Deveria ser uma parceria, virou uma espécie de corrida entre os dois antigos potenciais parceiros. E disputada no “quintal” de um deles e um dos principais polos do agronegócio brasileiro: Rondonópolis.

O município do Mato Grosso pode vir a receber nos próximos anos dois investimentos bilionários em usinas de etanol de milho, somando mais de R$ 5 bilhões em aportes.

Um deles deve ser da Amaggi, que já mantém na cidade uma área reservada para o projeto e, com operação de produção e originação de grãos, além de biomassa para a geração de energia, já teria iniciado os procedimentos para obter as licenças necessárias – a empresa ainda não confirmou o investimento, que chegaria a R$ 2,5 bilhões.

O segundo, sim, já está anunciado. A Inpasa, maior produtora do biocombustível e maior exportadora de DDGS do País, confirmou que pretende erguer em Rondonópolis sua décima unidade industrial.

Segundo informações antecipadas nesta quinta-feira, 18 de dezembro, pelo jornal Valor Econômico, o projeto consumirá R$ 2,77 bilhões em recursos próprios e resultará em uma usina capaz de processar anualmente 2 milhões de toneladas de milho, resultando em 1 bilhão de litros de etanol, 490 mil toneladas de DDGS e 47 mil toneladas de óleo. O início da operação está previsto para o início de 2027.

Os números e o cronograma são semelhantes ao do projeto anunciado em agosto passado e que seria o primeiro de uma joint venture a ser formada entre as duas gigantes do agronegócio.

Na ocasião, Inpasa e Amaggi informaram ter chegado a um acordo para investimentos conjuntos em pelo menos três plantas no estado do Mato Grosso, a primeira delas justamente em Rondonópolis – as seguintes estavam previstas para Campo Novo dos Parecis e Querência.

Cada uma delas teria a capacidade de processamento em torno das 2 milhões de toneladas de milho por ano e exigiria aportes de R$ 2,5 bilhões.

Em meados de outubro, entretanto, um novo comunicado das duas empresas informou que a parceria não seria levada adiante devido a visões diferentes na governança do projeto conjunto.

No primeiro momento, a desistência de formar a joint venture frustrou políticos e produtores nos municípios que já aguardavam pelas novas plantas. Agora, pelo menos em Rondonópolis, que havia comemorado a usina conjunta como “o maior investimento da história”, a perspectiva voltou em tamanho dobrado.

Uma das maiores produtoras e originadoras de grãos do País, a Amaggi colheu em suas lavouras, na safra 2023/2024, mais de 400 mil toneladas de milho. Além disso, a trading da companhia da família Maggi se relaciona com mais de 5 mil produtores, o que permite que ela tenha comercializado, no ano passado, mais de 18 milhões de toneladas de commodities agrícolas.

Se para a Amaggi, a já forte presença na região facilita a obtenção de matéria-prima e biomassa, a Inpasa também acredita que não terá dificuldades em abastecer sua usina com os insumos necessários.

Por ser um hub logístico importante, inclusive servido pela Ferrovia Norte-Sul, a originação do milho de regiões um pouco mais distantes seria facilitada. Além disso, segundo disse o CEO da empresa, Eder Odvar Lopes, ao Valor Econômico, “Rondonópolis está em um mar de biomassa”.

Além do investimento no município, a Inpasa confirmou que deve investir outros R$ 700 milhões na ampliação da produção em sua planta de Nova Mutum, também no Mato Grosso. Com os recursos, seria inaugirada uma terceira fase da usina, adicionando 1 milhão de toneladas de milho à sua capacidade de processamento. Nesse caso, a operação seria iniciada em 2026.

Com isso, a companhia teria quatro projetos em implantação simultânea a partir de 2026. Um deles, o da planta de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, tem previsão de inauguração para os primeiros meses do próximo ano. O outro, ainda está em fase inicial e será a primeira planta da companhia no estado de Goiás.

Localizada em Rio Verde, a usina deve exigir investimentos de R$ 2,4bilhões e processará, a partir do final de 2026, 2 milhões de toneladas anuais de milho, segundo anunciado em cerimônia realizada no município para o lançamento da pedra fundamental do projeto, ocorrida no final de outubro passado.

Quando concluídos, os projetos elevarão em 50% a capacidade de produção da Inpasa, passando a 8,6 bilhões de litros ao ano.

Resumo

  • Inpasa confirma R$ 2,77 bilhões para construir usina de etanol de milho em Rondonópolis (MT), onde antes haveria parceria com a Amaggi.
  • A planta deve processar 2 milhões de toneladas de milho por ano e produzir 1 bilhão de litros de etanol, com início das operações previsto para 2027
  • Além disso, a empresa investirá R$ 700 milhões em Nova Mutum e tem projetos na Bahia e em Goiás, ampliando em 50% sua capacidade produtiva