A BrasilAgro caminha sempre com dois horizontes no radar: compra, e principalmente, venda de terras e produção de commodities. E mais uma vez registra resultados positivos em ambas as vertentes, ao reportar nesta quarta-feira, dia 6 de novembro, os números do período.
De um lado, a conclusão da venda de 1.157 hectares da Fazenda Alto Taquari, anunciada há poucas semanas, gerou um ganho final de R$ 107,9 milhões e contribuiu significativamente para os resultados da companhia em seu primeiro trimestre do ano-safra.
De outro, a empresa obteve uma expansão significativa das receitas com soja, apesar de o volume de comercialização seguir praticamente igual.
A companhia reportou nesta quarta-feira, dia 6 de novembro, os números do período. O lucro líquido no período foi de R$ 97,4 milhões, mais que o triplo dos R$ 29,9 milhões obtidos no mesmo período do ano passado.
O Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado total foi de R$ 169,3 milhões, bem mais alto que os R$ 23,4 milhões vistos entre julho a setembro do ano passado. Já o Ebitda ajustado operacional foi de R$ 61,4 milhões, ante R$ 23 milhões.
Houve também prejuízo operacional de R$ 10,4 milhões no período, ante R$ 29,6 milhões de lucro no mesmo período do ano passado.
A receita líquida no período, por sua vez, foi de R$ 456,6 milhões, sendo que R$ 129,3 milhões vieram da vendas de fazendas e R$ 325,3 milhões da venda de produtos agrícolas.
“(O resultado é) uma combinação de imobiliário, da estratégia comercial de levar para o segundo semestre, um bom volume de soja para ser comercializado, e a resiliência na entrega de cana-de-açúcar, tanto produtivamente como essa opção de estar trazendo uma nova alternativa de remuneração, que é açúcar”, afirma André Guillaumon, CEO da BrasilAgro.
“Quando a gente expurga a venda imobiliária do Ebtida de R$ 169,4 milhões, mesmo assim a gente fica com um resultado de cerca de R$ 60 (milhões) contra R$ 23 milhões (no passado)”, emenda ele.
A transação da Fazenda Alto Taquari, iniciada em outubro de 2021, totalizou 3.723 hectares, sendo, 2.566 hectares em outubro de 2021, no valor de aproximadamente R$ 336,0 milhões, em valores da época, e 1.157 hectares úteis em setembro passado. O valor nominal de venda foi de R$ 192 milhões. Com os descontos, passou a R$ 107,9 milhões.
Com a transação, a BrasilAgro chegou à marca de R$ 2 bilhões com a comercialização de terras nos últimos cinco anos, média próxima a R$ 400 milhões por ano.
Em setembro, Guillaumon disse à reportagem do AgFeed que a companhia estava atenta a oportunidades de negociação diante de queda do preços das commodities, dificuldades macroeconômicas e condições climáticas desfavoráveis - diminuindo o tamanho das vendas e aumentando a quantidade de compras.
“É de se esperar que, nos próximos 5 anos, (a BrasilAgro) não venda R$ 1,8 bilhão, venda R$ 500 (milhões), R$ 600 (milhões), venda menos fazendas”, afirmou. “A gente deve investir mais volume em compra de terra.”
Em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira, 6 de novembro, o presidente da BrasilAgro repetiu parte dessa estratégia.
“Não é que ela vai deixar de ser vendedora, porque o portfólio vai maturando, o que a gente entende que está pronto para venda, a gente vai vender. Mas é de se esperar que a gente passe a ser uma companhia também, quando você tem momentos de oportunidade de oxigenar o portfólio.”
Produtos agrícolas
No lado dos produtos agrícolas, a quantidade de volume de grãos comercializada permaneceu quase a mesma, passando de 1.079.822 toneladas vendidas no primeiro trimestre do ano safra do ano passado para 1.078.822 toneladas neste ano.
Só que a receita obtida aumentou 20% no mesmo período, passando de R$ 271,7 milhões para R$ 325,2 milhões, puxada principalmente por expansão nos ganhos com soja, que avançou de R$ 74,6 milhões para R$ 118,7 milhões (59% de crescimento) e com a cana-de-açúcar, que passou de R$ 135,8 milhões para R$ 165,3 milhões (22% de avanço).
A melhoria da rentabilidade da soja é fruto de um trabalho de estocagem dos grãos, aproveitando o melhor momento de venda, segundo a companhia.
“A gente tomou a decisão de carregar mais soja para o segundo semestre porque via aí uma possibilidade do fortalecimento dos prêmios e isso só mostra que a decisão foi muito assertiva mesmo”, afirma André Guillaumon.
“Se a gente tivesse vendido em 30 de junho, o preço praticado era mais ou menos 100 reais por saca. Nosso custo era de mais ou menos R$ 1.400 por tonelada. O que sobrava? R$ 100, R$ 200 por tonelada. Então, teriamos um resultado de R$ 10 milhões pela venda desse produto”, afirma.
“O que a gente entendeu foi o seguinte: nós tínhamos um desconto muito grande de prêmios e entendíamos que carregando (as sacas), poderíamos capturar prêmios um pouco mais positivos e isso poderia nos permitir ter um resultado um pouco melhor”, emenda Guillaumon.
Na soja, a BrasilAgro diz ter atingido margem bruta de 31%, crescimento de 27 pontos pecentuais em relação à safra anterior, em decorrência, principalmente, da redução de 26% nos custos, impulsionada pela queda nos preços dos insumos, e do incremento de 3% nos preços unitários e da expansão do volume de vendas,
Na cana, a margem bruta foi de 22%, crescimento de 8 pontos percentuais em relação a um ano, reflexo de um aumento no preço e na qualidade da cana produzida.
Neste ano, a companhia arrendou uma propriedade de 7 mil hectares em Brotas (SP), sendo que 4 mil foram inicialmente operados pela companhia e o restante vai crescendo paulatinamente até 2029. O investimento deve chegar a R$ 70 milhões quando toda a área estiver operando.
Nas demais unidades produtoras de cana da BrasilAgro, em propriedades no Maranhão e em Mato Grosso, o cultivo é destinado apenas para etanol.
Já as receitas com milho diminuíram 47% no período, passando de R$ 31,6 milhões para R$ 16,6 milhões. Os volumes comercializados caíram de 48,2 mil toneladas para 24,1 mil toneladas.
A margem bruta foi negativa em 34%, queda de 12 pontos percentuais quando comparado ao trimestre anterior.
O motivo para o recuo de produção foi um tanto inusitado, segundo a companhia: um ataque de porcos selvagens nas lavouras atrapalhou a produção, elevando os custos e pressionando as margens.
No algodão pluma, houve crescimento de 13% na receita líquida, passando de R$ 12,5 milhões para R$ 14,2 milhões. O mesmo ocofreu no algodão caroço, que passou de R$ 953 mil para R$ 2,0 milhões. Já o feijão caiu 62%, passando de R$ 636 mil para R$ 241 mil.
Ao fim de setembro, parte da produção da safra 2024/2025 já estava travada, sendo a soja com 69.422 toneladas (33%), milho com 11.451 toneladas (13%) e algodão com 3.749 toneladas (13%).
No lado do câmbio, a soja está travada a R$ 5,55 o dólar. No momento, a companhia está aproveitando a recente subida do dólar frente ao Real, que vem rondando a casa dos R$ 5,70 nas últimas semanas.
“Onde a gente tem espaço, nós estamos travando. Tanto é assim que a gente já tem hoje praticamente 40% da soja vendida e temos 60% do câmbio vendido. A gente acelerou um pouco mais nesses últimos meses em função dessa corrida que começou a ter o câmbio agora”, afirma Guillaumon.
Perspectiva para safra 2024/2025
Para a safra 2024/2025, a BrasilAgro projeta uma área plantada total de 177.916
hectares, somando operações no Brasil, Bolívia e Paraguai.
A maior fatia de terra planta corresponde à soja, com 78.265 hectares, seguido por cana soca (26.732 hectares), cana planta (3.850 hectares), milho safrinha (12.836 hectares), algodão (6.737 hectares), milho (5.984 hectares), feijão safrinha (5.349 hectares), feijão (2.243 hectares), algodão safrinha (3.057 hectares), outros (16.557 hectares) e pasto (16.307 hectares).
A expectativa é de produção total de grãos e algodão de 418.768 toneladas, crescimento de 4%, sendo que 250.740 correspondem à soja, 77.583 ao milho safrinha e 41.722 ao milho de primeira safra.
“Esse resultado é decorrente, principalmente, do aumento de 39% na produção estimada de milho safrinha, quando comparada à projeção inicial. Essa alteração reflete a otimização da área plantada, visando maximizar a rentabilidade da produção agrícola”, afirma a companhia.
Os fatores climáticos impactaram parte da produção da companhia, que em razão das condições no Mato Grosso, com o atraso das chuvas na janela ideal, reduziu em 1,6 mil hectares a área destinada ao algodão, migrando para o cultivo de
soja.
Apesar do atraso, até o momento, a BrasilAgro disse que já plantou 40% da soja e, no Mato Grosso, o plantio subiu para 76% dentro da janela ótima.
“Na safra passada, a gente começou a plantar no Mato Grosso ao redor de 22, 23 de setembro. Nesse ano, começamos a plantar em 5 de outubro, com praticamente duas semanas de atraso do início; Isso não deveria, não deve e não faz você ter uma restrição de produtividade da primeira safra. Essa janela de 10 a 15 dias do início do plantio não compromete muito a produção de safra de soja brasileira”, afirma Guillaumon.
Já a safra de cana-de-açúcar no Mato Grosso e em São Paulo foi concluída
com resultados “satisfatórios” e a do Maranhão está em fase final, com expectativa de bom desempenho.
“As lavouras colhidas demonstraram bom desenvolvimento vegetativo, superando os efeitos do estresse hídrico do ciclo anterior, graças às condições climáticas favoráveis e às práticas de manejo adequadas”, afirma a companhia.