O Porto do Açu, no litoral do Rio de Janeiro, já começou a dar passos relevantes para passar a fazer parte da rota dos fertilizantes que ajudaram a tornar mais produtivos os solos brasileiros.

Desde 2021 já é feita a importação por ali, mas nos últimos meses, a Prumo Logística, empresa operadora do porto, fechou contratos com a Toyo Setal para a produção de produtos nitrogenados, além de já ter prevista a construção de uma misturadora no local.

Olhando mais para o setor – e também para as demandas futuras –, a Prumo tenta agora se posicionar estrategicamente como um polo para a produção de hidrogênio e amônia verdes.

Nesse sentido, acaba de selar uma parceria com a empresa norueguesa Fuella, especializada em energia renovável e que tem como um dos investidores a Allianz Capital Partners, do grupo alemão Allianz.

O acordo garante à Fuella uma área reservada de 100 mil metros quadrados no Porto do Açu, com possibilidade de ampliação para 200 mil metros quadrados, ocupando até 20% de uma área que vem sendo denominada como centro de hidrogênio e que totaliza 1 milhão de metros quadrados.

“A potência máxima, quando todos os módulos estiverem instalados, é de uma planta de 520 megawatts médio de eletrolise, que vai gerar mais ou menos umas 400 mil toneladas de amônia verde por ano”, explica Mauro Andrade, diretor executivo de desenvolvimento de negócios da Prumo.

Em entrevista ao AgFeed, Andrade destacou que a Prumo vai operar como a estruturadora do projeto, sem qualquer investimento direto. “A empresa será responsável pela disponibilização da infraestrutura necessária, incluindo licenciamento ambiental e construção de instalações para a energia elétrica e água”, disse Andrade.

A princípio, a produção será voltada às exportações, mas também poderá impactar o agronegócio brasileiro. A amônia verde, derivada do hidrogênio verde, é um insumo fundamental na produção de fertilizantes, um mercado em que o Brasil, embora seja o quarto maior consumidor mundial, depende de importações para suprir cerca de 80% da demanda.

“A amônia verde não é o produto final que se usa no solo, que é o nitrato de amônia, então tem que ter um passo adicional”, ressalta Andrade. “Mas acreditamos que tem um grande potencial de vender essa amônia verde no Brasil ou para empresas de fertilizantes”, completa o executivo.

A introdução da amônia verde no país, a partir do hidrogênio, mesmo que timidamente, já registra um aumento de competitividade em relação aos métodos tradicionais.

Conforme o índice de custo de produção de hidrogênio verde (LCOH) e de amônia verde (LCOA) da CELA (Clean Energy Latin America), especializada em consultoria estratégica e assessoria financeira no setor de energia renovável, o custo de produção de amônia verde no Brasil varia entre US$ 539 e US$ 1.103 por tonelada.

Embora esses valores sejam comparáveis aos da amônia produzida a partir de hidrogênio cinza, feito com combustíveis fósseis, que variam de US$ 361 a US$ 1.300 por tonelada, a demanda crescente por produtos agrícolas sustentáveis pode favorecer o uso de amônia verde.

Neste contexto, o projeto da Fuella pode estimular o desenvolvimento de um mercado interno para fertilizantes verdes, que ainda é emergente no Brasil. “É um mercado de nicho de produtores de colheitas especiais que gostariam de ter fertilizante verde para vender seu produto como sustentável”, avalia Andrade.

A expectativa é que a planta da Fuella entre em operação no final da década. Até lá, a Prumo espera que o mercado de fertilizantes verdes esteja mais desenvolvido, tanto no Brasil quanto internacionalmente, criando uma base sólida para o sucesso do projeto.

Além da companhia norueguesa, a administradora e responsável pelo Porto do Açu está em negociação com mais duas potenciais empresas para o fechamento de contrato similar de reserva diária de área no hub de hidrogênio. A expectativa de assinatura dos novos acordos é entre o final de setembro e novembro.

Vale destacar que as tratativas surgem em um momento no qual o Brasil aprovou o Marco Legal do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono destinado a atrair investimentos para a produção de hidrogênio com baixo teor de carbono.

Segundo Andrade, a promulgação do Marco Legal direciona as regras do jogo. “Você não sabe se você está jogando em uma quadra de futebol ou de basquete. Com a aprovação do marco legal, você tem pelo menos os grandes direcionamentos de qual jogo você está”, comenta.

Ainda de acordo com o dirigente, a lei aprovada foi apenas o primeiro passo, ainda há uma série de portarias e instrumentos normativos, que precisam ser promulgados para que tudo esteja devidamente regulamentado.