As ações da Raízen começaram o dia em baixa de 1% nas negociações da B3 nesta terça-feira, 15 de agosto. A performance andava na contramão de seus pares setoriais, que apresentavam alta motivada pela informação de que a Petrobras resolveu reajustar para cima o preço dos combustíveis no país, avaliando a defasagem perante os preços internacionais.
Alta nos preços de combustíveis são sempre boas notícias para quem tem no etanol um de seus principais produtos. Por isso, quando a estatal reajusta para cima o preço nas bombas, outras distribuidoras tendem a seguir o movimento e também se valorizarem.
A cotação mais baixa da Raízen, companhia produtora de etanol, açúcar e combustíveis, tinha outra razão: a aparente insatisfação de investidores com os números apresentados pela empresa na noite anterior.
Eles informam que a Raízen encerrou o primeiro trimestre de seu ano-safra 2023/24, que foi de abril até junho, com um lucro líquido ajustado de R$ 527 milhões, 51,5% menor do que o visto no mesmo momento da temporada anterior.
A queda no resultado líquido acompanhou uma baixa também na receita, que encerrou junho em R$ 48,8 bilhões. Nesse mesmo trimestre do último ano-safra, o montante foi de R$ 66 bilhões, 26,3% maior.
Segundo a Raízen, o desempenho da receita líquida abaixo do que se viu um ano antes refletiu um “menor volume comercializado, parcialmente compensado pelo melhor preço de venda”.
Por segmento, a área de combustíveis renováveis e açúcar teve uma receita 38,6% menor, saindo de R$ 16,1 bilhões para R$ 9,8 bilhões.
Nos renováveis, o volume de vendas do etanol recuou 23,3%, para 1 milhão de metros cúbicos. Já o açúcar ficou em 1,9 milhões de toneladas vendidas no período, queda de 29,3%.
Para o analista Thiago Duarte, do BTG Pactual, a Raízen iniciou a safra com um trimestre que pode ser de difícil digestão para os investidores. Ele citou que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) ajustado ficou 20% abaixo das expectativas, em R$ 1,9 bilhão.
“A queda ocorreu devido à decisão de adiar grande parte dos volumes de venda de açúcar e etanol produzidos e às fracas margens de distribuição de etanol e combustíveis em meio a perdas de estoque”, disse Duarte em relatório.
Isso aconteceu a despeito de a moagem de cana da Raízen ter avançado 1,5% no trimestre, para 26,8 milhões de toneladas.
"O clima mais propício durante a entressafra contribuiu para a expansão. Com avanço na moagem, devemos ter uma produção de 80 milhões de toneladas de cana nesta safra", disse a companhia no seu balanço.
Se esse montante se confirmar, a Raízen teria um aumento de 8,8% na sua moagem na safra completa frente à temporada anterior. Isso poderia indicar que os próximos trimestres seriam melhores.
Na percepção do head de agro, alimentos e bebidas da XP, Leonardo Alencar, enquanto a Raízen teve números positivos na operação de açúcar, pois segurou as vendas e aumentou os estoques em 38%, a unidade de renováveis permanece sob pressão frente uma política de preços pouco clara no país.
“Vemos muitas iniciativas na direção certa, como melhores rendimentos agrícolas, usinas de etanol de segunda geração (E2G), preços mais altos do açúcar e prêmios mais altos para o etanol. No entanto, as perspectivas macro e a recuperação das margens no curto prazo são incertas”, disse Alencar.