O mercado financeiro é bastante conhecido pelos termos peculiares usados entre profissionais e investidores, alguns deles em inglês. Uma expressão que se encaixa perfeitamente nesta categoria é o “short squeeze”.

Muito utilizado no ambiente de negociação de ações, traduzir literalmente é complicado. Na prática, “short squeeze” significa que investidores que apostam na queda de um determinado ativo ficam pressionados a reverter estas apostas, porque os fundamentos da empresa apontam para uma tendência de alta, ou porque as ações efetivamente estão em trajetória positiva consistente.

Com essa pressão, esses investidores se veem obrigados a zerar essa posição, que é construída via aluguel de ações. O investidor aluga as ações, vende imediatamente, e se tudo der certo, compra novamente por um valor menor, no momento em que o contrato de aluguel se encerra.

Com a ação subindo, ou ao menos apresentando sinais de alta, o investidor que fez esse tipo de operação corre para diminuir seus prejuízos. Compra novamente a ação para devolvê-la ao seu dono original.

Isso provoca um aumento da procura pelo papel, e impulsiona seu preço. Segundo um relatório da XP Investimentos, esse fenômeno pode acontecer com as ações da Minerva.

Na segunda-feira, dia 22, a ação ordinária da companhia fechou cotada a R$ 6,75, menor preço desde março de 2019. Nesta terça-feira, dia 23, o papel fechou a R$ 7,15, com alta de quase 6%.

A XP aponta alguns fatores que podem contribuir para uma valorização da Minerva não só hoje, mas nos próximos meses. Um deles é o resultado do quarto trimestre de 2023, que será divulgado no início de março.

Segundo os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, os números do final do ano passado virão fortes.

A receita líquida deve subir 9% em um ano e 5% em relação ao terceiro trimestre de 2023. As margens também devem melhorar, com a margem Ebitda ficando em 10,6%, contra 10,1% do período imediatamente anterior.

Em relação ao quarto trimestre de 2022, a empresa deve reverter o prejuízo de R$ 25 milhões, apresentando ganhos de R$ 154 milhões entre outubro e dezembro de 2023.

Mas no mercado financeiro, o passado importa menos que o futuro. “Projetamos resultados sólidos ao longo de 2024”, dizem os analistas da XP. Os profissionais ainda não divulgaram suas projeções para este ano.

Outro ponto de otimismo levantado pelos analistas é o processo para a aprovação da compra das plantas de abate da Marfrig pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Em dezembro, após o Cade apresentar questões sobre a operação, alguns advogados apontaram o risco de atraso na aprovação.

Mas a XP ressalta que a Minerva respondeu aos questionamentos mais rapidamente que o esperado. Em alguns estados, a concentração de abate de bovinos vai ultrapassar os 20%, como em Rondônia, ou existe uma sobreposição regional, como nos casos de Mato Grosso e Goiás. Nesses casos, o Cade resolveu seguir uma análise mais criteriosa, que pode levar mais de 120 dias.

“No entanto, nos outros estados, esperamos uma análise acelerada, deixando espaço para a aprovação já no final do primeiro trimestre de 2024”, diz a XP. Essa análise mais rápida, chamada de rito sumário no Cade, pode levar cerca de 20 dias.

Por último, a XP aponta que a Marfrig forneceu os dados financeiros das plantas vendidas para a Minerva, mas ainda sem uma visão clara. “Conforme apresentação de resultados do terceiro trimestre de 2023 da Marfrig, as operações tiveram receita líquida de R$ 3,3 bilhões no trimestre, com margem Ebitda ajustado de 14,4%”, diz o relatório.

Os analistas lembram que, no ano passado, os investidores reagiram fortemente a alguns eventos que poderiam prejudicar as operações da Minerva, como o caso atípico de vaca louca, lucros abaixo do esperado e até mesmo a compra das plantas da Marfrig.

Ainda há uma desconfiança por parte dos operadores sobre a empresa, segundo a XP, o que inibe a compra das ações. No entanto, “a combinação do quebra-cabeça” montado por esses pontos levantados pode levar a uma reversão desse cenário.

O relatório do banco aponta que as posições vendidas na ação da Minerva chegam a 14% do total de papéis que estão em livre negociação na Bolsa. É um patamar considerado alto. Uma corrida para zerar essas posições pode provocar uma alta expressiva e rápida na cotação da Minerva.