O agrosilício, fertilizante e corretivo de solo produzido pela Harsco Environmental, começará a ser considerado no cálculo de medição de carbono do Renovabio para cana-de-açúcar, passando a ajudar as empresas do setor na contabilidade dos CBIOs, créditos de descarbonização emitidos por produtores de biocombustíveis com o objetivo de reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.

O anúncio foi feito por Wender Alves, presidente da Harsco Environmental na América Latina, durante sua participação em debate sobre o papel da agricultura na descarbonização da economia, no estande da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) na COP 30, em Belém. Além da cana, a expectativa é que o benefício incorpore em breve os biocombustíveis derivados de soja e milho.

“Com a autorização da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o produtor que utilizar o agrosilício, que gera 95% menos carbono que os fertilizantes tradicionais, poderá gerar mais CBIOs a partir da sua produção”, disse Wender, explicando que haverá economia para os produtores, mas também melhora da competitividade do produto a partir do preço.

“Considerando que o CBIO hoje é comercializado a cerca de R$ 70 a unidade, é quase como se o nosso produto tivesse esse valor descontado do seu preço.”

A autorização da ANP coloca o fertilizante da companhia no RenovaCalc, que é a ferramenta de cálculo da intensidade de carbono dos biocombustíveis, usado como métrica para mensurar as emissões e calcular os CBIOs, que são títulos financeiros negociados na B3 e que são adquiridos por empresas e investidores para compensar emissões de carbono. Cada CBIO equivale a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida na atmosfera.

Segundo a B3, no primeiro semestre de 2025, o volume financeiro das negociações de CBIOs alcançou R$ 2,88 bilhões, crescimento de 3% em relação ao mesmo período do ano passado, resultado da emissão de 21,37 milhões de CBIOs, representando mais de 21 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalentes que deixaram de ser lançadas na atmosfera.

Alves explica que as negociações de CBIOs já representam uma receita importante para as empresas de biocombustíveis e que ao agregar a redução da pegada de carbono do fertilizante, haverá economia para os produtores, que poderão considerar a pegada de carbono menor do fertilizante nos cálculos do CBIOs, considerando que o agrosilício é produzido a partir de resíduos industrial, ou seja, utilizando conceito de economia circular.

“Do ponto de vista do negócio, isso pode atrair mais clientes também”, diz, ao comentar que o próximo passo é atuar para que seja incorporado ao Renovabio a biomassa produzida a partir do eucalipto e, no futuro, criar mecanismos que permitam o cálculo também para quem produz milho, cana e soja para alimentação – e não apenas para etanol.

“A perspectiva é que o mercado de carbono considere todas essas bases e as tipicidades da agricultura tropical, mas pode levar um tempo ainda.”

Aumento da produção

Em entrevista ao AgFeed em agosto deste ano, Alves comentou que a empresa havia concluído um investimento de R$ 120 milhões para ampliar a capacidade de produção da unidade de Timóteo (MG) e outros R$ 100 milhões na unidade de Ipatinga. “Em Timóteo já concluímos a obra e fase 2 de Ipatinga segue a pleno valor”, afirma.

Com as obras, a capacidade instalada da companhia foi para 400 mil toneladas e a meta é chegar a um milhão de toneladas em cinco anos.

“O ritmo desse crescimento depende de fatores logísticos e de negociações com clientes nos quais recolhemos a escória para transformar em fertilizantes.” Além do Brasil, a empresa segue em negociações com o México, onde enxerga um grande potencial.

O AgroSilício tem o nome técnico de Silicato de Cálcio e Magnésio, produto que pode ser usado como fertilizante, por ser fonte de silício. Ele também atua como condicionador de solo, melhorando o aproveitamento de nutrientes pelas plantas e elevando a qualidade das lavouras e substituindo o calcário na função de corrigir a acidez do solo.

A sua principal característica, segundo a Harsco, está na redução das emissões de GEE. Enquanto a reação do calcário com o solo emite gases de efeito estufa em volume equivalente a 44% do volume de calcário aplicado (ou seja, para cada tonelada aplicada, são gerados 440 quilos de CO2), o AgroSilício praticamente não emite gases de efeito estufa.