A produção de amendoim no Brasil está em fase de crescimento, e o ritmo é acelerado. Entre 2015 e 2022, a produção triplicou, passando de pouco mais de 400 mil toneladas para 1,2 milhão de toneladas.
Mais ainda é pouco para o potencial planejado pela CRAS Brasil. Fundada em 2011, a empresa é líder na exportação de óleo de amendoim para China, com participação de quase 26% neste mercado no Brasil. E quer que os produtores plantem mais para poder vender mais.
Em 20 anos, a participação do amendoim nas exportações brasileiras cresceu quase 100 vezes. Hoje o país é o 7º maior exportador do produto, com 8% do mercado global.
Rodrigo Chitarelli, fundador e CEO da CRAS, afirma, no entanto, que o Brasil pode subir mais neste ranking. “A China consome 3 milhões de toneladas de óleo de amendoim por ano e importa somente 10% disso. Se aumentar a produção, as importações também sobem”.
Para ampliar a área plantada no Brasil, a CRAS desenvolveu, juntamente com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) novas variedades e linhagens de sementes de amendoim.
“Esta nova variedade diminui o tempo de produção em 30 dias, passando de 140 dias para 110 dias. Isso viabiliza uma diversificação de culturas para quem planta cana, por exemplo. E o amendoim é mais rentável que a soja”, explica Chitarelli.
A citação do produtor de cana de açúcar acontece porque 90% da produção brasileira de amendoim está em São Paulo, onde a oleaginosa é plantada em sistema de rotação de culturas com a cana.
Nos últimos anos, de olho na rentabilidade, muitos agricultores trocaram o amendoim pela soja, que também traz benefícios no sistema de rotação. Agora, em busca de mais produto para exportar, Chitarelli aconselha que refaçam as contas e voltem a optar pelo amendoim.
O fundador da CRAS fez um levantamento que compara o retorno por hectare dos dois produtos. Segundo ele, a margem do produtor de soja é de R$ 751,52 por hectare, ou 9,87% do faturamento total. No caso do amendoim, esse valor por hectare é de R$ 2.459,27, ou 15,69% da receita.
A evolução na produção também diminui um problema que sempre marcou o produto. “O amendoim possui uma microtoxina. Sempre foi muito comum usar para produção de óleo e farelo um subproduto resultante da confeitaria. Nós usamos um amendoim de qualidade, e isso diminui bastante a presença desta toxina”, diz Chitarelli.
Outras vantagens apontadas pelo executivo nesta nova variante é que ela permite uma recuperação melhor da área plantada que outras oleaginosas e é mais resistente.
A CRAS tem uma fábrica para processamento de amendoim na cidade de Itaju, que fica na região de Bauru, no interior de São Paulo. Segundo Chitarelli, a unidade emprega 85 pessoas, e tem estrutura própria. A CRAS tem um escritório sede no Rio de Janeiro.
Madeira no Pará
Enquanto atua com amendoim em São Paulo, a CRAS tem uma unidade para processar madeira no Pará. A empresa também atua diretamente neste segmento, com uma unidade de 120 mil metros quadrados em Belém.
Chitarelli explica que a madeira que serve de matéria-prima para a produção da CRAS é fruto de manejo florestal. Isso quer dizer que toda a extração é feita de maneira legal, sustentável e fiscalizada constantemente pelo IBAMA.
“Há toda uma discussão sobre desmatamento, mas o manejo atua em 1% do bioma da Amazônia. E quando bem feito, não tem nada de prejudicial”, diz o empresário.
Ele afirma que o sistema segue uma lógica de tirar madeira de árvores mais antigas e abrir espaço para o crescimento de outras mais jovens.
“Claro que quando você corta uma árvore de 400 anos, não haverá outra no lugar em 30 anos. Mas abaixo desta, tem outras com 150, 200 anos, e estas ganham mais espaço”.
A CRAS produz diversos itens com espécies como Jatobá, Cumaru, Ipê, Maçaranduba, Garapa e Angelim-vermelho, entre outras.
“Importante dizer que os materiais feitos de madeira têm uma longa durabilidade. E mesmo em forma de portas, continua captando carbono da atmosfera, ao contrário de materiais feitos com alvenaria ou pedras”, diz Chitarelli.
A empresa processa cerca de 20 mil metros cúbicos por ano em sua fábrica no Pará.
Resultados em evolução
No ano passado, a CRAS conseguiu um lucro líquido de R$ 52 milhões, a partir de uma receita de R$ 447 milhões. A margem líquida subiu de 8% em 2021 para 12% em 2022. No caso da margem Ebitda, o avanço foi de 10% para 18%.
O fundador da empresa afirma que esta melhora foi fruto de uma mudança na estratégia. “Nós diminuímos nossa atuação na intermediação de exportação e importação (trading), que dá mais receita, mas com margem menor”.
Ele afirma que o caixa que seria investido na atividade de trading foi direcionado para processamento de amendoim, responsável por 80% do faturamento, e madeira, atividades mais rentáveis.
Ele projeta que a CRAS terá lucro novamente em 2023, mas com uma queda em relação a 2022, por conta das despesas financeiras. “Os bancos triplicaram o custo do crédito”, afirma.