Itaí (SP) - Choveu uma semana sem parar em Itaí e Taquarituba, no sudoeste paulista. Foram quase 300 milímetros acumulados. Uma bênção para produtores locais após um severo período de estiagem que atrasou o plantio da safra de verão. Mas a chuva também tirou o sono de Danilo Martineli.
No comando das operações do Grupo Ioshida, o agrônomo e gerente de produção planejava como colher 150 hectares de feijão, cujos grãos já começam a brotar com tanta umidade. A área foi plantada com irrigação e a seca, comum durante o desenvolvimento, deu uma trégua justamente na hora da colheita.
A aposta é que estiagem esperada para esta semana ajude a entrada das máquinas na lavoura e, mesmo com uma perda de produtividade, a colheita do feijão seja feita.
A estratégia de não colocar todos os ovos em um único cesto mitigou esse problema dentro do Grupo Ioshida, um dos maiores do Estado de São Paulo. Além do feijão, tem soja, milho, trigo, aveia, cevada, sorgo, arroz, laranja, batata e até um pouco de gado confinado.
São 14 mil hectares cultivados anualmente em mais de uma safra e uma área estática de 7,5 mil hectares em um raio de 150 quilômetros.
Foi com a batata que tudo começou, em 1958, quando o imigrante Iashumaro Ioshida iniciou seu cultivo em terras paulistas. Desde então, seguindo o mantra da diversificação e da estabilidade, as operações só cresceram.
“A diversificação manteve a estrutura, estabilizou e consolidou o grupo”, diz Martineli, durante visita de jornalistas a fazendas e ao centro administrativo e processamento de batatas do Grupo Ioshida, em Itaí e Taquarituba.
“É um exemplo. A gente aprende com eles. Olhamos como se organizam e oferecemos tecnologia na parceria”, emenda Daniela Ferreroni, diretora de vendas da Basf, que realizou o encontro.
Batata e laranja têm, literalmente, salvado a lavoura nos últimos tempos. Com preços muito remuneradores, as culturas, entre as poucas ainda colhidas manualmente e sujeitas à escassez de mão-de-obra, têm sido as mais rentáveis do Grupo Ioshida.
Batata e laranja enfrentam também um complexo processo produtivo. Antes de chegar às gôndolas do varejo, o tubérculo passa por um ciclo de quatro anos. Tudo começa com a importação de uma matriz da Holanda, passa por três plantios para a multiplicação, pelo armazenamento em câmaras e, no final, por uma lavagem e separação e ensacamento.
Laranja só começa a produzir comercialmente após mais de dois anos e é sensível às pragas e doenças de uma cultura oriunda da China, mas que tem no Brasil o maior pomar do mundo. Hoje, as duas culturas compensam perdas pontuais como as previstas para a área de feijão e preços pouco remuneradores da soja.
O desenvolvimento da oleaginosa, aliás, vai muito bem obrigado. Tanto nas áreas plantadas há dois meses e que serão colhidas a partir de janeiro, como nas semeadas há três semanas. Outras áreas mais tardias de feijão também seguem firmes e esperam contar com outros períodos de estiagem para serem colhidas.
Diversificação e mitigação caminham lado a lado com o processo de consolidação do grupo, após crescer por meio de compras e arrendamentos. O último foi uma área de 1,9 mil hectares, em dezembro de 2022, explica Martineli.
Segundo ele, por trás de cada avanço houve o cuidado de avaliar se uma área tem água abundante disponível em rios ou represas.
“Agora é a hora de consolidação de investimentos e garantir a estabilidade do grupo”, concluiu.