Não pergunte ao presidente executivo da Frimesa se a direção da cooperativa paranaense arrependeu-se de inaugurar a planta de Assis Chateubriand (PR) - a maior para processamento de suínos da América Latina - no semestre passado. Afinal, um investimento do porte de R$ 1,3 bilhão já havia sido planejado anos antes e as obras não poderiam simplesmente ser paralisadas.

Mas os desafios de 2023 dos setores de suínos e lácteos, os dois negócios da Frimesa, balançam um pouco Elias José Zydek da perspectiva de enfrentar a amortização do aporte e absorver a entrega de suínos pelos cooperados.

A saída, disse ele ao AgFeed, é cortar mais as margens históricas de 3%, sem perder de vista o conceito de cooperativa, que é pagar o máximo possível aos “donos”, os cooperados que fornecem as matérias-primas, reservando uma parte para despesas correntes e obrigações. São cerca de 1 mil granjas de suínos e 2,1 mil leiteiros cooperados.

Desse modo, a Cooperativa Central Frimesa, sediada em Medianeira e com mais quatro plantas no Paraná e outra em Santa Catarina, já sabe que vai fechar 2023 operando com margens de lucro de 2%, enquanto vê o faturamento saltando até 15%. O ano passado, a receita bruta de R$ 5,5 bilhões veio com acréscimo de 9,2%.

“O aumento desse ano vai se dar só por conta do aumento dos volumes que virá com a unidade inaugurada”, informa Zydek, lembrando que serão somados mais 7 mil cabeças de porcos abatidos ao dia, até final do ano, às 11 mil atuais.

A situação do setor é vista quase como similar a várias outras cooperativas de atividades semelhantes, segundo o executivo, que na terça, dia 29, reuniu o mercado para falar dos novos planos de produção sustentável, ampliando o conceito ESG.

O negócio com processados de carne suína, que representa 70% do faturamento da Frimesa, e a deixa como a quarta maior indústria brasileira do setor, está com valores comerciais muito achatados desde o começo do ano e vendas mais fracas.

O mercado internacional - cujo share dos negócios marca 25% - também não ajudou, especialmente com a forte depreciação do dólar entre junho e julho, principalmente.

Na mesma conta de subtração entram os custos elevados com milho e soja. Mas para quem se espanta, ao lembrá-lo que as cotações dos grãos estão em baixa este ano, mais ainda no primeiro semestre, Elias José Zydek abre o parêntese.

Com vendas menores de carne e derivados de leite, não foi dada vazão aos estoques de insumos adquiridos ainda em 2022, a preços bem mais altos. Reforça-se aqui que a cooperativa adquire os insumos e os repassa para os produtores.

Elias José Zydek, presidente executivo da Frimesa

“Ainda estamos consumindo o milho de R$ 80 a saca e não chegou aos nossos custos o preço médio de R$ 50 atualmente”, explica ele, fazendo menção aos valores atuais do cereal com a safrinha cheia de inverno.

Para 2024 esse fator poderá pressionar menos, mas num quadro geral da economia nacional que Zydek ainda não arrisca a palpitar sobre os rumos dos negócios.

No ramo dos lácteos, dono de 30% da atividade da Frimesa, a situação do ano, de preços também deprimidos, importações prejudicando todo o setor – como o AgFeed tratou no começo de agosto -, e gastos maiores em sistema de confinamento como é a produção do Sul, já indica um caminho.

O presidente da Frimesa calcula que haverá desistências de cooperados e, por tabela, a cooperativa deverá encurtar a participação do negócio para 25%. A captação diária está em torno 850 mil litros de leite, abaixo das quase 1 milhão de 2022.

Mas uma aposta está em curso. A Frimesa é considerada uma marca forte entre consumidores, segundo a Kantar, mas a direção preparou extensos levantamentos de redes regionais de supermercados que precisam ser melhor trabalhadas.

E está investindo esforços e recursos – não divulgados – em eventos com atores desse mercado, começando pelo estado de São Paulo. A melhor apresentação dos produtos em reuniões com até 500 pessoas já passou por Ribeirão Preto e passará por Campinas, Guarulhos, Araraquara e Bauru até dezembro.

Zydek destaca que, no segmento de processados de carne, a marca está em quase todo o Brasil, com cerca de 140 itens, mas precisa ganhar mais musculatura abaixo das maiores redes.

No caso de lácteos, com 150 produtos para consumo final, o perfil é mais regionalizado, o que implica mais desafios ao programa de marketing da Frimesa.