Seca nos rios do Arco Norte, restrições de calado nas vias para o Sul. O cenário para a Hidrovias do Brasil, uma das principais operadoras logísticas do País, trouxe dificuldades em várias frentes em 2023, com os efeitos do El Niño provocando secas e impactando a navegação nas principais bacias fluviais brasileiras.
Ainda assim, o balanço divulgado pela companhia após o fechamento dos pregões desta quarta-feira, 20 de março, trouxe notícias positivas para os investidores. “Encerramos o ano de 2023 com resultado levemente superior ao guidance previamente divulgado pela Companhia”, afirmou Fabio Schettino, diretor presidente da empresa, no comunicado que acompanhou os resultados.
A receita líquida ficou em R$ 1,9 bilhão, 7% acima que 2022, mas, segundo Schettino, ainda “abaixo da capacidade plena em função das externalidades não controláveis”. Melhor que isso, o Ebitda ajustado subiu 3,1% para R$ 780,3 milhões, com margem de 40,5%.
Norte e Sul tiveram dificuldades, mas as externalidades impactaram de forma diferente os resultados nas duas frentes. A hidrovia Paraná-Paraguai, por exemplo, sofreu em outubro com as restrições de navegação, mas nos nove meses anteriores os volumes recordes transportados fizeram com que os volumes transportados nesse corredor crescessem 15,7% e a receita operacional líquida, 5,5%.
Já o “desafio atípico” da seca na região Norte no último trimestre, fez com que o volume final transportado fosse reduzido em 4%, gerando receita 1% inferior a 2022.
Ao final das contas, somando também as operações marítimas, a Hidrovias transportou volume recorde de 18,1 milhões de toneladas de cargas. Grãos e fertilizantes, ao Norte, e minério de ferro, ao Sul, foram os itens mais transportados.
“Operamos os nove primeiros meses de 2023 com condições de navegação muito positivas e, em grande parte deste período, com calados superiores às médias históricas no Corredor Sul, nos garantindo movimentação de volume recorde na Hidrovia Paraná-Paraguai”, explicou a empresa nas notas do balanço.
Os rios da região sofreram, entretanto, redução abrupta do calado em outubro de 2023, o que levou a empresa a navegar por meio de “plano de águas baixas” no quarto trimestre do ano.
Essa situação, segundo a empresa, impactou “o ciclo operacional, o tamanho e o carregamento dos comboios” e, consequentemente, resultou em elevação dos custos variáveis.
A boa safra de grãos do Paraguai, de acordo com a Hidrovias, contribuiu para um aumento de 50% no volume de grãos transportados nesse corredor. O volume de fertilizantes, cresceu 93% no ano, se comparado a 2022.
Ao Norte, a seca que interrompeu a navegação em pontos dos rios amazônicos, levou a companhia a antecipar manutenções que são usualmente realizadas no final de dezembro e início de janeiro.
Segundo a empresa, foi uma forma de “otimizar os ativos e aproveitar o cenário de sazonalidade mais fraca e calados restritivos, liberando a frota para retomada operacional à medida que houvesse regularização das condições de navegação – fato que ocorreu já no início de 2024”.
A movimentação, assim, ficou aquém do previsto no quarto trimestre. Embora nos nove primeiros meses os volumes tenham sido recordes, no consolidado do ano o corredor Norte fechou com um volume de 7,4 milhões de toneladas, 4% abaixo do registrado em 2022.
Para a Hidrovias, os resultados recordes de janeiro a setembro “comprovam a grande competitividade do Corredor Norte para escoamento de grãos originados no Brasil, principalmente no estado do Mato Grosso, e direcionados para o mercado externo”.
Esses grãos representaram 5,3 milhões de toneladas de grãos no sistema integrado, sendo que 1,6 milhão de toneladas de grãos foram recebidos por meio rodoviário no terminal em Barcarena (PA).
“Os portos do Norte continuam em posição de destaque, representando 45% dos grãos produzidos no Mato Grosso e direcionados para o mercado externo em 2023 e Barcarena representou 47% de todo volume escoado através dos portos do Norte”, afirmou a empresa.