A Galvani Fertilizantes, empresa líder em fertilizantes na região conhecida como Matopiba – entre Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia – não vê a hora de dar novos saltos e conseguir aplicar os investimentos aprovados de mais de R$ 2,54 bilhões para aumentar a produção. Os entraves burocráticos, entretanto, ainda representam um desafio.

Entre os projetos anunciados pela empresa está o Santa Quitéria, no Ceará, com investimento previsto de R$ 2,3 bilhões. Quando estiver pronto deve produzir, anualmente, 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados.

Até o momento, já foram investidos R$ 161 milhões, à espera de uma luz verde que independe da empresa. "O projeto Santa Quitéria está atrasado porque temos uma baixa previsibilidade em relação aos licenciamentos, mas percebemos uma melhora na interlocução junto ao governo, ao Ministério da Agricultura, por isso esperamos que licença prévia saia em 2024”, afirmou ao AgFeed o presidente Marcelo Silvestre.

O executivo diz que é necessário "entender as demandas do licenciamento, tanto a profundidade quanto a extensão dos estudos que tem que ser feitos pra não ter retrabalho", sem dar mais detalhes sobre o tema que deixa o investimento bilionário em suspense.

Enquanto aguarda, a Galvani é ativa no âmbito institucional para destravar também eventuais recursos que possam acelerar projetos em todo o setor.

O presidente da empresa tem, por exemplo, elogiado o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), projeto do governo federal para incentivar a produção nacional e reduzir a importação de matéria-prima. Estima-se que 85% dos fertilizantes no Brasil ainda dependam das importações.

"Precisamos reduzir esta importação para ter mais segurança alimentar, por isso o PNF veio em boa hora. Ele trouxe uma certa priorização do governo para este assunto, dando visibilidade ao setor”, avaliou Silvestre.

O projeto de Santa Quitéria está no PNF desde 2021, quando foi criado. Se sair a licença no ano que vem, a previsão da Galvani é de que a unidade esteja operando em 2027.

Os investimentos anunciados este ano pela empresa não param por aí. Serão investidos R$ 340 milhões na nova fase de operação da unidade de mineração de fosfato em Irecê, na Bahia, “para rodar em 2025”, segundo o executivo. O projeto está em fase de licenciamento ambiental e expectativa é que receba a licença de instalação ainda este ano.

Outro projeto prevê R$ 200 milhões para duplicar a produção da planta de Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano, também em 2025. A produção no local deve subir de 600 mil toneladas, para 1,2 milhão de toneladas.

As entregas de fertilizantes da empresa atingiram um volume recorde de 617 mil toneladas em 2022. Ao final do plano de investimentos, a expectativa é ampliar a capacidade de produção para 2,2 milhões de toneladas.

Debêntures incentivadas

O presidente da Galvani afirma que um dos maiores desafios do setor de fertilizantes no Brasil é o financiamento, já que "o custo de capital é muito alto".

Ele garante que a empresa utilizará recursos próprios para a maior parte dos investimentos anunciados e que possui uma governança estruturada, com conselheiros independentes, "com acionistas brasileiros, que acreditam no Brasil”.

Silvestre admitiu, no entanto, que um dos projetos, a ampliação de Irecê, contou com financiamento a juros subsidiados via Finep, agência de fomento do governo, por se tratar de um investimento que traz inovação. O valor financiado por esta linha não foi informado.

Para que a indústria nacional siga avançando, o executivo defende novas formas de financiamento ao setor.

"Assim como já existe no mercado de infraestrutura, defendemos a criação de debêntures incentivadas, que poderiam ser vendidas no mercado, até mesmo para pessoas físicas, sem a incidência de Imposto de Renda”, afirmou.

O AgFeed apurou que este tema já está no “radar” de quem participa das discussões do PNF, que agora está sendo liderado pelo Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert), envolvendo diferentes ministérios.

Complexo industrial da Galvani em Luís Eduardo Magalhães (BA)

Fontes do setor acreditam que não é algo difícil de aprovar dentro do governo, à medida que já existe este tipo de título para infraestrutura e até mesmo para a mineração, mas somente as indústrias de fertilizantes não estavam contempladas.

O Confert teve sua primeira reunião em junho e a próxima está prevista para novembro, "mas o tema das debentures talvez ainda não entre em pauta, possa ficar para o ano que vem", disseram as fontes ouvidas pelo AgFeed.

Outro fator importante para manter a competitividade da indústria nacional, segundo Marcelo Silvestre, é a isonomia tributária.

Uma mudança mais recente, o chamado Convênio 26, definiu uma mudança gradual que vai deixar em 4% a alíquota do imposto tanto para a importação quanto para a produção nacional de fertilizantes a partir de 2025.

Silvestre disse que antes desta mudança, as indústrias nacionais, como a Galvani, pagavam 8%, enquanto os importados não eram tributados. O setor agora trabalha para que a Reforma Tributária mantenha o critério da isonomia.

Em paralelo, a Galvani tem apostado em projetos ESG, conseguindo a aprovação recente de uma primeira operação de "financiamento verde”.

Com o objetivo de reduzir em 50% o consumo de água de poço artesiano na fábrica de fertilizantes de Luís Eduardo Magalhães, a empresa captou R$ 15 milhões, mas o investimento previsto é de R$ 20 milhões.

Segundo a empresa, trata-se de um projeto aprovado pela consultoria Nint e adequado aos parâmetros do Green Bond Principles, mas o agente financeiro não foi revelado.

Mercado atípico

Assim como boa parte do setor de insumos, a Galvani também registrou queda nas encomendas no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período de 2022, apesar de não revelar números.

"Como o preço da soja caiu, o agricultor ficou esperando no Q1, já no Q2 houve pouca decisão de compra também, e ficou tudo para Q3, fazendo com que a indústria não tivesse tempo de importar tudo o que o produtor precisaria", disse o presidente da Galvani.

Apesar disso, ele afirma que a empresa já teve, no terceiro trimestre, vendas bem acima do ano passado, por isso acredita que "a indústria vai conseguir suprir a demanda”.

Em 2022, a Galvani registrou R$ 1,6 bilhão de faturamento e prevê um crescimento de 15% para o ano de 2023.

Na visão dele, ainda é possível que as entregas de adubos em 2023 fiquem acima de 42 milhões de toneladas, com crescimento de cerca de 5% em relação ao ano anterior.

"Já estamos com 95% do ano vendidos, mas como a importação veio tardia, atrasou chegada de produto. Vai ter produto para todo mundo, mas com timing um pouco defasado", acrescentou.

Um dos mercados que tem demonstrado ritmo mais lento na comercialização é o adubo destinado ao milho segunda safra, mas, no caso da Galvani, a cultura não é tão expressiva na região em que atua, segundo o executivo. Ali, o destaque é para o cultivo do algodão, que também demanda boa quantidade de insumos.