O presidente da Cargill no Brasil, Paulo Sousa, disse nesta segunda-feira, 4 de março, estar confiante na conclusão da Ferrogrão, maior projeto ferroviário do País.
“A ferrovia faz todo sentido e vai acontecer”, declarou Sousa durante apresentação em evento promovido pela gestora Galapagos Capital, em São Paulo.
Em painel que contou também com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, o executivo elencou a logística entre os principais desafios a serem superados pelo agronegócio brasileiro.
E, neste capítulo, destacou a Ferrogrão, cujas obras estão paralisadas e terão sua continuidade definida em julgamento no Supremo Tribunal Federal, provavelmente ainda neste semestre.
Se concluída, a ferrovia terá 933 quilômetros de extensão, ligando as cidades de Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), a um custo estimado em R$ 25 bilhões. O corredor poderia, então, transportar até 50 milhões de toneladas de grãos por ano e, por isso, desperta grande interesse de grandes empresas, especialmente tradings agrícolas como Cargill, Bunge, ADM, Amaggi e Louis Dreyfus.
A declaração de Sousa foi feita no mesmo dia em que um grupo de indígenas, ribeirinhos, quilombolas e agricultores familiares realizaram um protesto em frente ao porto da exportadora de grãos Cargill, em Santarém (PA). Eles são contrários à execução da ferrovia, alegando que ela provocará danos ambientais e sociais na região.
“É um projeto discutido há muitos anos e que tem de sair”, disse o presidente da empresa. “STF já autorizou a retomada dos estudos, o que é muito bom, e é questão de tempo”.
Além da logística, Souza tratou ainda de outros desafios do setor, como a questão de crédito e o risco ambiental. Ele externou sua preocupação com uma possível redução do fluxo de capitais para financiar o setor, especialmente após o aumento de casos de pedidos de recuperação judicial por produtores e empresas ligadas ao agronegócio.
Sousa lembrou que o financiamento da produção agrícola é intensivo em capital e que, nos últimos anos, cresceu a participação privada no crédito aos agricultores e pecuaristas.
“O grande risco hoje é que o capital é um bicho assustado”, disse. Segundo ele, “houve muito dinheiro novo entrando no agro nos últimos anos”, mas esse dinheiro pode ficar mais escasso em função se os investidores decidirem “buscar objetivos mais tranquilos”.
“A recuperação judicial traz insegurança para os financiadores”, afirmou.