A onda de investimentos na produção de etanol de milho também beneficia, de certa forma, grupos tradicionais da cana-de-açúcar.
A Copersucar, líder mundial em vendas de açúcar e etanol, só produz o biocombustível a partir da cana, mas é dona de 50,01% da Evolua, joint venture criada em 2022 com a gigante da distribuição de combustíveis Vibra, que comercializa o produto oriundo de diferentes players, inclusive das usinas de etanol de milho.
A Evolua foi criada com objetivo de ser a maior comercializadora de etanol do Brasil e hoje já responde por um terço do que é vendido no mercado nacional, cerca de 10 milhões de metros cúbicos ou 10 bilhões de litros.
Pedro Paranhos, CEO da Evolua Etanol, foi um dos painelistas na décima edição do TECO, tradicional evento do setor de etanol promovido pela Novonesis (antiga Novozymes), uma das principais fornecedoras de insumos para o segmento.
Na palestra, ele reforçou números que mostram o forte crescimento da produção de etanol que utiliza o milho como matéria-prima.
O volume previsto (entre cana e milho) para 2024/2025, segundo ele, é de 34 milhões de metros cúbicos. Já em 2034/2035 a produção chegaria a 50 milhões de metros cúbicos, sendo no mínimo 16 milhões somente do etanol de milho (na atual safra são 8 milhões de metros cúbicos feitos a partir do cereal).
Em conversa com o AgFeed, após a apresentação, Paranhos admitiu que o crescimento está beneficiando a Evolua. A receita da empresa este ano deve fechar em R$ 20 bilhões de reais, cerca de 20% de aumento em relação ao ano anterior.
“Esperamos crescer 20% (também) no ano que vem, baseado em crescimento de volume e preços médios mais altos (do etanol)”, afirmou o CEO.
A proposta da Evolua é um modelo de plataforma aberta, que quer comercializar o produto de um número cada vez maior de produtores e distribuidores.
“Todos os produtores de etanol de milho já são grandes fornecedores nossos. Os nossos acionistas não estão (no milho), mas nós, como comercializadora, originamos bastante etanol de milho. Então, a gente cresce junto com este setor”, disse.
Paranhos concordou com análises feitas durante o evento de que a tendência segue de alta para o preço do etanol pelo menos até março do ano que vem.
Porém, demonstrou preocupação com o longo prazo, devido ao aumento significativo na produção que virá dos novos investimentos em etanol de milho.
“Acho que o mercado que tem potencial para absorver uma produção crescente é o mercado de combustível doméstico, através de uma paridade mais favorável”, avaliou. “Por isso precisamos de preços mais competitivos, o que depende do preço da gasolina e do câmbio”.
Segundo ele, apenas 8 estados brasileiros hoje têm essa paridade positiva. Ou seja, neles o etanol custa menos que 70% que a gasolina, portanto, o consumidor tende a optar pelo biocombustível. “Isso precisa ser expandido para que o uso do hidratado seja disseminado em nível nacional”.
Entre os caminhos para melhorar a paridade, o executivo citou a redução de custos na indústria e o desenvolvimento de motores com eficiência maior para o etanol.
Há uma expectativa de maior demanda internacional, especialmente quando o etanol passar a ser usado na fabricação de SAF, combustível sustentável de aviação, mas Pedro Paranhos acredita que este é um processo ainda lento.
“O que a gente vê é que os grandes projetos de SAF, nos Estados Unidos e na Ásia, não sairão antes de 2030. Antes você pode ter volumes mais incrementais, não são volumes mais estruturais que mudam patamar de demanda”, explicou.