As máquinas agrícolas exigem, de modo geral, investimentos significativos pelo produtor rural. Com a tecnologia cada vez mais avançada abarcada a essas máquinas, os preços ficam cada vez maiores.

Em momentos de queda nas cotações de soja e milho, como o que acontece agora, os produtores acabam adiando o investimento em máquinas novas. E isso abre oportunidades para quem negocia usadas ou semi-novas.

Segundo os dados mais recentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de máquinas agrícolas em 2024, até o final de fevereiro, caíram mais de 40%.

No caminho oposto, o volume de máquinas e tratores usados negociado pela Superbid Exchange, empresa que opera leilões desses itens, além de imóveis e automóveis, cresceu 46% no ano passado, segundo Marcelo Bartolomei Pinheiro, diretor técnico da empresa.

“Foram cerca de 9 mil máquinas negociadas nos nossos leilões. Para este ano, estimamos um crescimento entre 20% e 25% somente com máquinas agrícolas e tratores, se o cenário continuar como está”, diz Pinheiro.

A projeção é feita com base no ritmo de vendas do primeiro trimestre. “Eu chego a vender 50 tratores em um único dia”, diz o diretor da Superbid.

O setor de máquinas movimenta montantes significativos a cada ano. Segundo levantamento da consultoria Mordor Intelligence, a estimativa é de que o mercado tenha movimentado mais de US$ 7 bilhões em 2023 e deve ficar próximo de US$ 9 bilhões até 2028.

Pinheiro afirma que a diferença de preço é muito grande entre uma máquina nova e uma usada, mesmo aquela que tem pouco tempo de uso. “Uma máquina ou um trator novo, que na concessionária é vendida por R$ 600 mil, por exemplo, no leilão sai por algo próximo de R$ 200 mil”.

Segundo Pinheiro, boa parte das máquinas que chegam para a Superbid colocar em leilão vem de grandes empresas que estão em processo de renovação de frota.

“Essas empresas têm um poder de negociação muito maior que o médio ou pequeno produtor e, por isso, vale mais a pena trocar as máquinas do que investir em manutenção. Em média, as grandes companhias utilizam as máquinas por um período de três anos e colocam para venda”.

Ele lista empresas como BP Bunge, ADM e SLC Agrícola que adotam essa prática e enviam itens que ainda têm muita vida útil pela frente, já que de forma geral, as máquinas conseguem manter um bom nível de operação por pelo menos 10 anos, se a manutenção for realizada corretamente.

O executivo da Superbid afirma que realiza vendas de tratores que são utilizados por grandes sucroalcooleiras em São Paulo, compradas por produtores de estados como Pará, Tocantins e Goiás. “São agricultores que perderam acesso ao trator zero quilômetro”.

Diferente de um automóvel, que é levado a uma oficina mecânica quando acontece alguma necessidade de reparo ou manutenção, a máquina agrícola precisa de toda uma estrutura dentro da propriedade, já que a ausência prolongada dela pode afetar a produtividade.

“Tem todo um custo com almoxarifado, pois as empresas precisam manter peças em estoque que muitas vezes não são usadas, e acabam virando prejuízo. Além da necessidade de manter toda uma estrutura só para reparos em máquinas mais usadas”, afirma Pinheiro.

O custo de produção das máquinas tem contribuído para esse cenário de aumento de preço e redução do poder de compra do produtor.

“Os insumos estão mais caros, principalmente quando se pensa na parte eletrônica e de conectividade, cada vez mais relevantes. Mas mesmo os componentes mais básicos estão subindo de preço. Um pneu de trator hoje custa o dobro do que custava cinco anos atrás”, diz Pinheiro.

O grande desafio da Superbid, segundo Pinheiro, é ajustar a comunicação para convencer os produtores a participar de leilões online, modelo adotado pela empresa para realizar suas operações.

Ao mesmo tempo, a empresa enxerga muitas oportunidades, não só no Brasil. Pinheiro conta que já promoveu leilões realizados em países da América do Sul e no Panamá.

“Nós temos em andamento uma mudança de matriz energética principalmente no setor sucroalcooleiro. As máquinas que forem deixadas para trás vão começar a aparecer nos leilões em três anos”, afirma.