Geralmente, quando se pensa em Bolsa de Valores no Brasil, os primeiros nomes que vêm à cabeça são das chamadas blue chips, as ações mais negociadas do mercado. Vale, Petrobras, Itaú e Bradesco, por exemplo.
Mas se o critério é tradição, a Dexco está à frente de todas elas. É a segunda empresa mais longeva listada na B3, com mais de 75 anos de história. Só está atrás da Alpargatas. Ambas são controladas pela holding Itaúsa, que também comanda o banco Itaú Unibanco.
A empresa recentemente fez uma reestruturação, inclusive com mudança de nome. A Dexco é a antiga Duratex e se aproxima do grande público por marcas como Deca, Hydra e Portinari.
Mas o negócio mais forte da Dexco está nas florestas. Os painéis de madeira e a celulose solúvel, essa última área com início de atuação bem recente, representam mais de 70% do faturamento em 2023, até setembro.
E a companhia tem feito e ainda fará investimentos pesados nesse segmento, tomando principalmente dois caminhos. Enquanto trabalha no crescimento de uma área florestal no estado de Alagoas, a única que atualmente não tem uma fábrica da empresa, a Dexco tem R$ 250 milhões investidos em empresas voltadas para inovação, por meio de um fundo de Venture Capital.
A floresta em Alagoas está com uma área de 18 mil hectares, mas vai mais do que dobrar de tamanho. “Chegaremos a 40 mil hectares nos próximos três ou quatro anos”, afirma Henrique Haddad, diretor vice-presidente de Madeira da Dexco.
A área foi adquirida pela joint venture Caetéx, formada com a Usina Caeté, de Alagoas, em 2014, com investimento inicial de R$ 72 milhões. A Dexco possui 60% de participação na empresa.
Por enquanto, a companhia vende a madeira produzida ali, seja ainda na forma de árvore, ou “em pé”, como se fala no setor, ou na forma de cavaco, que é a madeira já triturada, que pode ser usada como fonte de energia.
“O preço da madeira subiu muito nos últimos anos. Antes da pandemia, estava em uma média de R$ 45 o metro cúbico. Agora, está acima dos R$ 200”, conta Haddad.
Mas a ideia é seguir a estratégia usada pela empresa, que tem florestas onde estão localizadas as fábricas. Produzir o quê? “Ainda não definimos o que faremos lá. Mas antes de atingir a área de 40 mil hectares, vamos ter essa decisão”, diz o VP de Madeira da Dexco.
Entre as opções para a área de Alagoas estão uma fábrica de painéis, de celulose sintética ou outro tipo de atividade ainda em crescimento na companhia.
O segmento mais recente de atuação da Dexco é o de celulose solúvel. Em 2019, a empresa firmou outra parceria, desta vez com a austríaca Lenzing, para forma a LD Celulose.
A fábrica e a área florestal dessa companhia ficam na região de Uberlândia, Minas Gerais, entre as cidades de Indianópolis e Araguari. Foram quase US$ 1,4 bilhão investidos pelas companhias, na qual a Dexco tem 49% de participação.
A LD produz uma celulose que é utilizada pela indústria têxtil, na fabricação de roupas de viscose. “Concorrente do algodão”, descreve Haddad.
“Os resultados que estamos conseguindo lá, com pouco mais de um ano de operação, tem até nos surpreendido. Inclusive na qualidade do material, que já tem uma certificação de nota máxima”, diz o executivo da Dexco.
As operações da LD Celulose começaram no ano passado, e os primeiros resultados foram divulgados no balanço do quarto trimestre de 2022. Em 2023, até setembro, a atividade já se tornou a segunda mais importante em faturamento do grupo, chegando a R$ 1,8 bilhão em nove meses.
Ainda sobre as florestas, Haddad acredita que os grandes desafios estão relacionados à produtividade e à ampliação de área.
“Nós temos investido para desenvolver variações de árvores mais produtivas. Inclusive fazendo clones. Temos cerca de 900 unidades de árvores que foram clonadas pensando na produtividade”.
Em área, Haddad já visualiza problemas para ampliar as florestas da Dexco. “Foi um dos pontos que nos motivou a comprar essa área em Alagoas. Se olhar para o eixo do Centro-Sul, temos uma concorrência forte com grandes produtores de grãos, por exemplo”.
Madeira no lugar de concreto
Quando se trata de inovação, a Dexco adota a estratégia de investir em startups. O fundo de Venture Capital da companhia tem R$ 150 milhões em aportes feitos, segundo Lucas Machado, gerente de Inovação e DX Ventures da companhia.
“Temos participação em uma empresa, a Noah, de construção, que utiliza madeira para fazer as estruturas de um prédio, como viga”, explica Machado.
A Noah é responsável, por exemplo, pelo projeto da loja da rede de lanchonetes McDonald’s localizada na Avenida Paulista, em São Paulo. “Estudos mostram que a construção civil responde por cerca de 40% da emissão de carbono no Brasil. E boa parte desse montante vem da indústria de cimento. A madeira captura, e ‘congela’ o carbono quando utilizado”, diz o gerente de inovação da Dexco.
Outra empresa investida pela Dexco é a Brasil ao Cubo, que atua com construções modulares. A empresa faz uma espécie de pré-construção, e depois monta o espaço no local do imóvel.
A empresa foi responsável inclusive pela instalação do espaço de 100 leitos no hospital municipal do M’Boi Mirim, em São Paulo, que é administrado pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
“Era para ser um hospital de campanha durante a pandemia de Covid-19. Mas os leitos estão lá até hoje”, diz Haddad.
Fora do fundo, a Dexco tem um aporte de R$ 100 milhões que feito na rede de varejo ABC da Construção.
“Além do aporte, nós somos bem atuantes nas empresas. Fazemos parte dos conselhos, ajudamos com redes de contatos. E para nós, tem dado certo fazer esse investimento em inovação fora de casa”, diz Machado.