“Desafiador” é um termo que tem sido bastante utilizado quando se conversa com agentes de mercado do agronegócio. Se o assunto é especificamente insumos agrícolas, a palavra aparece com ainda mais frequência.
Ela está na ponta da língua do CEO e fundador da AgriConnection, Flavio Mata, que a usa com frequência ao classificar o ano de 2023 - e o que espera para 2024. Seu desafio, para este novo período, é de fato grande: continuar crescendo, a uma taxa de 30%, enquanto outras empresas do mercado em que atua têm perspectiva de repetir os desempenhos de anos anteriores.
A própria AgriConnection celebrou, no ano passado, esse zero a zero. Fundada em 2019, a jovem empresa sediada em Campo Verde (MT), que trabalha ligando fabricantes internacionais de insumos agrícolas a produtores rurais, revendas, distribuidoras e cooperativas, vinha dobrando seu volume de transações ano a ano. E isso se refletia nos números de receita.
O último resultado, porém, trouxe um cenário diferente. “Em 2023, fizemos R$ 1,5 bilhão em transações, praticamente o mesmo número de 2022”, diz Mata ao AgFeed. “Mas tivemos que movimentar o dobro em volume para chegar nesse valor, por conta da queda nos preços”.
Alguns dos principais produtos que são negociados com a participação da AgriConnection tiveram redução de até 70% nos preços. E, para este ano, o executivo não espera uma recuperação desse mercado. “Deve andar de lado. O ponto positivo é a maior previsibilidade em relação a 2023, já que no ano passado, houve uma instabilidade muito grande”.
Mesmo sem a melhora nas condições de mercado, o orçamento da AgriConnection para 2024 projeta um aumento superior a 30% no volume transacionado, superando os R$ 2 bilhões.
A companhia encontrou um caminho próprio em um segmento que passa por um processo de consolidação, a distribuição de insumos. A AgriConnection posicionou-se como uma intermediária entre os fabricantes de insumos, sobretudo em países como China e Índia, e a ponta “de varejo”, que inclui cooperativas, revendas e distribuidoras, principalmente.
A estrutura montada por Mata e seus sócios, Evaldo Carvalho e Daniel Dias – todos ex-executivos de grandes grupos multinacionais do segmento –, permite uma atuação mais regionalizada, já que os escritórios montados em vários estados têm autonomia para fechar contratos e parcerias, nas duas pontas da cadeia.
“Nós estamos com 13 filiais espalhadas por todas as regiões do Brasil e prestes a abrir mais duas. Hoje, temos 68 representantes de vendas. Até o fim do ano, vamos chegar a mais de 100”, afirma Mata, que atuou em companhias como Bayer e Corteva.
O empreendedor afirma que as principais concorrentes da AgriConnection são justamente essas grandes multinacionais. O maior diferencial da sua empresa, segundo o executivo, estão nos custos menores e na agilidade nas operações.
“A forma como estruturamos o negócio permite atuar com custos menores em relação às multinacionais. Temos uma equipe que cuida da parte burocrática no processo de venda do fabricante para a ponta final, além de ter diretores para cada região do país, com autonomia para tomar decisões e fechar operações”, conta.
A AgriConnection pertence a uma holding, a Agri. Dentro do grupo funcionam as unidades de Crop, voltada para produtos como defensivos, e Essentials, que tem no portfólio produtos de nutrição vegetal, por exemplo.
“Estamos finalizando a montagem da área de fertilizantes. Essa vai ter uma atuação mais complementar, para atender uma demanda dos clientes. Mas é um segmento mais difícil de atuar, por conta dos custos logísticos, com estocagem mais complicada”, diz o CEO da AgriConnection.
Ele conta que a área de fertilizantes vai ter um ano de programa piloto, em 2024, e que a partir de 2025, estará gerando negócios de forma mais consolidada.
Para o segmento de sementes, o planejamento de Mata é semelhante, com um ano de diferença: piloto em 2025, operação efetiva em 2026. “Essa é uma área em que queremos ser grandes também”, diz o executivo.
Segundo Mata, outro trunfo da AgriConnection é o crédito. Além da parceria com bancos e financeiras e da utilização de recursos próprios, a empresa tem um fundo fechado.
“No ano passado, esse fundo teve uma primeira captação de R$ 100 milhões. Para este ano, vamos chegar a R$ 300 milhões, numa segunda rodada de captações”, diz.
O fundo é administrado pelo Banco Fator. E a AgriConnection tem ainda a XP como assessora financeira.
Nesta relação com a XP, Mata diz que já recebeu algumas propostas de investidores interessados em se tornarem sócios da empresa.
“Somos muito assediados, mas neste momento não temos necessidade de capital. Claro, se chegar uma proposta muito interessante, vamos conversar. Mas não há qualquer negociação no horizonte”.