O que leva uma usina de cana já plantada sobre um solo de excelente retenção de água a decidir investir em uma nova etapa de irrigação?
A resposta do dono da Maity Bioenergia, Antônio Celso Izar, é aumentar ainda mais a produtividade, que lá onde está instalada, em Campestre do Maranhão, no Oeste maranhense, já bate tranquilamente as 95 toneladas médias por hectare – até 130 em alguns talhões.
São números de fazer inveja à maioria dos produtores do eixo produtor do Centro-Sul do País, que concentra hoje a maior parte dos investimentos do setor sucroenergético no País. Mas Izar não se dá por satisfeito.
O projeto de irrigação está sendo finalizado na faixa de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões e deverá ser solicitado, nos próximos dois meses, ao Banco do Nordeste, sob expectativa do empresário paulista de que a liberação saia ainda neste semestre e ele possa iniciar os trabalhos de montagem na próxima entressafra, de dezembro e abril.
Inicialmente, o planejamento abrange 600 hectares em regime de irrigação por gotejamento, dos 8 mil com cana atualmente. A fazenda da empresa, que tem mais 2 mil hectares agriculturáveis disponíveis de 16 mil/ha de área total, já possui um pequeno trecho de irrigação autopropelida, mas de custo e logística mais complicados.
“A nossa intenção é extrair o máximo de produtividade e chegarmos a 100% irrigados em até 10 anos”, explica o presidente da usina.
A explicação para buscar uma meta perene de 130 toneladas decana, ou mais, por hectare, e que ainda por cima permite chegar acima de 8 cortes (8 safras) - enquanto em São Paulo a média é de 80 t/ha e máximo ideal de 7 cortes -, pode ser extraída da safra atual.
Das 660 mil toneladas que vão rodar as moendas nesta temporada de maio a novembro, mais de 600 mil é de cana própria. Vem sendo essa proporção desde que a Maity entrou em operação, em 1989.
Segundo Antônio Celso Izar, o crescimento da empresa depende ainda quase 100% de si mesma. “Infelizmente”, pontua, a capacidade de gestão empresarial da maioria dos pequenos agricultores vizinhos, nessa região fronteiriça ao Tocantins, não permite que a operação da usina possa contar com fornecedores independentes.
“Mas começamos a ver grandes produtores de soja que estão olhando a possibilidade de entrarem na cana para nos atender, devido aos baixos preços e custos elevados de produção”, indica o empresário. A garantia de compra da cana é outra vantagem que o empreendedor oferece, “sem a volatilidade de preços dos grãos”.
Já há negociação para 2 mil hectares que serão plantados em 2024, com mudas fornecidas pela Maity. Embora os acordos estejam sendo firmados mais ao Sul de Campestre do Maranhão, na região de grãos de Imperatriz – aliás onde a usina tem a sua sede -, os volumes maiores compensarão a distância.
Rumo a mais etanol
Assim, em 2025, quando esses acordos com outros produtores estiverem de fato em produção de cana, a Maity Bioenergia poderá chegar à capacidade instalada de 1,2 milhão de toneladas processadas. O seu proprietário lembra, porém, que o layout industrial permite até triplicar a capacidade sem precisar abrir outra unidade.
No retrato atual das operações da safra, as 660 mil toneladas de cana projetadas serão em torno de 20% superior ao ciclo 22/23, com uma diferença bastante acentuada do cenário das usinas do Centro-Sul: a proporção será de 65% a 70% para etanol, em torno de 40 milhões de litros.
O mix, que já era maior para o combustível renovável, crescerá, enquanto o açúcar cairá para algo em torno de 500 mil sacas.
De acordo com Izar, as distâncias para o Maranhão ser abastecido de etanol do Nordeste, mais a logística prejudicada por estradas ruins, oferecem vantagens de preços para o etanol superiores aos prêmios que, de Goiás ao Paraná, o setor produtivo está auferindo com o açúcar.
Em tempo, Maity é açúcar no idioma carajá.