Dentre os investidores, sócios da XP, clientes da área Private da corretora, a Positivo Tecnologia e até Gisele Bundchen (que apostou na fase pré-operacional, mas já não tem mais capital na empresa). Já a lista de clientes inclui iFood e 5àSec.

Os nomes de peso são um bom cartão de visitas para a startup Earth Renewable Technologies (ERT), que atua na produção de bioplásticos oriundos da cana-de-açúcar. Mas o CEO, Kim Fabri, ainda quer mais.

Além de ter o agro na ponta inicial da sua cadeia de fornecimento, com a produção de cana, ele deseja ter empresas do setor na outra ponta, como compradores dos seus produtos.

Após aportes recentes de US$ 15 milhões, Fabri revela que a empresa está “investindo alguns milhões” para desenvolver plásticos biodegradáveis de polietileno para filmes de agricultura compostáveis, os mulch films.

“Temos uma oportunidade de fazer essa mudança e atuar num negócio carro-chefe no Brasil, que é a agricultura. Ao mesmo tempo, podemos deixar a cadeia mais sustentável”, afirma Fabri.

A empresa já vende esse tipo de mulch film para clientes na Itália, onde segundo Fabri, que a legislação é mais incentivadora quanto a isso. A expectativa é que nos próximos anos a ERT possa conquistar esse mercado por aqui.

Dentre os estudos da ERT, que tem sede atual em Curitiba, está o uso desse bioplástico para uma bandeja de tomates. Além de ampliar o prazo de validade dos produtos (shelf life, no jargão da distribuição), o produto em si se torna mais sustentável e não embolora.

Com esse tipo de produto, o CEO vê uma oportunidade de o produtor, além de adotar uma prática mais sustentável, economizar custos. Isso porque seu bioplástico permite uma decomposição natural que acontece em até 180 dias, eliminando a produção de lixo e a necessidade de transporte de um plástico comum para uma recicladora. Em termos de comparação, um plástico normal pode durar até 500 anos até ser degradado.

Na cadeia produtiva atual da empresa, a ERT importa o polímero de cana da Tailândia, traz para a fábrica e agrega composições químicas no produto. O biocomposto produzido é vendido para indústria, geralmente de transformação das embalagens que chegam ao cliente final.

Nos próximos dois anos, a ideia é dar um passo atrás na cadeia e fazer a produção do polímero da cana dentro da própria ERT, deixando de lado a importação e comprando a cana-de-açúcar direto de produtores locais brasileiros, por meio do caldo da cana ou do açúcar fermentado.

O investimento para esse passo não foi revelado, mas Kim Fabri quer tornar o bioplástico um terceiro produto da indústria sucroenergética. “Da mesma forma que o Brasil, enquanto indústria, liderou o desenvolvimento do mercado de etanol, temos a capacidade de transformar a mesma matéria-prima em bioplástico, num produto de alto valor agregado e com uma agenda ESG”, diz.

A produção atual da empresa é de 3,5 mil toneladas por ano de bioplástico, com a meta de bater as 35 mil toneladas até 2025. E a proporção da quantidade de cana para desenvolver plástico é pequena.

Segundo Fabri, atualmente são necessários 2,2 quilos de açúcar para produzir 1 quilo de PLA (polímero de ácido láctico), que é o principal produto do bioplástico da ERT. Nessa proporção, para uma produção de 10 mil toneladas de PLA , são necessárias 22 mil toneladas de açúcar.

Como o Brasil produz atualmente em torno de 41.2 milhões de toneladas de açúcar por ano, a produção dessas 10 mil toneladas impactaria 0,05% da produção de açúcar.

“O Brasil tem que continuar exportando açúcar e etanol, mas existe espaço para se tornar uma potência nessa revolução verde e ser protagonista na exportação de bioplástico. Ao invés do açúcar commodity, vamos vender um polímero compostável”, afirma o CEO.

Bioplástico produzido pela ERT

A ERT nasceu nos EUA em 2008 como uma startup dentro da Universidade de Clemsom, na Carolina do Sul.

A ideia dos professores pesquisadores era buscar um reforço de polímeros compostais e melhorar a performance de um bioplástico de origem renovável. A base do composto era o PLA, que é originado na fermentação da cana.

Antes da ideia virar empresa, alguns fundos americanos e até a modelo Gisele Bundchen entraram como investidores, bem como a família de Kim Gurtensen Fabri.

Sua família atua no mercado imobiliário e de shoppings centers, como Rio Sul, no Rio de Janeiro, e o Mueller, em Curitiba. Além disso, possui investimentos no setor de construção civil no Brasil e nos EUA, bem como em outras startups.

“Na ERT encontramos a oportunidade de investir alinhado à nossa filosofia de juntar sustentabilidade e rentabilidade. Uma empresa que tem uma perspectiva de crescimento aliado ao mercado que acreditamos bastante, com o Brasil se tornando protagonista”, diz.