O produtor interessado em fazer corretagem de commodities que ligasse, em 2010, para o escritório dos primórdios da JPA Agro não sabia, mas era atendido em uma situação curiosa.

Do outro lado da linha, com o telefone nas mãos em Lavras (MG), Leandro Avelar atendia as ligações para tratar do aspecto comercial do negócio. Quando o assunto era financeiro, colocava a chamada no mudo, gritava pelo pai, com um toque de improvisação, transferia a conversa para o "setor responsável" — numa empresa que, na verdade, era tocada apenas pelos dois.

“Começamos no negativo, nem do zero foi, comigo e meu pai, dentro de uma salinha de casa, atuando com uma corretora de commodities agrícolas. Na época, compramos polpa cítrica, subproduto dos citros, e, com uma alta no preço do milho, o produto virou febre”, disse Avelar.

A então corretora evoluiu, se transformou em distribuidora, ampliando o serviço para farelo de soja e de trigo, e em meio a questões tributárias que envolviam o recebimento de produtos de um estado para venda em outro, abriu filiais fora de Minas Gerais. Por fim, se transformou em um marketplace.

De lá pra cá, novos produtos entraram no escopo da empresa e a JPA Agro teve em 2024 um GMV (Gross Merchandise Volume), ou seja, um volume de transações realizadas na plataforma de R$ 500 milhões. Para este ano, a expectativa, segundo Avelar, é atingir R$ 750 milhões.

Hoje são negociados na plataforma sementes, defensivos, fertilizantes, produtos de nutrição e saúde animal e até máquinas, implementos e serviços. O setor mais atendido é o de pecuária de leite.

Para crescer neste ano, Avelar diz que tem investido em inteligência artificial para reforçar o canal de vendas. A ideia é criar um chatbot em que o cliente tire suas dúvidas sobre qual produto usar em determinada cultura em um momento específico e receba as opções de compra dentro do marketplace.

“Sinto que temos que trilhar esse caminho e por isso estamos desenvolvendo essa IA com professores da UFLA (Universidade Federal de Lavras), para muni-la de informações sobre os produtos que vendemos”

A JPA tem presença em todo País, principalmente, além de Minas Gerais, no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Bahia.

Desde os primórdios, ainda na venda 100% física, a JPA atua também cedendo crédito aos clientes, numa dinâmica tradicional no setor. Com funding próprio, Avelar e sua equipe apostam na expertise que a empresa tem no agro para manter uma inadimplência baixa.

Além do tempo de atuação no mercado, Leandro Avelar é filho de engenheiro agrônomo e atua como produtor rural, mesmo formado em administração de empresas com uma pós-graduação feita na Suíça.

Em Lavras, sede da JPA, possui com outros sócios uma fazenda de 1,8 mil hectares, com um centro de armazenagem, onde planta soja, milho e feijão. O empreendimento agrícola tem o nome de Unisafra.

No ano passado, a JPA, por meio de seu braço JPA Cred, concedeu R$ 180 milhões em crédito a clientes, um avanço de 80% frente a 2023, tudo com funding próprio.

Para 2025, a expectativa é atingir os R$ 250 milhões, e dessa vez, com auxílio de terceiros.

Avelar revelou ao AgFeed que a companhia está estruturando um FIDC, no qual comprará R$ 60 milhões em cotas subordinadas. As cotas mezanino e sênior ficarão com outros investidores, que a empresa espera captar nos próximos meses através de um roadshow.

A ideia é captar mais R$ 40 milhões por fora, criando um fundo de R$ 100 milhões para financiar clientes.

“Queremos aproveitar o nosso ecossistema. Hoje o mercado de leite, onde atuamos com mais força, tem um milhão de produtores, sendo 300 mil que administram de forma profissional. Os outros 700 mil vivem de subsistência e queremos furar essa bolha para ajudá-los no financiamento de galpões e vacas”, exemplifica o CEO e fundador da JPA.

A JPA atua ainda em parcerias com indústrias de laticínios, financiando a compra de vacas para produtores, assim como é feito nos moldes das granjas de aves.

A companhia já fez parcerias com grandes nomes do setor lácteo como Danone e Verde Campo, e cita conversas com outro gigante, a Lactalis Brasil, para financiamento dos animais.

“Esse ano começou acelerado no crédito, com muita antecipação de recebíveis. Vamos seguir com esse fundo para mostrar que o setor de leite, mesmo pulverizado, tem recorrência”, afirma.