Na indústria de máquinas agrícolas, as cores dão o tom da competição entre as grandes fabricantes. Na palheta da AGCO – grupo que controla as marcas Massey Ferguson, Valtra, Fendt, GSI e Precison Plant – o vermelho e amarelo das duas primeiras foram destaque durante muitos anos, mas o cinza e alguns matizes de verde claro agora reluzem.
Lançados há apenas quatro anos no Brasil, os equipamentos da Fendt caíram no gosto do agricultor e são os propulsores de uma nova etapa de crescimento da companhia no País. “A marca ganhou status de Ferrari das máquinas”, comemora Rodrigo Junqueira, diretor-geral da AGCO e vice-presidente da Massey Ferguson para América do Sul, em entrevista ao AgFeed.
Nos próximos meses, a marca de origem alemã deve aparecer em 31 novas lojas, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste (além de uma no Paraguai), fruto de investimentos de R$ 660 milhões que serão feitos pelos concessionários.
“Vivemos um momento especial e a Fendt tem um papel importante nisso”, afirma Junqueira. Somado aos recursos próprios (R$ 340 milhões) que serão aplicados pela AGCO na ampliação de suas três fábricas no Brasil, a empresa chegará ao fim de 2023 com R$ 1 bilhão aplicados em ações para atender a uma demanda crescente vinda do campo.
As marcas tradicionais Massey e Valtra têm um quinhão desse investimento, principalmente no que se refere à capacidade produtiva nas unidades de Ibirupá e Santa Rosa, ambas no Rio Grande do Sul, e Mogi das Cruzes (SP), hoje transformadas em canteiros de obras para extensão de sua área.
Em Ibirupá, por exemplo, a Massey vai triplicar o ritmo e produção da plantadeira Momentum, um de seus mais recentes lançamentos, desenvolvida aqui no Brasil e considerada uma das mais modernas do mundo no segmento.
A bandeira mais jovem, no entanto, é a que tem atraído mais atenção e recursos. Posicionada como marca premium pela AGCO, a Fendt funciona como uma espécie de outdoor ambulante e operacional das novas tecnologias oferecidas ao produtor rural.
Nos primeiros anos, a estratégia deu certo. As máquinas trazidas pela Fendt ao País impressionaram, desde o início, pelo porte e pela sofisticação e acabaram se tornando objetos de desejo de muitos agricultores. Ajudaram, também, a enfrentar a concorrência com John Deere e CNH nesse segmento.
Voltadas principalmente ao trabalho em páreas de grandes cultivos, como os grãos, suas vendas começaram pelas imensas lavouras do Cerrado. Agora, acordos com novos concessionários e investimentos maciços trarão a marca para o Centro-Sul, já com equipamentos de porte menor, mas sempre altamente tecnológicos.
“Vamos acelerar a cobertura da rede para atender à expectativa de novos clientes pela aquisição de máquinas da marca”, diz Junqueira.
“O projeto de expansão da Fendt é global, bem estruturado e tem sido um fenômeno por aqui. É uma marca que não tinha uma referência de vendas pré-pandemia, mas que vem impulsionada por altíssimos investimentos”.
O processo de implantação da marca Fendt no Brasil foi cuidadosamente executado. Diferentemente do que ocorre normalmente, a própria AGCO assumiu a operação da primeira concessionária, no Centro-Oeste.
Foi a maneira de entender a reação do agricultor aos produtos e formar uma equipe que fosse capaz de, em seguida, capacitar os futuros concessionários. “É um trabalho difícil quando se trata de um equipamento com tal nível de sofisticação”, explica Junqueira.
As vendas ganharam ritmo, assim como a abertura de lojas. No final de 2022, eram 22, todas de grupos parceiros – cumprida a implantação, a AGCO saiu dessa operação. A nova etapa, então, era buscar novos concessionários para atuar em áreas diferentes.
A jornada para o Sul já começou. A primeira concessionária já está em funcionamento em Passo Fundo (RS) e novas inaugurações devem acontecer em sequência a partir de agora. “Os parceiros estão todos identificados, dependemos apenas de questões burocráticas”, afirma Junqueira.
Na fábrica de Mogi, voltada às máquinas grandes das diferente marcas, a ampliação também se deveu à necessidade de atender ao crescimento rápido da Fendt.
Máquinas elétricas e descarbonização
A marca deve estar na vitrine dos esforços de descarbonização da AGCO. Segundo Junqueira, em 2025 a Fendt lançará globalmente – e trará ao Brasil – seus primeiros equipamentos com motores elétricos.
São máquinas menores do que as que os brasileiros estão acostumados a ver com o logotipo da empresa. “Aqui começamos com máquinas grandes, mas na Europa temos tradição também nas menores”, explica Junqueira.
Por conta da tecnologia disponível para as baterias, os tratores elétricos não devem ter potências superiores a 100 cavalos. Nas motorizações superiores, a AGCO deve trabalhar com modelos híbridos ou com combustíveis alternativos para reduzir a emissão de gases de suas máquinas.
A Fendt deve começar a trazer ao Brasil também tratores menores equipados com motores de nova geração, o chamado AGCO Power Core, movidos a diesel mas compatíveis com hidrogênio, etanol, metanol e biogás.
“A AGCO tem feito esforço para desempenhar papel de liderança na descarbonização da agricultura”, afirma o executivo. Segundo o executivo, foram investidos 50 milhões de euros no desenvolvimento desses propulsores.
A empresa trabalha ainda, aqui, em parceria com usinas de etanol para a dapatação dos motores ao biometano. E também desenvolve modelos híbridos elétrico-combustão, para as marcas Massey e Valtra.
Os investimentos em descarbonização vão além das máquinas. Nas fábricas, toda a energia consumida já vem de fontes renováveis e, de acordo com Junqueira, a AGCO tem estabelecido parcerias para levar esse modelo também às propriedades rurais.
Na Alemanha, a companhia associou-se a um instituto especializado em energia fotovoltaica para desenvolver painéis solares adequados ao uso por pequenos agricultores.
“Queremos ajudar na redução de emissões, sem interferir em custo e produtividade dos produtores”, diz. “O objetivo é permitir que tenham uma fazenda com 100% de energia renovável”.
Outras iniciativas da AGCO em descarbonização incluem o desenvolvimento de equipamentos de pulverização inteligentes, que reduzem o consumo de químicos e água, e a redução de desperdícios com um programa de reutilização de componentes, implantado pela Valtra.
Nesse caso, além de gerar menor impacto ambiental, a medida ajuda a minimizar um problema recorrente da indústria: a instabilidade no fornecimento de componentes, sobretudo eletrônicos.
Isso tem gerado gargalos na produção e na entrega de máquinas aos clientes. “Temos demanda represada por máquinas”, admite Junqueira. “A situação já melhorou em relação ao que sofremos durante a pandemia, mas ainda sofremos com isso e com problemas de fretes marítimos para o transporte dessas peças”.
Nem isso, porém, segura os planos de crescimento das marcas da AGCO. “Para 2024, teremos recursos ainda maiores”, garante Junqueira.