O trimestre forte do setor de frigoríficos já era esperado pelo mercado. Os faturamentos bilionários de JBS, Marfrig e BRF, contudo, já fazem analistas de mercado voltarem seus olhos para as empresas e suas ações na Bolsa com olhos mais brilhantes.
Em um relatório distribuído aos clientes nesta segunda-feira, 18 de novembro, o Bank of America (BofA) revisou para cima suas projeções para o setor – a começar pela maior do grupo, a JBS.
A companhia da família Batista atingiu um lucro líquido de R$ 3,84 bilhões no terceiro trimestre de 2024, crescimento de 571% na comparação com o mesmo período de 2023. A receita líquida no período foi recorde e somou R$ 110,5 bilhões.
Isabella Simonato, analista que encabeça o relatório do BofA, aumentou seu preço-alvo para a ação da empresa de R$ 45 para R$ 50 em um universo de 12 meses. Hoje, o papel é negociado por R$ 35, o que traria, caso o banco acerte sua projeção, uma valorização de 42%.
O crescimento projetado para o Ebitda da companhia foi elevado em 13% para 2024 e deve atingir R$ 36 bilhões no acumulado do ano, de acordo com Simonato.
“Aumentamos nossas estimativas mesmo incorporando uma desaceleração de margem no segundo semestre de 2025, dada a normalização do fornecimento de frango. Se o ciclo for positivo por mais tempo, há risco de alta para nossos números”, disse a analista em relatório.
Os analistas ressaltam que a JBS possui a “melhor equação de crescimento e valor” para continuar a distribuição de rendimentos para acionistas no futuro.
Os reflexos dos balanços positivos apontaram que as condições favoráveis do mercado continuarão a beneficiar o setor como um todo. Assim, o BofA também recomenda a compra da ação da Marfrig, com um preço-alvo de R$ 21. Hoje, o papel é negociado na B3 por R$ 16,40, o que abre espaço para uma valorização de quase 30%.
A companhia lucrou R$ 79,1 milhões no trimestre, com uma receita de R$ 37,7 bilhões, ancorada em um bom desempenho da controlada BRF, diversificação de mercado com novas habilitações de plantas e uma alta no dólar.
Para a Marfrig, o BofA estima um Ebitda de R$ 13,9 bilhões no acumulado de 2024. O banco possui recomendação neutra para a BRF, devido principalmente a uma perspectiva de capex maior no ano que vem.
A dona da Sadia e Perdigão registrou um lucro de R$ 1,1 bilhão no trimestre, com uma receita de R$ 15,5 bilhões. Durante uma coletiva com jornalistas para apresentar o resultado, a diretoria projetou investimentos para fazer a operação brasileira aumentar de tamanho.
Fábio Mariano, vice-presidente de finanças da companhia, ressaltou que a capacidade produtiva no segmento in natura já beira o máximo possível no País, enquanto que nos processados ainda há uma ociosidade. A expectativa do BofA é que a BRF some R$ 10,8 bilhões em Ebitda neste ano.
“A demanda por carne bovina, suína e de frango continua muito forte, em todos os principais mercados. Somado a isso, os baixos custos de alimentação permanecem como um vento favorável para as margens de frango”, destacou a analista do BofA.
Dinheiro no bolso dos acionistas
O BofA estima que juntas, as três empresas remunerarão seus acionistas em cerca de R$ 7 bilhões. A JBS, destacada pelo banco, anunciou uma distribuição de R$ 2,2 bilhões. Já a BRF anunciou quase R$ 1 bi em JCP (juros sobre o capital próprio) e a Marfrig, R$ 2,5 bilhões em dividendos.
Nesse bolo de dividendos, somente os acionistas controladores da Marfrig (e por consequência da BRF), Marcos Molina e sua esposa Márcia dos Santos, embolsaram quase R$ 2 bi com os resultados do trimestre.
Em contas simples, sem contar a incidência de impostos e partindo de um princípio que todo dinheiro recebido de proventos iria para o bolso dos acionistas, dos R$ 946 milhões (R$ 0,57 por ação) em JCP que serão distribuídos pela BRF, a Marfrig receberá R$ 484,2 milhões, já que a companhia possui cerca de 849,5 milhões de papéis da dona da Sadia e Perdigão.
Considerando que a MMS Participações, empresa de Molina e sua esposa, possui cerca de 65,91% da Marfrig, desse total, R$ 319 milhões foram para o bolso dos dois.
Na BRF, essa foi a primeira distribuição desde 2016. De lá pra cá, entre a compra de participação da Marfrig e outros movimentos, a BRF acumulou anos de prejuízo e complexidade em suas operações, o que parece ter ficado para trás.
Somando isso aos R$ 2,5 bilhões que a Marfrig distribuirá em dividendos, e subtraindo os R$ 484 milhões advindos da BRF, a MMS ainda ganharia mais cerca de R$ 1,4 bilhão. Na prática, Molina, que é presidente dos conselhos das duas companhias, recebeu quase R$ 2 bilhões em dividendos e JCP nas duas distribuições.
Outra conta interessante a se fazer é o retorno do Salic, que possui 10% da BRF e nessa distribuição, garantiu R$ 105 milhões de JCP. No ano passado, o fundo saudita pagou R$ 2 bilhões pela participação na companhia, pagando R$ 9 por ação.
Considerando que de lá pra cá o papel valorizou 33%, a participação do Salic na BRF hoje vale R$ 2,6 bilhões. Supondo que o fundo decidisse vender toda sua participação, teria um lucro de cerca de R$ 700 milhões em menos de um ano de investimento (considerando a alta do papel e o JCP recebido).
Isabella Simonato, do BofA, considerou “significativo” o retorno de caixa dado aos acionistas no período em resposta a um forte fluxo de caixa das operações de BRF e JBS, e na entrada da venda de ativos no caso da Marfrig.
Para a BRF, mesmo que haja espaço para novos retornos, o banco espera “mais volatilidade” na distribuição.
“Na Marfrig, vemos os dividendos anunciados de R$ 2,5 bilhões como um ‘evento único’ e relacionados a um potencial ganho de capital da venda de ativos para a Minerva no quarto trimestre. Assumimos que o excesso de caixa será usado para desalavancar a holding”, acrescentou Simonato.