impactou o caixa da empresa.

“Desde 2022 estamos com estratégias para recuperar margens e o e-commerce vem para ajudar nesse movimento. A partir disso, com tudo resolvido, vamos promover o crescimento da empresa, principalmente para 2025”, afirmou.

Um dos movimentos será a internacionalização da marca. Segundo disse o diretor-presidente, alguns mercados externos, principalmente do Oriente Médio e Japão, estão demandando os produtos orgânicos da empresa.

Para atender à demanda crescente projetada para os próximos três anos, a empresa vê que existe tanto uma capacidade ociosa que pode ser preenchida, quanto uma capacidade de novas instalações dentro da própria unidade em Ipeúna para aumentar a produção.

“Apertamos o cinto, ajustamos eficiência produtiva e com isso também melhoramos a estrutura de custos. Assim, ficamos mais competitivos, o produto fica mais acessível e vai deixando de ser um produto de nicho e entra no mainstream”, argumentou Luiz Demattê, CEO da Korin Alimentos.

A expansão também passa por uma procura que a empresa tem tido de novos tipos de empreendimentos. Atualmente, Demattê estima que a Korin conta com 3 mil clientes no varejo, e atende principalmente os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Paraná, mas garante ter presença em mais territórios da federação.

Além de supermercados, ele cita que a empresa tem começado a fornecer produtos diretamente para restaurantes, escolas e hotéis.

A aposta no orgânico

As aves, tanto poedeiras quanto as que viram proteína, são criadas de forma natural, livres dentro das granjas, e alimentadas com uma ração, feita pela própria Korin, orgânica.

Esses animais também não são tratados com antibióticos durante a vida, e se algum problema é detectado, é tratado com soluções naturais, como biológicos, por exemplo.

“Nascemos com um propósito diferente, de trabalhar com agricultura natural. Quando fomos fundados, nos anos 1990, éramos considerados radicais e sectários, mas os problemas apontados por pesquisadores que falavam em relação à agricultura tradicional começaram a fazer sentido nos dias de hoje”, afirmou o CEO da empresa.

Como uma espécie de evangelizador sobre o tema dos orgânicos, Luiz Demattê, atua ativamente para atrair atenção do poder público para essa agricultura natural. E tem investidura para tal.

Funcionário de carreira da Korin, já foi gerente industrial e diretor de Produção e Indústria. No âmbito acadêmico, é doutor em Ecologia Aplicada pela Esalq/USP e presidente da Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Ministério da Agricultura.

A empresa não divulga seus números de faturamento, mas segundo Demattê, a ideia é passar a fazer esse tipo de divulgação daqui dois anos. Questionado sobre um possível IPO, o CEO não descartou a opção, mas também não a garantiu.

“Somos frequentemente procurados por grandes empresas e fundos de Venture Capital. Acredito que atraímos interesse por sermos uma empresa com uma marca de alta repercussão”, afirmou.

Durante a visita à sua sede, a Korin apresentou a fábrica de ração, que é vendida aos integrados para garantir que a alimentação das aves seja feita corretamente, e também o entreposto de ovos.

Por lá, são recebidos, em média, 150 mil ovos por dia. Esses alimentos passam por um controle de qualidade, higienização e são ordenados nas embalagens de acordo com seus tamanhos.

A empresa passa por um processo de trocar as embalagens de plástico para a polpa, na intenção de evitar perdas com ovos que quebram e mofam a embalagem. Atualmente, o maior cliente da empresa, nos ovos, é o Grupo Pão de Açúcar.

Na fábrica de ração, a empresa recebe carregamentos de soja e milhos sem transgenia de parceiros. Após um teste de qualidade para atestar os componentes nutricionais, esses grãos são processados junto a mixes naturais de empresas como ADM e Agroceres. Essa junção dá origem à ração, que só é fornecida aos integrados.

Ao todo, são nove integrados, que contam com granjas, com, em média, sete mil aves. Esses produtores estão localizados num raio de até 100 quilômetros de Ipeúna, como forma de facilitar o processo logístico.

A produção específica impede, por consequência, um crescimento ainda maior dos negócios. “A intenção nossa não é dominar todo o mercado. Fazemos coisas que trazem efeitos importantes em outras empresas e vejo uma disseminação de tecnologias acontecendo”.

Para que a produção orgânica atendesse todo o mercado nacional, Demattê acredita que seria necessário um investimento público para promover o desenvolvimento desse segmento. “Existem trabalhos em revistas científicas que mostram que esse modelo é capaz de atender a demanda global, desde que possa se multiplicar”, finaliza.

A Korin Alimentos, liderada por Demattê, é apenas uma das empresas do grupo. Além dela, existe a Korin Bioinsumos, que atua com biológicos e o desenvolvimento desses produtos.
Outra empresa do grupo é a Korin Varejo Consciente, que cuida de nove lojas físicas da Korin, onde são vendidos os produtos da marca. Segundo o CEO da Korin Alimentos, esse negócio passa por uma reestruturação para se expandir em 2025.

Por fim, a Korin Cozinha Industrial é usada internamente pela Igreja Messiânica e é uma espécie de restaurante dentro de uma unidade do grupo religioso.