Não é incomum ver a gigante brasileira de alimentos JBS envolvida em boatos que a colocam como potencial compradora em transações bilionárias, graças a seupoder financeiro e a um histórico de arrojo nos negócios.
Nesta quinta-feira, 24 de outubro, novos rumores circulam envolvendo a companhia dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Desta vez, o roteiro é verossímel, se não provável.
Segundo informações publicadas pela Reuters, a companhia estaria disputando com a mexicana Sigma a compra da Oscar Meyer, negócio de cachorros-quentes, frios e bacon da gigante de alimentos embalados Kraft Heinz.
Segundo fontes ouvidas pela agência de notícias, a marca valeria quase US$ 3 bilhões. A vontade da Kraft Heinz em vender essa subsidiária não é nova. Em abril deste ano, o The Wall Street Journal já havia noticiado que a companhia seria colocada no mercado.
A estratégia da empresa estaria alinhada com uma reorganização de portfólio, que tem foco em dar mais destaque a alimentos mais saudáveis.
O movimento ocorre em meio à crescente dos medicamentos para perda de peso com o Ozempic lá fora, que pesam na demanda de alimentos processados.
O boato envolvendo JBS e a marca de carnes da Heinz não é de agora, e alguns analistas do mercado já observavam o frigorífico brasileiro como possível comprador do ativo, que já faz alguns meses que tenta ser vendido pela companhia.
Em junho, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da JBS, a analista do BofA, Isabella Simonato, escreveu em um relatório enviado a clientes do banco que a JBS poderia ser uma das interessadas em adquirir a Oscar Mayer.
"A JBS poderia ser uma potencial compradora para o ativo, já que sua estratégia se baseia na expansão de suas plataformas globais. Esta estratégia pode ser apoiada pela esperada listagem das ações da JBS nos EUA", pontuou a analista em relatório divulgado na época.
Segundo Simonato, a desalavancagem da JBS seria algo fundamental para que esse tipo de negociação possa ocorrer. Ao longo dos últimos trimestres é justamente isso que vem acontecendo.
A alavancagem é medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda de uma empresa. Na JBS, considerando os dois números, o indicador estava em 3,7 vezes ao final de março de 2024. No final do ano passado, a alavancagem estava em 4,3 vezes.
A meta da JBS era que esse indicador chegasse até o final deste ano em 3 vezes, mas segundo a direção, a tendência é chegar a uma relação de 2,5 vezes, o que abre espaço para pagar dividendos aos acionistas e também realizar investimentos e aquisições.
Outro aspecto que pode motivar a venda é uma desaceleração nos negócios da Kraft Heinz. Em julho, quando divulgou resultados trimestrais, a empresa cortou sua projeção de faturamento deste ano.
Ao final do segundo trimestre, a empresa divulgou uma receita de US$ 6,4 bilhões, abaixo das projeções de analistas de Wall Street, que esperavam US$ 6,5 bilhões.
Nesse meio tempo, a Heinz ainda viu a gestora 3G Capital, do trio de bilionários da Americanas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, vender sua participação no negócio.
Sem muito alarde, a 3G zerou sua posição de 16% no negócio no meio deste ano. Hoje, o maior acionista da empresa é Warren Buffet, que possui 26,8% da empresa.
Outro problema que envolve a Heinz é o clima. As crescentes ondas de calor mundo afora têm prejudicado o cultivo de azeitonas e mostardas na Europa, e mais recentemente, atingiu as produções de tomate da empresa.
Uma reportagem recente da Bloomberg mostrou que as plantações que servem a empresa, que ficam na Califórnia, enfrentaram o mês de julho mais quente da história, com temperaturas que bateram 38 graus.
Especialistas ouvidos pelo veículo de economia não souberam ao certo dar a dimensão da perda. "Algumas pessoas dizem 20%. Outros, que ninguém sabe", disse Patrick Sheridan, vice-presidente global da Kraft Heinz para agricultura e sustentabilidade, à reportagem.