Com sede e uma das suas unidades industriais no Rio grande do Sul, a Irani Papel e Embalagens acompanhou de perto, entre abril e junho, os efeitos da tragédia climática que provocou impactos profundos no Estado.
Um reflexo menor desse período difícil está refletido no balanço trimestral da companhia, divulgado nesta quarta-feira, 31 de julho. Parte da queda das receitas pode ser atribuída ao aumento dos custos nas vendas para o mercado externo e às despesas com logística relacionada às chuvas.
A Irani Papel e Embalagens fechou o segundo trimestre de 2024 com lucro líquido consolidado de R$ 40 milhões, redução de 82,5% na comparação com o mesmo período de 2023.
A redução acentuada tem também outra justificativa, essa puramente contábil. No mesmo trimestre do ano passado, a empresa obteve um reconhecimento no resultado de créditos de PIS e Cofins sobre a aquisição de aparas, levando a um efeito não-recorrente de lucro líquido de R$ 161,1 mil, o que inflou o dado na época. Descontado esse fator, o lucro líquido recorrente de abril a junho de 2024 foi 40,8% abaixo do visto um ano antes.
Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e exaustão (Ebitda) ajustado exibiu ligeira alta de 0,8% na base anual, para R$ 118 milhões. Com isso, a margem Ebitda ajustado ficou em 30,0%, subindo 0,3 ponto percentual (p.p.).
Com a receita líquida não foi diferente, que teve leve redução de 0,3%, para R$ 393,4 milhões entre abril e junho, mesmo com a alta de 11,6% no montante exportado.
A Irani trabalhou com taxa de câmbio média de R$ 5,22 no trimestre, contra R$ 4,95 no segundo trimestre do ano anterior. O segmento de embalagens representa 57% da receita líquida da empresa, seguido por papel (37%) e resina (6%).
“Os números foram fracos, mas dentro do esperado. A queda da receita foi afetada pelas vendas fracas no mercado interno (-2,1%), algo que a Irani vem sinalizando há quase um ano”, diz o relatório da Guide Investimentos sobre os resultados da companhia.
A análise da casa foi uma das que relacionou o resultado ao evento climático no Sul. O segmento resinas sustentáveis (Breu e Terebintina) sentiu mais impactos, com recuo de 7,1% nas vendas ante o mesmo trimestre de 2023, alcançando 3,3 mil toneladas.
A Guide reforça que os dados de lucro e receita também refletem a redução nos preços de papelão ondulado durante o ano passado, menor variação do valor justo dos ativos biológicos e uma maior depreciação devido aos investimentos na plataforma Gaia.
Vendas de outros segmentos sobem
Já o BTG Pactual, em sua análise, destaca que a Irani mostrou outro trimestre de crescimento em volume e ganhos de participação de mercado, com embarques totais tendo aumento de 8% no comparativo anual, após um processo de aceleração suave da nova linha de papelão ondulado - segmento embalagens sustentáveis -, em Santa Catarina.
As vendas do segmento chegaram a 41,9 mil toneladas entre abril e junho, crescimento de 8,4% em relação ao mesmo período do ano passado, diante de um mercado mais aquecido em 2024 e da aceleração da capacidade produtiva adicionada pelo projeto Gaia II.
O segmento de papel para embalagens sustentáveis, por sua vez, teve vendas de 301,7 mil toneladas, também com alta de 8,4% na base anual. A Irani comentou em seu relatório financeiro que as variações refletem aumento de vendas de papel flexível para o mercado externo.
Segundo semestre melhor
O segmento de aparas também sofreu consequências pelas fortes chuvas no estado gaúcho, que provocaram a paralisação das atividades de fornecedores importantes por um período.
Contudo, com a retomada das atividades dos aparistas no Rio Grande do Sul e o retorno das embalagens expedidas no primeiro semestre, a Irani acredita em um maior equilíbrio entre oferta e demanda para os próximos meses até o fim do ano.
Desta forma, os analistas da XP, Fernanda Urbano, Guilherme Nippes e Lucas Laghi, veem a empresa de papel e embalagens tendo um desempenho operacional melhor nos próximos dois trimestres.
Os analistas do BTG, Caio Grener e Leonardo Correa, também vislumbram a indústria de papelão ondulado em situação “bastante saudável”. Eles preveem fundamentos sólidos de procura no futuro, ajudando a Irani a manter margens elevadas.
Por outro lado, acreditam que o papel terá custos mais elevados alguns trimestres a frente, o que pode pressionar as margens da empresa.
Ainda sobre as aparas, o segmento representou 19% do custo total da companhia no segundo trimestre. Segundo a Irani, o mercado estava aquecido nos primeiros seis meses do ano, o que levou o mercado fornecedor a iniciar um movimento de reajuste de preços no fim de março, o que deveria ocorrer gradativamente ao longo deste ano. O preço por tonelada da empresa subiu 10,6% em um ano.
A equipe do BTG, contudo, questiona se a companhia será capaz de repassar os custos de inflação. “Temos discutido há algum tempo que, com o projeto Gaia em jogo, agora o caso de investimento tornou-se dependente da capacidade da empresa de aumentar os preços, pelo menos, em linha com a inflação”, avalia.
Além disso, os analistas do banco complementam que veem o mercado de papelão ondulado no Brasil em ponto de inflexão.
Ao fim do pregão da quarta-feira, as ações ordinárias da Irani fecharam em queda de 2,54%, negociadas perto de R$ 8,45. O desempenho dos papéis ficou negativo pelo terceiro mês seguido ao encerrar julho com perdas de 0,35%. No ano, a Irani tem desvalorização perto de 19% na B3.