A São Martinho, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do Brasil, foi uma das empresas do setor mais afetadas pelas queimadas que arrasaram São Paulo no fim de agosto. Ao todo, 20 mil hectares foram atingidos pelas chamas.

O fogo não foi, no entanto, suficiente para causar prejuízos extensos aos resultados do segundo trimestre da safra 2024/25, divulgados pela companhia na noite de segunda-feira, 11 de novembro. As principais mudanças do relatório apresentado pela empresa vieram no guidance para a safra 2024/2025.

“A cana-de-açúcar atingida foi processada sem impactos significativos no Açúcar Total Recuperável – ATR em relação ao Guidance de Produção para Safra 2024/2025”, afirmou a São Martinho.

Assim, a receita líquida auferida pela companhia foi de R$ 1,96 bilhão no período, volume que representa um aumento de 27,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

O resultado foi beneficiado tanto no lado do etanol, com maiores preços e volume de comercialização, quanto no açúcar, que registrou aumento nas vendas mesmo com um recuo de preço no período.

Somente com o açúcar, a receita líquida foi de R$ 987,7 milhões no segundo trimestre, crescimento de 17,5%. O volume de comercialização subiu 22,3%, passando de 337,8 milhões de toneladas no segundo trimestre de 2024 para 413,2 milhões de toneladas agora. O preço, por sua vez, recuou 3,9%.

Com o etanol, a receita líquida apurada foi de R$ 716,9 milhões, aumentando 42% no período, sob impulso tanto da expansão nos preços, que subiram 15,1%, quanto dos volumes, que cresceram 23,4% no período.

Já o lucro líquido da companhia atingiu R$ 187,5 milhões, recuando 55,2% no período. De acordo com a empresa, o resultado se explica pelo término do recebimento das parcelas de precatórios de uma ação movida pela Copersucar contra a União. O último valor veio em março deste ano, no valor de R$ 286,3 milhões.

O Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 943,1 milhões no segundo trimestre de 2025, crescimento de 44%, puxado pela alta dos preços e dos volumes de comercialização.

A margem Ebtida ajustado passou de 42,6% para 48,6% no período, crescimento de 5,5 pontos percentuais.

Guidance

Se os incêndios não afetaram de sobremaneira os resultados do trimestre, os efeitos do fogo aparecem no guidance de produção da São Martinho para a safra 2024/2025.

Agora, a companhia estima um total de 3,1 milhões de toneladas de ATR produzido para a safra 2024/2025, sob efeito da moagem de 22,17 milhões de toneladas de cana, queda de 1,0% em relação à previsão anterior, de 22,4 milhões de toneladas, e ATR médio de 142,7 Kg/ton, aumento de 1,3% em relação ao guidance inicial.

A gangorra do mix de produção se inverteu: agora passa a ser mais alcooleiro, com expectativa de destinação de 56% para o etanol, ante 48%, e de 44% para a produção de açúcar, ante 52%.

De acordo com a São Martinho, a alteração das projeções reflete o impacto das queimadas na disponibilidade de matéria-prima e na conversão de ATR em açúcar e a pouca quantidade de chuvas, que traz déficit hídrico, pesando sobre o ATR médio previsto.

Também houve revisão do Capex total, que passou de R$ 2,4 bilhões para R$ 2,8 bilhões, puxado especialmente pela linha de Modernização/Ampliação, que subiu de R$ 495 milhões para R$ 670 milhões.

A abertura considera vários projetos como um projeto de biometano na Unidade Santa Cruz, colhedoras de duas linhas na Unidade São Martinho, a expansão da capacidade de cristalização nas unidades de São Paulo, adicionando cerca de 100 mil toneladas de açúcar a partir da safra 2025/2026, crescimento de áreas irrigadas nas unidades São Martinho e Santa Cruz, entre outros investimentos menores.

Acima do esperado

O número do segundo trimestre de 2025 veio acima do que esperava a XP Investimentos. Antes do resultado, a casa projetava uma receita líquida de R$ 1,8 bilhão e um lucro líquido de R$ 185 milhões.

"A São Martinho entregou um trimestre sólido, apesar do impacto negativo dos incêndios que atingiram parte de São Paulo, conseguindo compensar um mix forçado pior com volumes fortes", afirmou a XP em relatório assinado por Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak.

Por segmento, a receita com o adoçante projetada por Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas da XP era de R$ 964 milhões. No etanol, ele projetava R$ 587 milhões.

A receita e o Ebtida apresentados pela São Martinho no período também superaram as expectativas do BTG Pactual, que esperava resultados de R$ 1,469 bilhão e de R$ 762 milhões, respectivamente.

Em relatório após o resultado, o banco avaliou, no entanto, que a margem Ebtida ajustada ficou abaixo das expectativas da instituição – que esperava margem de 51,8% –, mas projetou melhora à frente.

"Esperamos que as margens se fortaleçam à medida que a São Martinho deve processar mais cana própria no terceiro trimestre de 2025", indicou o documento, assinado pelos analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Pedro Soares.

Processamento

No primeiro semestre da safra 2024/2025, a São Martinho processou cerca de 18 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, registrando um aumento de 2,6% em comparação com o mesmo período da safra anterior.

O resultado se explica pela maior utilização da capacidade instalada e da quantidade de cana de terceiros.

A São Martinho também informou que as queimadas levaram a uma aceleração do ritmo de moagem da cana, com aumento de processamento diário.

Desde o início da safra, as operações de cana-de-açúcar produziram aproximadamente 1,1 milhão de toneladas de açúcar, recuo de 1,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, e 813,1 mil metros cúbicos de etanol, crescendo 13,1%.

De acordo com a São Martinho, o processamento de milho adicionou 109,7 mil m3 de etanol e 70,9 mil toneladas de DDGs, subproduto da produção do biocombustível.

A operação combinada de cana-de-açúcar e milho produziu um total de 2.731,7 mil toneladas de ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), crescimento de 7,1% no período. O ATR médio cresceu 2,8% devido ao clima mais seco no período, segundo a companhia.