Vânia Pankievicz, CEO da GoSolos, afirma que o produtor rural ainda não está acostumado a pagar por uma análise biológica do solo. “Eles só enxergam a relevância desse serviço quando tem algum problema, como a disseminação de uma doença”.

Vencer essa barreira cultural é um desafio do agro como um todo. E uma oportunidade vislumbrada por empreendedores e investidores, que vêem na análise genética dos solos um dos mercados com maior potencial de crescimento nos próximos anos.

Pankievicz tem a mesma visão. Fundada em 2022 como parte do grupo GoGenetic, empresa de biotecnologia especializada em sequenciamento de DNA para análises microbiológicas e genéticas, a jovem empresa começou a acelerar e busca abrir espaço nesse segmento emergente.

“O primeiro ano foi para conhecer o mercado e para consolidar o serviço. A partir de agosto de 2023, crescemos o faturamento em 20% ao mês, chegando a R$ 1 milhão no total do ano”, conta Pankievicz.

Para este ano, a CEO da GoSolos projeta quintuplicar o faturamento, chegando a R$ 5 milhões. “Vamos ter que crescer a equipe, que hoje tem sete pessoas. Estamos com quatro vagas abertas no LinkedIn”, conta.

Esse número pode ser ainda maior, caso a GoSolos tenha sucesso na rodada de investimentos que está em preparação, para receber um novo aporte.

“Ainda não temos uma meta de valor para essa rodada, mas a ideia é aumentar de forma acelerada o número de amostras que analisamos”, afirma Pankievicz.

Ela revela que atualmente, a GoSolos analisa 300 amostras por mês, em média. “Temos capacidade de analisar até 2.500 amostras por mês. O potencial ainda é muito grande”.

A GoSolos tem atualmente mais de 200 clientes atendidos. Segundo Pankievicz, o foco é mais voltado para empresas, chegando aos produtores rurais por meio de distribuidoras, consultorias e indústrias.

“Essas empresas acabam repassando o nosso serviço para os produtores. E, depois da análise pronta, nós elaboramos um relatório com as informações mais simplificadas, e com sugestões de manejo para resolver os problemas”, diz a executiva.

A startup fica em Curitiba, mas a atuação é nacional. “Somos mais fortes no Sul, especialmente no Paraná, no Sudeste e no Mato Grosso do Sul. Mas já fizemos análises para Roraima, por exemplo”, conta Pankievicz.

O grande diferencial da GoSolos, segundo a executiva, é disponibilizar suas análises por meio de uma plataforma online. “Apresentamos a análise para o produtor, inclusive para explicar o que encontramos. Isso tudo pode ser feito pela plataforma”.

A logística é uma parte importante do processo, já que quem recolhe as amostras de terra é o próprio produtor. Segundo explicação que consta no próprio site da GoSolos, é enviado um kit de coleta para o produtor, com caixa, tubos de amostragem e espátula.

A empresa inclusive faz uma recomendação sobre como o cliente deve fazer a coleta, com um número de cinco a 12 amostras do mesmo local para ter um resultado mais seguro. Inclusive direciona como deve ser feita a coleta no terreno.

A partir da coleta, o produtor tem três dias para enviar as amostras para a GoSolos. Como explica Pankievicz, por não precisar de refrigeração, os itens podem ser enviados inclusive via Correios.

Então, a GoSolos faz a análise, que segundo a própria empresa, fica pronta em um prazo de 20 a 25 dias úteis.

Encurtar o prazo total do processo, que supera facilmente um mês se somado o período do envio das amostras, é uma questão que pode determinar o sucesso nesse segmento, que tem chamado a atenção de grupos como o Aqua Capital, que em setembro passado anunciou a aquisição da Exata Brasil, empresa de análise com atuação em Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia, como passo inicial da formação de uma plataforma para atuar no segmento.

Na resolução dos problemas identificados no solo, Pankievicz afirma que a startup dá preferência para bioinsumos.

“Nós temos essa preferência, mas sabemos que os biológicos não conseguem resolver todas as deficiências. Mas eu acredito que estamos no caminho de utilizar uma proporção de 50% para cada categoria, biológicos e químicos”.

Ela afirma que os problemas enfrentados para manter um solo saudável são muito dinâmicos, e isso dificulta a utilização de uma solução única.

Ao mesmo tempo, ela enxerga que os bioinsumos estão próximos de dar um passo a mais na evolução. “Acredito que em breve, veremos muitos produtos baseados já nas moléculas necessárias para combater uma deficiência ou um problema, ao invés de usar os microrganismos que produzem essa molécula. Será um biológico mais ‘filtrado’”.