Desde o ano passado a Caraíba, tradicional companhia que atua com o desenvolvimento de sementes de soja e de milho por melhoramento genético, é uma nova empresa.

A “Nova Era”, como é tratado o momento atual do negócio, engloba uma reestruturação de pessoal, mudanças na estratégia de vendas e o lançamento de novos produtos.

O grupo foi fundado há cerca de 40 anos por José Buffon, e hoje é tocado por seus filhos Felipe, que atua como CEO, e Mariana, que é diretora administrativa.

Os dois carregam o sobrenome do pai, empresário que atuava com distribuição de produtos agrícolas em Goiás, e que queria ter mais controle sobre os produtos que vendia. Por isso fundou a empresa nos anos 1970.

Nos novos passos dessa “Nova Era” do grupo, os dois contam com reforços de executivos experientes no setor. Thomas Britze, ex-Bayer e Helm, ocupa o cargo de vice-presidente comercial e de clientes, e Marcelo José Batistela, passagens pela GDM, Monsanto e pelo extinta Gravena, atua na área de desenvolvimento de produtos.

Britze entrou na empresa da família Buffon há pouco mais de um ano. Batistela chegou logo depois, há 10 meses. Os cargos que ocupam não existiam até suas contratações e revelam um pouco desse apetite da empresa em mudar e ganhar mais mercados.

Essa reestruturação de pessoal havia sido antecipada por Britze ao AgFeed no ano passado. Na ocasião, o executivo comentou que o plano da empresa é sair, num espaço de quatro anos, do time das empresas com receita anual de R$ 100 milhões para o clube do R$ 1 bilhão.

A chegada de Batistela é parte importante nesse processo. “Vim para a Caraíba para estruturar a área de desenvolvimento de produtos de soja e milho, além de cuidar da parte técnica de posicionamento, avanço de produto e acesso à biotecnologias. Atuei a carreira toda nisso”, afirmou.

Na tabela entre os dois, Britze fica na linha de frente para acessar novos mercados, enquanto Marcelo Batistela dá o suporte técnico na equipe de desenvolvimento e transferência de informação aos agricultores.

Nesse sentido, diz Batistela, a empresa deve lançar até três produtos novos a partir de maio no mercado. A ideia é que as novas sementes estejam nas lavouras já na safra 2024/25.

“Serão novos produtos com biotecnologia nova”, diz ele. “As decisões dos produtores de compra para a primeira safra ocorrem em meados de abril e as de milho, em julho. As primeiras novidades serão na soja e mais para frente pensaremos no milho”, afirmou o responsável pela área de desenvolvimento de produto da Caraíba.

Thomas Britze afirma que a ideia da empresa é ter um portfólio competitivo e, para além do lançamento, quer reforçar a marca em regiões de menor atuação até o momento. A empresa fez, nos últimos meses, uma expansão geográfica, passando a atuar nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Tocantins.

Essa expansão, que coloca a Caraíba atualmente em oito estados, marca uma mudança na estratégia de distribuição dos produtos.

“O negócio da Caraíba foi estruturado de uma maneira que posicionou a empresa junto a revendas menores e parceiros locais”, diz Britze. “Conseguimos abrir portas nos últimos meses e seremos agora parceiros de empresas referência na distribuição em nossa área de atuação”.

Sem citar nomes, ele disse que os produtos da Caraíba passarão a ser vendidos nas cinco maiores empresas de distribuição do Brasil. “Optamos por tentar trabalhar com as melhores distribuições.

Esse é um mercado que passa por desafios e por uma consolidação. Os últimos dois anos foram desafiadores em termos de margens e inadimplência, é um mercado dinâmico”, afirma.

A presença da Caraíba se concentra, principalmente, no Sudeste e no Centro-Oeste, com algumas incursões mais ao Norte e Nordeste. A estratégia da empresa é buscar competitividade na distribuição, trabalhando com poucos distribuidores quando comparado à concorrência, diz Thomas Britze.

A empresa não deixará totalmente as pequenas revendas. A ideia é manter as parcerias em regiões de boas vendas. “A Caraíba precisa ser conhecida por todos os produtores de soja e milho”, afirmou o vice-presidente comercial e de vendas.

Evolução contínua no portfólio

A gama de produtos atuais da Caraíba, tanto para a soja quanto para o milho, é competitiva, segundo Batistela, mesmo a empresa ainda tendo um tamanho menor quando comparada a gigantes do setor.

Dentre os diferenciais tecnológicos, ele cita que as sementes apresentam resistência a doenças e nematóides, “que todos produtores buscam”. A empresa atua com algumas sementes de soja que já possuem biotecnologia Intacta 2 Xtend, da terceira geração de soja transgênica.

Além disso, a empresa oferece sementes adaptadas às diferentes regiões em que atua. Nesse sentido, a missão de Batistela também passa por preencher lacunas no portfólio e desenvolver produtos para regiões que a Caraíba ainda não tem presença forte, como o Sul, por exemplo.

Marcelo Batistela afirma que a Caraíba pretende estar na vanguarda dos lançamentos biotecnológicos e lançar produtos com novas tecnologias assim que sejam liberadas no Brasil, tanto para a soja quanto para o milho.

Para isso, a empresa faz investimentos relevantes, sobretudo diante do seu faturamento, em persquisa e desenvolvimento. Em 2022, foram investidos R$ 35 milhões. Os valores de 2023 não foram revelados, mas o executivo afirma que está aumentando em 30% a capacidade de testagem de linhagens nas fases iniciais do programa de melhoramento de soja.

Para o milho, as expansões estão na casa de 100% sobre a escala atual. De acordo com Thomas Britze, a empresa não pensa, por enquanto, em atuar em outras culturas além da soja e do milho, mas está atenta a oportunidades de mercado.

“Nosso foco é um crescimento orgânico, mas também olhamos M&As sob uma ótica compradora, pois não temos intenção de vender a empresa”, conclui Britze.