De olho nas possibilidades trazidas pelo projeto Combustível do Futuro, um player de peso deve se juntar em breve ao mercado do biodiesel: a paranaense Coamo, maior cooperativa agroindustrial do Brasil.
Em entrevista ao AgFeed durante o Kepler Weber Day, realizado na terça-feira, dia 26 de novembro, em São Paulo, o presidente executivo da Coamo, Airton Galinari, disse que a cooperativa está perto de aprovar um projeto para uma usina produtora de biodiesel a partir da soja no Paraná e que vai custar cerca de R$ 300 milhões.
A ideia é que o projeto seja apresentado primeiro no conselho da cooperativa, no mês que vem, e siga para apreciação dos cooperados na próxima assembleia geral da Coamo, que ocorre em fevereiro.
"É uma ideia que ainda estamos estudando, mas o estudo já está bem avançado. É um projeto grande, que depende puramente da viabilidade", afirma Galinari.
A cidade escolhida para sediar a nova usina é Paranaguá, litoral paranaense, onde a Coamo já possui, junto ao porto local, uma indústria capaz de processar 2 mil toneladas de soja por dia.
A cooperativa possui ainda plantas de processamento de soja em sua cidade-sede, Campo Mourão, com capacidade de processar 3 mil toneladas de soja por dia, e em Dourados, no Mato Grosso do Sul, com a mesma capacidade produtiva.
Se os planos se concretizarem, a ideia é que a unidade produtora de biodiesel esteja rodando já em 2026. "É uma obra de 12 a 14 meses. Aprovando em fevereiro do ano que vem, ficaria pronta junto com a usina de etanol de milho", afirma Galinari.
A escolha da unidade de Paranaguá em detrimento das demais plantas foi pela disponibilidade de óleo bruto na indústria, segundo o presidente executivo da Coamo.
"Nas outras indústrias que temos, em Dourados e em Campo Mourão, já usamos 100% da soja para refino, para produção de óleo em embalagem para o varejo, para margarina e gorduras. Já em Paranaguá, o óleo não é refinado, é bruto e vamos transformá-lo em biodiesel", afirma Galinari.
A Coamo vai usar apenas soja para a produção de biodiesel e não pretende usar trigo ou canola, diferentemente de empresas do Rio Grande do Sul como a 3tentos, que vai começar a usar a canola para produzir biodiesel a partir do ano que vem.
"Nós até tentamos a canola, mas tem que ter um trabalho muito grande de pesquisa. Não é você pegar uma canola do Canadá ou da Europa, que vai trazer para cá e vai dar certo", afirma Galinari.
O projeto Combustível do Futuro, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no começo de outubro, motivou a Coamo a idealizar o projeto.
O plano do governo federal prevê um cronograma de aumento progressivo na mistura de biodiesel no diesel comum, hoje de 14%, subindo um ponto percentual a partir do ano que vem, até chegar a 20% em março de 2030.
“A cada 1% a mais de biodiesel que você acrescenta no diesel, você precisa de mais indústrias operando. Como o Combustível do Futuro trouxe o B20, que é a mistura de 20% até 2030, vai crescer muito mais a demanda por biodiesel no mercado”, afirma Galinari.
Enquanto a fábrica de biodiesel segue no papel, a Coamo se prepara para começar a construir sua usina de etanol de milho, anunciada há um ano, e que deve ficar pronta em 2026.
Recentemente, a cooperativa conseguiu um financiamento de R$ 500 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econõmico e Social (BNDES) para erguer a planta que vai produzir o biocombustível, um projeto orçado em R$ 1,6 bilhão ao todo.
Outro investimento da Coamo a ser executado no ano que vem e que também corre em paralelo envolve a construção de um terminal marítimo em Itapoá, em Santa Catarina, que vai custar R$ 1 bilhão à cooperativa e terá quatro piers, frente de 450 metros para o mar e calado de 18,5 metros.
Os projetos já estão sendo feitos, mas a Coamo aguarda ainda o licenciamento ambiental para começar a obra, que Galinari estima que saia até 2027.
“Tem várias frentes que a gente precisa percorrer, a frente ambiental, a frente das agências reguladoras, das prefeituras, do governo estadual, da secretaria do patrimônio da União. Todas essas frentes estão sendo percorridas para que a gente possa obter a licença de instalação”, afirma o presidente executivo da cooperativa.
Preço da soja afetou 2024
A Coamo deve fechar 2024 com um faturamento em torno de R$ 29 bilhões, menor que os R$ 30,3 bilhões registrados no ano passado, acompanhando uma tendência do mercado, segundo Galinari.
"De um modo geral, as cooperativas, e não só as cooperativas, mas as empresas do agro tendem a ter um faturamento menor este ano", afirma o presidente executivo da Coamo.
"E não é porque vendeu ou negociou menos, mas é por causa do preço da soja, que caiu, na nossa região, de R$ 135 para R$ 115, o que representa uma queda de cerca de 15%, e dos insumos, que caiu em torno de 20%", emenda.
Ainda assim, Galinari considera o resultado do ano como positivo. "Nós vamos ter margens muito próximas do que nós tradicionalmente temos, e agora em dezembro, já vamos ter a primeira antecipação de sobras aos cooperados", afirma.
Para 2025, o presidente executivo da Coamo espera que a cooperativa atinja desempenho recorde de grãos recebidos, cerca de 10,5 milhões de toneladas de soja, milho e trigo, mais alto que o último pico, de 10,2 milhões de toneladas, registrado em 2022.
"Temos tudo para ultrapassar esse recorde, se o clima ajudar. Temos uma safra de verão que foi implantada com uma ótima janela para o plantio do milho de segunda safra", afirma Galinari.
O desempenho das vendas de insumos, em especial, empolgou o presidente-executivo da Coamo.
Galinari explica que a companhia fornece insumos para o produtor através de planos, um para o verão e outro para safrinha e inverno. O plano para a safrinha, que se encerrou na semana passada, registrou crescimento de 15% nas vendas de insumos, seguindo um movimento de alta que já tinha acontecido no verão, segundo Galinari.
O presidente executivo da Coamo acredita que o incremento nas vendas tenha a ver com a crise nas revendas de insumos, especialmente o grupo AgroGalaxy, que entrou em recuperação judicial em setembro, mas também de empresas como a Lavoro, que passou a registrar prejuízos em seus últimos balanços.
Em reportagem sobre a reorganização do segmento de distribuição de insumos publicada dias após a RJ do AgroGalaxy, o AgFeed apontou que uma das tendências desse novo momento era o crescimento das cooperativas agrícolas, tomando parte da clientela que antes comprava dos chamados grupos consolidadores.
"O pessoal fica com medo de não receber, não negocia direto com eles”, afirma Galinari.